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Fruta tem de ser sempre consumida com outros alimentos?

Numa publicação de Facebook é afirmado que se “deve comer a fruta com outro alimento” e que, se esse outro alimento for “ricos em fibra, óleo vegetal ou proteína”, irá “atrasar a digestão e absorção”. Mais se escreve que “ingerir vários tipos de fruta” ou “conjugar fruta com alimentos que contenham açúcar e outros hidratos de carbono” vai estimular “a formação de gordura”. Verdadeiro ou falso?

16 Nov 2022 - 08:00

Fruta tem de ser sempre consumida com outros alimentos?

Numa publicação de Facebook é afirmado que se “deve comer a fruta com outro alimento” e que, se esse outro alimento for “ricos em fibra, óleo vegetal ou proteína”, irá “atrasar a digestão e absorção”. Mais se escreve que “ingerir vários tipos de fruta” ou “conjugar fruta com alimentos que contenham açúcar e outros hidratos de carbono” vai estimular “a formação de gordura”. Verdadeiro ou falso?

A publicação surge como uma “dica”: “Deve comer a fruta com outro alimento e de preferência num lanche da manhã ou da tarde”. O post destaca os “alimentos ricos em fibra, óleo vegetal ou proteína”, pois estes vão, supostamente, “atrasar a sua digestão e absorção”. No texto é ainda aconselhado “evitar ingerir vários tipos de fruta ao mesmo tempo ou conjugar fruta com alimentos que contenham açúcar e outros hidratos de carbono”, justificando que o “corpo obterá demasiado açúcar, estimulando a formação de gordura”. Confirma-se?

Fruta deve ser acompanhada obrigatoriamente de outro alimento?

A premissa principal da publicação – de que se “deve comer fruta com outro alimento” – não tem base científica. Inês Mazagão, nutricionista na Nordic Clinic Porto, explica ao Viral que “não é obrigatório acompanhar uma peça de fruta com outro alimento, não havendo evidência científica que aponte essa prática como regra”. Porém, existe verdade em algumas das afirmações apresentadas no post.

Sobre a alegação de que conjugar fruta “com alimentos ricos em fibra, óleo vegetal ou proteína”, a especialista reconhece que estes componentes vão ter impacto na velocidade a que a digestão ocorre. Por exemplo, os frutos oleaginosos (amendoins, amêndoas, etc.) têm uma quantidade de gordura mais elevada e, por isso, podem tornar a digestão mais lenta.

“A gordura tem a capacidade de atrasar o esvaziamento gástrico. Isto é, a velocidade com que açúcar da fruta vai demorar a efetuar o trajeto gástrico até à sua absorção para a corrente sanguínea (no intestino) é menor”, prossegue a nutricionista, o que poderá permitir que as pessoas se sintam “mais saciadas”.

A glicose é utilizada pelo organismo como fonte de energia: durante a digestão, os alimentos ricos em açúcar ou hidratos de carbono disponibilizam glicose para o sangue, fazendo subir a taxa de glicemia. Esta glicose será depois conduzida para as células pela enzima insulina, libertada pelo pâncreas durante o processo digestivo.

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Por isso, é verdade que comer frutas diferentes ou juntar à fruta um alimento rico em açúcar ou hidratos de carbono faz subir os níveis de açúcar no sangue – ou glicemia. No entanto, ao contrário do que é alegado na publicação, é falso que esta prática, por si só, vá aumentar a produção de gordura.

Pode misturar-se frutas diferentes?

“Não há problema nenhum em misturar fruta”, explica Inês Mazagão, lembrando que, “auando misturamos diferentes tipos de fruta, tendemos a comer uma porção maior do que se comêssemos uma fruta isolada.” O mesmo se aplica quando se ingere fruta juntamente com outros alimentos ricos em hidratos de carbono ou açúcar.

A situação é ligeiramente diferente quando se fala de uma salada de fruta: a fruta descascada e cortada vai libertar uma calda açucarada que “tem um nível de índice glicémico superior a comer uma peça de fruta”. Neste caso, a quantidade de açúcar ingerida poderá fazer subir mais rapidamente os níveis de glicemia no sangue do que se ingerir duas ou três peças de fruta em conjunto.

“A estimulação da produção de gordura não acontece por estarmos a comer várias peças de fruta ou uma fruta e uma bolacha”, prossegue a nutricionista, mas sim “quando há uma maior ingestão energética do que aquela de que nós necessitamos de forma global”.

Quando a ingestão de glicose é superior à necessária para energizar o corpo, o fígado irá armazená-la para usar mais tarde sob a forma de glicogénio. No entanto, estas reservas têm uma capacidade limitada e, ao serem ultrapassadas, o corpo passa a produzir células adiposas, ou seja, gordura.

A combinação alimentar mais adequada depende do objetivo de cada indivíduo. Um atleta, por exemplo, pode precisar de “um fornecimento de açúcar mais rápido” e, por isso, poderá fazer sentido ingerir uma “peça de fruta de alto índice glicémico isoladamente em momentos chave do treino ou eventos competitivos”. 

Por outro lado, “se um dos objetivos propostos em consulta com o paciente for controlar a absorção de açúcar em todas as refeições”, pelo contexto clínico apresentado, “pode fazer sentido usar esta estratégia [referida na publicação]”, afirma a nutricionista.

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Há horas específicas para comer fruta?

Sobre a “dica” de que se deve comer fruta “num lanche da manhã ou da tarde”, a nutricionista volta a afirmar que “não há regras nem deveres quando falamos de nutrição, mas sim um contexto e prática clínica individualizada”. 

Ainda assim, ressalva, “comer uma fruta a meio da manhã e a meio da tarde será uma boa forma de incluir a riqueza das vitaminas, minerais antioxidantes, fibra e água nessas refeições”, aproximando-se dos valores recomendados para a ingestão de frutas, ou seja, entre três a cinco porções por dia.

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Alimentação

16 Nov 2022 - 08:00

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