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Sumo de maçã, gengibre e canela “emagrece e queima gordura”?

4 Fev 2023 - 09:44
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Sumo de maçã, gengibre e canela “emagrece e queima gordura”?

Publicações nas redes sociais alegam que é possível emagrecer graças a um sumo de maçã, gengibre e canela. Mas será mesmo assim?

sumo de maçã, gengibre e canela
São muitos os sumos que surgem pela internet e que prometem fazer emagrecer. Neste caso, bastariam seis ingredientes – água; açúcar; canela; gengibre; maçã e limão – para termos um precioso aliado no emagrecimento. A questão que se impõe é: resulta?

A receita

Pedimos à nutricionista Catarina Custódio que analisasse esta receita e há, desde logo, dois pontos importantes a assinalar.

Um deles é o açúcar adicionado. “A adição de duas colheres de sopa de açúcar deixa logo de fazer muito sentido. Estamos a adicionar umas 160 calorias extra que nem têm interesse nutricional”, realça Catarina Custódio.

Outro ponto é a ingestão de duas peças de fruta de uma só vez num sumo. Quem está a tentar emagrecer tem de fazer uma boa gestão do total de calorias diárias. Por isso, usar duas maçãs num sumo pode não ser a opção mais benéfica.

Um sumo acaba por causar menos saciedade à pessoa (do que um alimento sólido). É muito provável que ela fique com fome novamente mais cedo”, salienta Catarina Custódio. Um estudo realizado em 2018 corrobora esta afirmação.

A comida sólida é mais saciante porque contém fibras e proteínas, que são importantes devido às suas propriedades de redução de apetite, tal como é abordado neste estudo de 2014.

A nutricionista dá ainda um exemplo que satisfaz mais: associar uma peça de fruta a um laticínio ou similar. Esta é apenas uma das opções e deve ser sempre adaptada à realidade de cada um.

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Mas o sumo de maçã, gengibre e canela é eficaz no emagrecimento?

Não existe evidência científica que sugira que o sumo de maçã, gengibre e canela ajude a emagrecer ou a queimar gordura. Aliás, Catarina Custódio deixa um alerta: “Se queremos perder massa gorda, emagrecer, não há nenhum sumo deste género que vá resultar”.

E nem sempre aquilo que parece ser uma recomendação inocente e credível corresponde à realidade.

A nutricionista explica que, muitas vezes, as pessoas que fazem publicidade a este tipo de sumos ou batidos têm uma agenda – às vezes até associada a algum tipo de suplemento – como estratégia de marketing para ganhar dinheiro.

Se não resultam porque é que se fala tanto deste género de sumos?

“É muito mais apelativo, muito mais sexy, haver um sumo milagroso ou um produto milagroso que vai fazer efeito”, diz Catarina Custódio.

Este tipo de discurso é perigoso e cria uma ideia errada. A nutricionista destaca o quão frustrante pode ser para algumas pessoas seguirem este tipo de tendências e não verem os resultados, acabando por não perceber o porquê de não emagrecerem.

Além disso, quem ingere este tipo de sumos até pode obter resultados na perda de massa gorda, mas será por razões associadas à adoção de um estilo de vida saudável e não devido à ingestão dos sumos em si.

O que é o efeito termogénico de que a publicação fala? Existe mesmo?

Os termogénicos são substâncias que aceleram as reações metabólicas do organismo, elevando a temperatura corporal. Aumentam o gasto calórico basal, que é a energia necessária para o nosso corpo manter funções essenciais como a respiração, o batimento cardíaco e a manutenção da temperatura do organismo.

Existem alguns alimentos com efeito termogénico como o gengibre, o chá verde, a cafeína e a pimenta.

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Há algum efeito substancial na utilização destes alimentos termogénicos?

Estes alimentos, por si só, não vão trazer resultados. Tem de haver um défice calórico aliado à prática de exercício físico e a uma boa alimentação.

Catarina Custódio indica que o efeito existe, mas que a magnitude é muito pequena e que não causa um impacto real. Além disso, as doses necessárias a consumir para haver efeito são, por vezes, altas e difíceis de atingir com uma alimentação normal.

Os estudos que se fazem nestes casos nem sempre são muito robustos cientificamente, alerta a nutricionista. Por esse motivo, não devem ser interpretados cegamente.

O que ajuda, de facto, a emagrecer?

A perda de peso pode envolver tanto perda de massa gorda como de massa muscular. Por norma, não é perda de massa muscular que se pretende.

Quando falamos de emagrecimento estamos a referir-nos à perda de massa gorda. E para uma pessoa perder massa gorda é preciso avaliar quais são as suas necessidades energéticas diárias.

Posto isto, para emagrecer é necessário que a pessoa esteja em défice calórico, ou seja, que ingira menos calorias do que aquelas que se gastam.

Isto deve ser feito de uma forma saudável, sem cortar grupos de alimentos. Esse corte de grupos alimentares pode até levar a perdas de peso muito acentuadas, mas que se traduzem numa perda de massa muscular também. Por outro lado, pode haver também uma grande redução nos níveis de energia e um aumento do cansaço e da frustração.

Resultado: as pessoas não conseguem manter estes défices energéticos durante muito tempo e acabam por voltar aos hábitos alimentares anteriores e podem até passar a comer mais do que comiam antes da dieta. Esta restrição pode, em alguns casos, estar na origem de perturbações do comportamento alimentar, como a Perturbação da Ingestão Alimentar Compulsiva (Binge Eating Disorder, em inglês).

É importante ter em conta que os sumos não devem substituir refeições. A chave para bons resultados, segundo os especialistas, é uma alimentação variada e equilibrada, aliada à prática de exercício físico regular.

Um processo de défice calórico deve ser feito de forma adequada, ajustada à pessoa, de modo a que ela o consiga fazer sem grandes restrições. Para saber a melhor forma de o fazer deve recorrer à ajuda de um nutricionista.

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