Alergias de primavera. Como prevenir e atenuar os sintomas?
Quando se pensa na primavera, é comum surgirem imagens de flores, de céu limpo e de um tempo ameno que convida a deixar os casacos pesados no armário. No entanto, para algumas pessoas, o início desta estação é, sobretudo, sinónimo de alergias respiratórias. Porque é que isto acontece e como atenuar os sintomas?
O que são as alergias?
O nosso corpo reage todos os dias aos ataques de micróbios, que são organismos que só podem ser vistos ao microscópio. Alguns exemplos de micróbios são as bactérias, os vírus e os fungos.
O sistema imunitário é o responsável por esse combate. É uma barreira formada por milhões de células de diferentes tipos e com diferentes funções. Este sistema garante a defesa do nosso corpo e protege-o contra as doenças, mas também se engana.
Posto isto, a alergia é uma resposta exagerada do sistema imunitário. Ele passa a identificar determinadas substâncias que são inofensivas como perigosas e desenvolve uma estratégia para as eliminar.
Uma metáfora pode ser: se o nosso corpo fosse um segurança, ele faria soar o alarme por uma rajada de vento e não por estar na presença de um ladrão
E esta resposta errada dificulta ao invés de ajudar. Há uma série de alterações inflamatórias da pele e mucosas, daí existirem os habituais espirros, “pingo” ou obstrução nasal, tosse, comichão no nariz, dificuldade respiratória, entre outros exemplos.
As substâncias que provocam alergias chamam-se alergénios e a maior parte das pessoas não reage quando entra em contacto com elas. O pólen é uma delas.
Os pólenes da primavera
De fevereiro a outubro, geralmente, há uma maior concentração de pólenes associados à primavera, havendo um pico de abril a julho.
É nessa altura que se dá a polinização da maioria das plantas, ou seja, é a época em que as plantas com flor transferem os grãos de pólen dos estames (órgãos masculinos) para os carpelos (órgãos femininos) com o objetivo de se reproduzirem.
Porque é que esta altura é problemática?
“Para o doente alérgico o pólen é algo que ele reconhece como sendo nefasto. Vai espoletar sintomas de uma forma mais intensa”, explica Diana Pereira da Silva, assistente hospitalar de Imunoalergologia no Hospital São João e professora da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).
Causas das alergias respiratórias: A genética e o ambiente andam de mãos dadas
Existe uma predisposição genética de base, que depois é expressa em função das condições ambientais.
“Há alguns genes já conhecidos que aumentam o risco e a predisposição para a doença alérgica. Não há uma hereditariedade linear porque depende dos diferentes fatores ambientais a que nós somos expostos ao longo da vida”, indica Diana Pereira da Silva, médica imunoalergologista.
Pode até acontecer que alguém que não manifesta sintomas possa vir ainda a manifestá-los no futuro. “Essa desregulação imunológica pode acontecer em qualquer altura da vida.”, realça a médica.
No caso da alergia aos pólenes, habitualmente, essa manifestação ocorre ainda na infância. Contudo, alguém que não tenha tido sintomas durante a infância pode começar a ter sintomas já em adulto.
Por isso mesmo “temos que estar atentos e alerta”, reforça Diana Pereira da Silva.
Como combater as alergias? Têm cura?
A alergia, a asma e a rinite não têm cura. Mas existem períodos em que há um maior predomínio de sintomas.
“Não é possível aplicar à doença alérgica um tratamento cirúrgico como é efetuado noutras doenças”, explica a médica imunoalergologista Diana Pereira da Silva.
A medicação ajuda a reduzir os sintomas e existem ainda as vacinas das alergias (imunoterapia), que são recomendadas a doentes que têm sintomas mais persistentes.
Estas vacinas não são comparticipadas, apesar de serem “um tratamento eficaz para a doença alérgica”, realça Diana Pereira da Silva.
Isto é, diminuem a sensibilidade do doente ao alergénio durante um determinado período, mas não o curam.
Prevenir as alergias respiratórias. O que fazer fora de casa?
Evitar ambientes mais poluídos é uma das estratégias para prevenir alergias respiratórias. Estes ambientes aumentam a alergenicidade dos pólenes, aumentando também a predisposição de desenvolvermos uma sensibilização.
Há também que evitar a exposição a situações que podem espoletar mais sintomas, como quando há grande concentração de pólenes no ar.
Um exemplo disso é tentar não praticar desportos ao ar livre no período da manhã muito cedo. É nessa altura que há maior libertação de pólenes.
Uma ferramenta que pode ser útil é o Boletim Polínico, disponível online no site da Rede Portuguesa de Aerobiologia.
Trata-se de um boletim, partilhado habitualmente entre março e julho, onde é possível saber os níveis de pólenes para uma determinada região a cada semana.
“Deve utilizar-se a medicação preventiva, fazendo terapêutica de controlo com recurso a anti-histamínicos e/ou a corticoides nasais (sprays) que nos vão ajudar a conseguirmos controlar a doença e a mantermos a nossa atividade diária sem termos tantos sintomas”, realça Diana Pereira da Silva.
Se se tiver de ir a um determinado ambiente que tenha uma maior concentração polínica deve levar-se a medicação ou efetuá-la previamente à exposição.
Se for necessário ir ao exterior e tivermos vários sintomas oculares, é aconselhável usar óculos escuros para não se promover o contacto com os pólenes.
Não viajar de carro com as janelas abertas também é uma boa medida, já que ter as janelas abertas aumenta a exposição aos pólenes que estão no ar.
E dentro de casa?
No período da manhã e em dias de vento é recomendável manter as janelas fechadas para que exista uma menor concentração de pólenes dentro do nosso ambiente.
Os dois mitos comuns sobre alergias
A médica imunoalergologista Diana Pereira da Silva aponta dois mitos que é comum ouvir-se na prática clínica: um está relacionado com aquilo que provoca as alergias primaveris; outro é sobre a relação entre alergia e a idade.
Em primeiro lugar, não são os pós ou pólenes de maiores dimensões que vemos circular no ar que causam a doença alérgica.
Os pólenes são geralmente microscópicos e, por isso mesmo, não são visíveis a olho nu.
Aquilo que nos causa sintomas até pode estar distante; não é aquilo que nós observamos à vista desarmada em nosso redor.
Outro mito frequente é a ideia de que “isto passa pela idade”, algo que não corresponde à verdade. A doença alérgica mantém-se ao longo de toda a vida, com uma maior ou menor expressão.
“Nós dizemos que o sistema imunológico tem uma excelente memória. A alergia pode amenizar em função da medicação, mas não desaparece com a idade”, assegura Diana Pereira da Silva.
Como saber a que pólen é alérgico?
Existem duas formas de deteção que são as mais usadas: os testes cutâneos e as análises ao sangue.
Os testes cutâneos mais comuns são os testes por picada e funcionam de forma simples: aplica-se uma gota de cada alergénio na pele do antebraço e, de seguida, faz-se uma pequena picada sobre cada gota.
Espera-se cerca de 15-20 minutos. Caso surja uma reação – como borbulhas, comichão ou vermelhidão – numa ou mais zonas é sinal de que existe uma alergia.
Alergias respiratórias podem ser facilmente confundidas com constipações
Sintomas persistentes de um corrimento nasal aquoso, obstrução nasal e, especialmente, comichão no nariz, nos olhos e/ou na garganta são alguns sinais a que se deve estar atento.
Havendo estes sintomas e sendo queixas persistentes deve conversar com o seu médico imunoalergologista.
“A verdade é que existem muitos doentes que desvalorizam estas queixas. Dizem: ‘Eu estou sempre constipado; durante todo o ano. Estou sempre com comichão no nariz e comichão nos olhos’”, indica Diana Pereira da Silva.
Esses casos podem corresponder, de facto, a uma doença alérgica que não está diagnosticada e que não está a ser devidamente tratada.
A verdade é que é difícil, na presença de alguns sintomas, identificar logo se é uma situação causada por uma infeção ou se é uma situação causada por uma alergia.
No caso das alergias os sintomas costumam ser muito mais prolongados do que numa constipação e, geralmente, não se associam a febre, arrepios ou dores musculares como numa situação de infeção.
As alergias estão particularmente associadas a comichão no nariz e comichão nos olhos.
“Havendo este sintoma capital – a comichão – é importante que tente identificar se tem uma alergia em vez de uma constante ‘constipação’”, remata Diana Pereira da Silva.
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