Segundo a sabedoria popular, beber um copo de Coca-Cola ajuda a “prender o intestino” e a tratar a diarreia. Há inclusive quem defenda que, para fazer efeito, é necessário mexer o refrigerante com um talher para lhe tirar o gás e evitar o desconforto abdominal. Mas será esta uma prática eficaz e recomendável?
Deve-se beber Coca-Cola para tratar a diarreia?
Em declarações ao Viral, o gastrenterologista Rui Tato Marinho e o professor da Escola de Medicina da Universidade do Minho e investigador do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde (ICVS) Luís Lopes começam por explicar que beber Coca-Cola ou qualquer bebida açucarada e gaseificada para tratar a diarreia não é recomendado pela comunidade médica.
Além disso, Rui Tato Marinho adianta que “não está comprovado” que a Coca-Cola seja eficaz no “tratamento das diarreias”.
De onde surgiu este mito?
Os dois médicos especialistas em gastrenterologia consultados pelo Viral sugerem que este método começou a ser utilizado em contextos onde a qualidade da água e os cuidados de saúde não são iguais aos padrões europeus.
Isto porque, tal como explica Luís Lopes, “quando se está com diarreia, a pessoa deve-se manter hidratada“, sendo que “os bons líquidos para reidratar devem ter sal e açúcar”.
Esses dois componentes – o sal e o açúcar – são importantes para haver absorção de água do tubo digestivo para o nosso organismo” de forma a “compensar a perda de água que temos na diarreia”, esclarece a mesma fonte.
Por esse motivo, como este refrigerante contém sal e açúcar, terá nascido aí “a ideia que a Coca-Cola é útil para reidratar”.
Ainda assim, esta razão “não tem muita lógica” e “não é a mais apropriada”. Porquê? Porque, geralmente, uma diarreia aguda surge acompanhada de “dores abdominais”. Logo, segundo o gastrenterologista, o facto de a Coca-Cola ser uma bebida gaseificada pode agravar o desconforto.
Porque é que não se deve ingerir Coca-Cola para tratar diarreia?
Mesmo quando o gás é eliminado da bebida, este refrigerante tem outras características que podem prejudicar quem tem diarreia, como a presença de cafeína e de grandes quantidades de açúcar.
Além disso, Rui Tato Marinho sublinha que, durante o período de uma diarreia aguda, o doente perde muito potássio, um mineral presente em pouca quantidade na Coca-Cola.
O investigador do ICVS adianta ainda que esta bebida não é ideal “para hidratar uma pessoa” com o sistema gastrointestinal fragilizado. Nesse plano, o especialista lembra, por exemplo, que, devido à capacidade de dissolução deste refrigerante, a ingestão de Coca-Cola é um método utilizado para destruir “massas de material não digerível” (por exemplo, cabelo) que algumas pessoas acumulam no estômago.
O que fazer em caso de diarreia?
Antes de tudo, Lopes clarifica que, “de uma forma simplista, há dois tipos de diarreia“: as crónicas – “têm um tempo de evolução mais longo” – e as agudas.
“Para a população em geral”, salienta o especialista, “a maioria das diarreias agudas duram dois a três dias, são causadas por vírus e não necessitam de tratamentos específicos (como um antibiótico)”.
Assim “como as constipações”, as diarreias são doenças “frequentes e chamadas autolimitadas, pois acabam por passar com o tempo“, complementa Tato Marinho.
Os conselhos do professor da Universidade do Minho para lidar com a diarreia são: reidratar e “fazer uma alimentação mais facilmente digerível”.
Uma das medidas a seguir é consumir “água de arroz com um pouco de sal”, que ajuda a “compensar as perdas provocadas por esta situação”. Geralmente, nem é necessário recorrer a medicação para tratar a diarreia.
Quais os sintomas de alerta?
No caso dos adultos, a diarreia deixa de ser uma situação comum se o doente tiver febre, dores abdominais muito fortes e perda de sangue pela diarreia. “Não é dramático”, mas a pessoa “deve ir ter com um médico e provavelmente vai precisar de antibiótico”, aponta Luís Lopes.
Quanto às crianças, “quanto mais pequenas forem, mais cuidados são necessários, porque uma diarreia pode levá-las a uma desidratação severa“, alerta.
Isto acontece porque “as crianças têm volumes mais pequenos, logo, para elas, perder água é muito mais perigoso do que para um adulto”.
Neste cenário, pode ser prudente comprar “soluções de reidratação adequadas nas farmácias, quando as medidas de suporte não chegam”.
Categorias:
Etiquetas: