O hábito de cruzar as pernas tem sido visto, ao longo de várias gerações, como uma causa direta do surgimento de varizes. Mas terá esta crença popular fundamento científico?

É verdade que cruzar as pernas causa varizes?

Não, o hábito de cruzar as pernas, por si só, não causa varizes. Num texto informativo sobre mitos da pele publicado na página da Escola de Saúde Pública de Harvard adianta-se que “há uma série de fatores de risco para as varizes, mas cruzar as pernas não é um deles”. 

No mesmo sentido, a resposta do Center for Varicose Veins e do Center for Vein Restoration, duas instituições de saúde americanas, a esta questão é curta e direta: a ideia de que cruzar as pernas é uma causa direta de varizes não passa de um mito.   

Também Joana de Carvalho, cirurgiã vascular e diretora da Leg Clinic by Allure (com quem o Viral já falou para um artigo), desmistifica esta crença num post de Facebook.

“O mito de que cruzar as pernas causa varizes está muito enraizado, mas a verdade é que não há suporte científico para tal! Até à data, não há qualquer evidência científica de que cruzar as pernas causa varizes ou ‘vasinhos’”, escreve a especialista.

Apesar disso, recomenda o Center for Vein Restoration, “deve levantar-se do seu lugar com frequência, quer cruze ou não as pernas”.

Noutro plano, aponta a Irish Heart Foundation, no seu site, “existem evidências que sugerem que as pessoas que permanecem de pé durante longos períodos correm um maior risco de desenvolver varizes”.

Embora as varizes não sejam causadas pelo hábito de cruzar as pernas, as organizações internacionais de saúde avisam que, se a pessoa já tiver uma condição pré-existente de varizes, cruzar as pernas pode agravar o problema. 

Isto é, explica-se num texto publicado no site do Cardiovascular Institute of the South o aumento da pressão responsável pelo desenvolvimento de varizes “provém de fatores internos”, mas “a pressão externa, como a resultante do cruzamento das pernas ou de vestuário apertado, pode exacerbar as varizes”.

Como surgem as varizes? Quais as causas?

O Sistema Nacional de Saúde britânico (NHS, na sigla inglesa) esclarece, no seu site, que “no interior das veias existem minúsculas válvulas unidirecionais que se abrem para deixar passar o sangue e se fecham para evitar que este volte para trás”.

Por vezes, “as paredes das veias ficam esticadas e perdem a sua elasticidade, provocando o enfraquecimento das válvulas”. Se as válvulas não funcionarem da forma correta, “o sangue pode vazar e fluir para trás”. 

Como tinha explicado Joana de Carvalho, em declarações anteriores ao Viral, quando se verifica esta condição, estas veias são chamadas de “incompetentes” ou “reflexivas”, “pelo facto de o sangue aí presente voltar para baixo”. Isto origina “a tal sensação de peso e cansaço” (ver também aqui, aqui e aqui).

Segundo o NHS, “as razões pelas quais as paredes das veias se distendem e as válvulas das veias enfraquecem não são totalmente compreendidas”, pois “algumas pessoas desenvolvem a doença sem qualquer razão óbvia ou aparente”. 

No entanto, nas declarações anteriormente prestadas ao Viral, Joana de Carvalho referia a genética como “principal fator” de risco para o desenvolvimento de varizes. Aliás, de acordo com o texto da Escola de Saúde Pública de Harvard, “estima-se que 80% das pessoas com varizes têm um progenitor com a mesma doença”.

Além disso, apontava Joana de Carvalho, “há vários fatores adquiridos que podem concorrer para o aparecimento de varizes, principalmente: a obesidade e o excesso de peso; o sedentarismo; determinadas profissões – quem está muito tempo de pé ou quem está muito tempo sentado – e a gravidez”.