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Dia Mundial da Saúde: 7 hábitos modernos que prejudicam o corpo e a mente

7 Abr 2024 - 09:53

Dia Mundial da Saúde: 7 hábitos modernos que prejudicam o corpo e a mente

O avanço tecnológico e a evolução da sociedade seguem a um ritmo e a uma velocidade estonteante que, para muitos, até pode ser difícil de acompanhar. Mas se, por um lado, a tecnologia tem contribuído para importantes avanços na área da saúde, por outro, tem facilitado a adoção de uma série de hábitos modernos prejudiciais ao corpo e à mente. No Dia Mundial da Saúde, o Viral reuniu sete deles.

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1 – Passar muitas horas sentado e não fazer atividade física

hábitos modernos prejudiciais à saúde

Nas últimas décadas, o panorama laboral mudou significativamente: cada vez mais pessoas trabalham numa secretária e passam todo o dia sentadas em frente a um computador. 

Além disso, as deslocações para o trabalho fazem-se, por norma, de carro ou em transportes e, quando se chega a casa, a busca pelo descanso acontece no sofá.

O sedentarismo é identificado em muitos países como um problema de saúde pública, chegando a ser considerada a doença do século XXI

Paulo Santos, especialista em Medicina Geral e Familiar e professor na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), sublinha que o sedentarismo é um “fator de risco muito significativo para o aparecimento de doença”, podendo estar associado a obesidade, diabetes, doença cardiovascular e até cancro.

Além disso, o excesso de tempo sentado e a utilização das novas tecnologias estão também associados a más posturas. Isto aliado à inexistência de atividade física pode levar a uma “falta de estímulo muscular”, aumentando o risco de “desenvolver problemas de artrose e de comprometimento do sistema osteoarticular”, prossegue o médico.

“É uma condição que, embora não mate, provoca objetivamente uma grande incapacidade nas pessoas”, afirma o médico. 

Um estudo realizado na Universidade da Indonésia durante a pandemia de Covid-19 identificou uma relação entre a utilização prolongada de smartphones e tablets e o desconforto musculoesquelético: 70,5% dos alunos, professores e funcionários da instituição reportaram queixas, sendo o pescoço (86,4%), a lombar (75,9%) e os ombros (76,2%) as zonas mais afetadas.

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Mas o sedentarismo não tem só consequências a nível físico, podendo também comprometer a confiança pessoal e provocar danos na autoestima. Quem o diz é Miguel Ricou, presidente do Conselho de Especialidade de Psicologia Clínica e da Saúde da Ordem dos Psicólogos Portugueses. 

“Uma saúde física adequada está associada à ideia de conseguir fazer qualquer coisa, faz-nos sentir poderosos fisicamente e com maior capacidade de confiança”, afirma o psicólogo. 

Miguel Ricou lembra também que o bem-estar está associado às duas dimensões da pessoa (mental e física), o que significa que, quando “não nos sentimos bem fisicamente, não nos vamos sentir bem mentalmente”. 

2 – Adormecer a mexer no telemóvel e levar as preocupações para a cama

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Já deve ter ouvido dizer que utilizar aparelhos tecnológicos antes de ir dormir pode interferir com a qualidade do sono. Mesmo perante os alertas dos médicos, muitas pessoas continuam a levar o telemóvel para a cama e a utilizá-lo momentos antes de fecharem os olhos. Há também quem durma regularmente com a televisão ligada ou a ouvir podcasts.

“Está mais do que demonstrado que a exposição constante aos ecrãs pode alterar o ciclo circadiano, provocando problemas de sono e dificuldades em adormecer”, afirma Miguel Ricou, sublinhando que “quem tem dificuldades de sono tem de ter mais cuidado com estas questões”.

Um dos problemas associados à utilização de aparelhos tecnológicos antes de dormir é o impacto que a luz azul tem na qualidade do sono. 

Um ensaio clínico randomizado, publicado em 2017, concluiu que o “uso de luz azul LED dos smartphones à noite poderá influenciar negativamente o sono”, apesar de não terem sido identificadas “alterações significativas nos níveis de melatonina e de cortisol”. 

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Além do impacto da luz, os próprios conteúdos das redes sociais são pensados para “captar a atenção” do utilizador, o que irá fazer com que o cérebro se mantenha “sempre ativo” em vez de se preparar para iniciar o sono.

“Se estou constantemente a ver conteúdos, nas redes sociais e na internet, feitos para captar a minha atenção, vou estar a excitar o cérebro”, explica o psicólogo.

Paulo Santos lembra que não são apenas as tecnologias que interferem com os padrões de sono. Também “as preocupações do dia a dia são levadas para a cama”, impedindo as pessoas de “desligar” e descansar. Esta situação pode também contribuir para maiores níveis de “ansiedade e burnout”.

“Uma noite mal dormida significa um dia mal acordado”, remata o professor.

As alterações nos padrões de sono e uma menor qualidade de descanso noturno estão também associados a padrões alimentares menos saudáveis e a um aumento do risco de obesidade.

O nutricionista José Camolas, membro do Conselho Geral da Ordem dos Nutricionistas e professor na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e no Instituto Egas Moniz, explica que, perante uma noite mal dormida, o organismo vai “tentar compensar” durante o dia, por meio de um “aporte adicional de energia, privilegiando alimentos com mais gordura, sal ou açúcar”. 

Um estudo que analisou a relação entre as horas dormidas e o risco de obesidade nos jovens concluiu que “existe evidência forte que demonstra que um sono insuficiente leva a obesidade e está associado com uma longa lista de problemas de saúde”. 

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Os investigadores destacam ainda que “uma boa noite de sono pode melhorar o sucesso das intervenções para perda de peso ao facilitar o controlo do apetite e alimentar os níveis de atividade física em alguns indivíduos”.

3 – Abusar do multitasking ou trabalhar demasiadas horas

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Fazer uma tarefa, preparar outra, atender o telemóvel e enquanto responde a um e-mail. O multitasking (fazer mais do que uma tarefa ao mesmo tempo) é cada vez mais um requisito para os trabalhadores, que são sucessivamente pressionados a produzir mais e mais. O teletrabalho – motivado pela pandemia de Covid-19 – também contribuiu para que houvesse uma maior disponibilidade do trabalhador, potenciando mais horas de trabalho diário. 

Mas esta situação pode ter consequências psicológicas e físicas. Miguel Ricou sublinha que, “quanto mais trabalhamos e mais tarefas fazemos, maior é a probabilidade de não as conseguirmos fazer bem”, o que pode levar a um “aumento dos níveis de stress negativo”. 

Elevados níveis de stress – seja relacionado com o trabalho ou com outros fatores do dia a dia – ativam “um conjunto de hormonas que podem criar doença”, acrescenta Paulo Santos, baseando-se em estudos sobre o assunto. 

Entre as doenças associadas ao stress está a obesidade, a doença cardiovascular, alterações a nível do sistema imunológico e depressão.

“Estamos muito mais pressionados pelo ritmo da produtividade hoje em dia. É preciso que as pessoas encontrem mecanismos para descarregar o stress e conseguir uma vida com saúde”, prossegue o médico.

É importante ressaltar que as pessoas são todas diferentes e o facto de se “trabalhar muito, por si só, não é mau”, afirma Miguel Ricou. Depende sempre do “significado que cada um dá ao trabalho”.

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Ou seja, se a pessoa “tirar prazer do trabalho e conseguir fazer as coisas bem feitas”, o benefício será maior do que o custo e poderá levar a uma “sensação de realização e prazer”. Por outro lado, se a pessoa não conseguir cumprir os objetivos, irá prevalecer uma sensação de insatisfação.

“No fundo, está relacionado com a forma como se faz a gestão do custo-benefício do trabalho”, remata o psicólogo. Se o custo for sucessivamente maior que o benefício, a pessoa começa a sentir-se desgastada perante as atividades laborais, podendo desencadear-se uma situação de burnout

4 – Comer refeições prontas e ultraprocessados regularmente

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Na correria dos dias, as refeições pré-cozinhadas e os alimentos ultraprocessados podem facilitar algumas tarefas. Mas ser mais fácil nem sempre significa ser melhor: uma frase que se pode aplicar aos alimentos ultraprocessados.

José Camolas lembra que processar os alimentos é uma prática comum – como, por exemplo, o ato de cozinhar os alimentos – e que tem benefícios para a saúde. O problema surge quando existe um ultraprocessamento de um alimento, ou seja, quando a lista de ingredientes adicionados ultrapassa vastamente o que seria necessário para o produzir.

Os aditivos podem ter vários objetivos: conservar o alimento por mais tempo, aumentar o sabor, melhorar a textura ou até dar uma cor mais atrativa ao alimento. Nos supermercados as opções são muitas.

“O processamento excessivo parece estar associado a obesidade, doença cardiovascular, cancro e até ao aumento da mortalidade”, explica o nutricionista, salientado que os estudos existentes mostram uma relação e não uma relação de causa-efeito.

O médico Paulo Santos lembra que, no que à alimentação diz respeito, existem “três inimigos” da saúde: o excesso de sal, as gorduras saturadas e o açúcar. Tanto o sal como as gorduras saturadas são utilizados como um elemento de conservação nos produtos ultraprocessados, tornando-os menos interessantes a nível nutricional.

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José Camolas acrescenta que uma alimentação à base de alimentos ultraprocessados é também associada a uma dieta de menor qualidade nutricional, com impacto na microbiota intestinal, o que potencia o aparecimento de doenças.

Ambos os profissionais de saúde destacam o problema da contaminação dos alimentos por microplásticos – pequenos plásticos com tamanho inferior a cinco milímetros. As embalagens das refeições pré-cozinhadas (normalmente descartáveis) e os plásticos que envolvem os produtos de fast food podem ser veículos de contaminação dos alimentos por microplásticos.

5 – Comparar-se aos outros nas redes sociais

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As redes sociais são uma montra para as vidas das outras pessoas – sejam amigos, personalidades famosas ou influenciadores digitais.

Se, por um lado, estas aplicações podem ser positivas para manter o contacto com amigos, inspirar-se no estilo alheio ou seguir conselhos de viagens, abrem também portas a uma constante comparação – tanto dos padrões de beleza como dos estilos de vida.

Miguel Ricou começa por dizer que a comparação “é a coisa mais natural do mundo”, mas admite que pode tornar-se negativa se “estiver associada a um valor”. Ou seja, as pessoas que se sentem “diminuídas” ou têm “uma má imagem” de si próprias têm tendência a usar a comparação para validar estes sentimentos negativos.

No mesmo sentido, Paulo Santos afirma que o “problema é quando a comparação impacta a pessoa”, ou seja, quando a “diferença entre o que se é e o que se acha que se devia ser” provoca tristeza.

Quando associada a pensamentos negativos, a comparação com os outros pode aumentar o risco de doença, tais como depressão ou distúrbios alimentares.

“O estereótipo de beleza traz um ónus de estigmatização para quem se afasta destas normas”, afirma José Camolas, sublinhando que o estigma é mais intenso quando “olhamos para algumas doenças, como a obesidade”.

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A busca pelo corpo ideal poderá levar a pessoa a querer “perder peso a qualquer custo”, aumentando os riscos para a saúde.

Também a anorexia nervosa e a bulimia podem estar associadas a uma “pressão social e da imagem” – muito presente nas redes sociais. Esta pressão pode fazer com que a pessoa “ande atrás de um ideal que nunca vai conseguir alcançar”.

Esse ideal pode até não existir: muitas vezes, os conteúdos partilhados não representam o real, mas sim um “embelezamento da vida das pessoas”, lembra Miguel Ricou. Podem, inclusive, ter sido utilizados filtros nas fotografias ou técnicas de manipulação das imagens.

6 – Viver isolado ou afastado da comunidade

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O avanço da tecnologia permitiu ter o acesso ao mundo no próprio bolso. O contacto constante e a comunicação à distância foram facilitados, mas, ao mesmo tempo, pode haver alguma tendência para algumas pessoas se afastarem das interações presenciais e isolarem-se. A solidão é um problema que tem consequências na saúde física.

Miguel Ricou lembra que os humanos são “seres sociais” que se “constroem através dos outros”. 

“O grande desenvolvimento do Homem é social. Se um bebé estiver privado da socialização, não vai aprender a andar ou a falar”, acrescenta.

Um estudo publicado em 2021 analisou o comportamento de jovens adultos que utilizam frequentemente smartphones e redes sociais perante a experiência da solidão. Apesar de as redes sociais poderem “melhorar o nosso humor” durante períodos de isolamento, “o uso crónico dos aparelhos quando se está sozinho pode inibir o desenvolvimento identitário e outras tarefas de desenvolvimento psicológico”.

Quando a tecnologia se torna a principal forma de socializar, perde-se o hábito de interagir com a pessoa e isso pode criar “uma sensação de estranheza”, refere Miguel Ricou. A pessoa deixa de estar “habituada” a interagir, o que implica um maior esforço do cérebro para realizar escolhas fora da rotina.

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“Para alguém sem relações com outras pessoas, a interação não é rotineira, tem de ser racionalizada. Isto tem mais custos e a compensação será menor. A pessoa pode sentir que não vale a pena, pode reforçar a ideia de que é mais confortável estar fechado no seu mundo”, explica o psicólogo.

Paulo Santos refere que a sensação de isolamento e a solidão são fatores de doença, principalmente entre os idosos. Um estudo publicado em 2017 estima que, em Portugal, 9,6% da comunidade idosa sofra com ansiedade e 11,8% tenha depressão. Os investigadores identificaram que estas duas condições estão associadas “a uma maior probabilidade de reportar mais elevados níveis de incapacidade e menores níveis de qualidade de vida”.

7 – Acreditar na pseudociência e nas soluções “milagrosas” partilhadas online

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Procurar conselhos de saúde nas redes sociais tornou-se uma prática comum nos últimos anos. É raro encontrar-se alguém que nunca tenha recorrido ao “Doutor Google” e pesquisado os seus sintomas online, à procura de um diagnóstico ou de sugestões de tratamento. Mas muitos dos resultados destas pesquisas podem ser falsos ou perigosos. 

Miguel Ricou considera que estas soluções milagrosas são partilhadas sem uma explicação científica correta, levando as pessoas a “centrarem-se nas técnicas e não na alteração de comportamentos”. 

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No mesmo sentido, o nutricionista reconhece que estes produtos e soluções apresentados como “milagrosos” são mais fáceis de implementar do que as alterações reais ao estilo de vida – o que os torna aliciantes para a população que procura resultados rápidos. 

No entanto, muitas destas promessas acabam por não se concretizar, levando a pessoa a sentir-se enganada.

“É muito mais fácil pensar que tenho um alimento que resolve o meu problema do que olhar para a minha rotina, pensar o que tenho de mudar, e, ativamente, mudar os comportamentos. A simplificação é muito mais sexy”, explica José Camolas

O nutricionista reforça a importância de se investir na literacia em saúde, dando à população ferramentas para distinguir os produtos que são benéficos ou não. 

“Cada cidadão deve ter em si um pouco de cientista e de médico para se proteger dos produtos que são banha da cobra”, afirma, utilizando uma expressão popular associada à venda de produtos sem efeito.

A par com as técnicas e receitas “milagrosas” estão a promoção e venda de suplementos. Nas redes sociais, é promovida a utilização de vitaminas e minerais para melhorar a saúde de forma genérica – sem uma análise prévia aos níveis desses compostos no organismo.

“Um suplemento é algo que acrescenta”, afirma José Camolas, lembrando que a suplementação não justificada ou não aconselhada por um profissional de saúde pode ter consequências para a saúde – as vitaminas lipossolúveis, por exemplo, são passíveis de bioacumulação e alguns minerais (como o selénio) têm um risco de toxicidade.

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