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Cola, óleo de bebé e cerveja. Quais os perigos dos bronzeadores caseiros?

5 Jun 2024 - 09:31

Cola, óleo de bebé e cerveja. Quais os perigos dos bronzeadores caseiros?

No TikTok partilham-se várias receitas de bronzeadores caseiros, algumas das quais já circulam na sabedoria popular há várias décadas.

Há quem, antes de se expor ao sol, aplique na pele bebidas como a cola ou cerveja ou faça misturas que incluem, por exemplo, óleo de bebé, sumo de cenoura ou café

Estas mezinhas são apresentadas como soluções supostamente eficazes para quem quer um bronzeado rápido, duradouro e barato. Mas serão estes produtos seguros para a pele? Quais os riscos dos bronzeadores caseiros?

A utilização de bronzeadores caseiros tem riscos?

Em esclarecimentos ao Viral, Ricardo Vieira, dermatologista da Unidade Local de Saúde de Coimbra e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC), esclarece desde logo que os bronzeadores caseiros não são recomendados, devido aos riscos que acarretam para a pele.

O especialista, que é também secretário-geral da Associação Portuguesa de Cancro Cutâneo, adianta que as redes sociais, “a par de muitas outras informações de fácil acesso, permitem a difusão de informações falaciosas como se fossem inteiramente válidas”, sendo exemplo disso o incentivo ao “uso de Coca-Cola, de cerveja, de cenoura ou de outros produtos de uso comum” para bronzear.

Nesse sentido, alerta o dermatologista, “o uso destas substâncias como bronzeadores pode ser extremamente nocivo, em particular se estas forem usadas em vez dos cremes protetores solares”. 

Ricardo Vieira assinala a importância de saber distinguir um protetor solar de um bronzeador: “O primeiro destina-se a prevenir as queimaduras solares e as suas consequências, enquanto o segundo tem como objetivo a obtenção de um tom moreno da pele”.

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Em algumas publicações, “quando se fala do sumo de cenoura, por exemplo, advoga-se a sua eficácia também como protetor solar, uma vez que possui caroteno, uma molécula que funciona como filtro químico dos ultravioletas”. 

Contudo, frisa, “o nível real de proteção do sumo de cenoura é escasso e, em termos práticos, irrelevante”.

Por outro lado, aplicar estas substâncias e misturas caseiras na pele acarreta um risco superior de desenvolvimento de dermatites de contacto, ou seja, de irritações ou de reações alérgicas cutâneas.

Num texto informativo da Academia Americana de Dermatologia (AAD, na sigla inglesa) explica-se que existem vários produtos que podem provocar irritações na pele, como óleos, plantas, sumos de frutas, detergentes e outros químicos.

No mesmo sentido, frisa a AAD noutro texto, há “mais de 15 mil coisas” que “podem causar uma reação alérgica” cutânea. 

As reações alérgicas podem surgir logo após o contacto da pele com a substância, “dias depois” ou até “apenas quando a luz solar atinge” a pele.

Por esse motivo, além de a exposição solar em si já representar um risco, aplicar estes produtos e expor a pele ao sol aumenta o risco de dermatite.

É possível bronzear a pele de forma segura?

A resposta de Ricardo Vieira é simples e direta: “não existem formas completamente seguras de nos expormos ao sol e de nos bronzearmos. A nossa biologia não nos preparou para o bronzeamento recreativo” (ver também aqui, aqui e aqui). 

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Para se perceber esta resposta, o membro da Associação Europeia de Dermato-Oncologia (EADO) e coordenador nacional do Euromelanoma considera necessário “esclarecer o que é realmente o fenómeno do bronzeamento”. 

Tal como explica o médico, “a nossa pele possui um pigmento, a melanina, que funciona como protetor solar natural”. 

É esta melanina “que evita a interação da radiação ultravioleta da luz solar com o material genético das nossas células, prevenindo a formação de mutações”, que, quando “se acumulam nas células, podem originar a formação de cancros de pele”, prossegue. 

Segundo o especialista, “o bronzeamento é um fenómeno protetor que surge após exposição solar mais intensa”.

O seu objetivo é “aumentar a produção de melanina e, desta forma, preparar a pele para suportar maior dose de radiação”, aponta. 

No fundo, “trata-se de uma adaptação biológica e não de uma tendência de moda ou de estética”. 

O problema é que, “apesar de ser um mecanismo protetor, o bronzeamento acarreta alguns aspetos negativos, pois o estímulo que o desencadeia é a formação de mutações nas células da pele”, destaca. 

Por outras palavras, “para que a proteção [o bronzeamento] exista, é necessário ter ocorrido algum dano, por vezes associado a queimaduras solares, inclusive”. 

Assim sendo, não há nenhuma forma segura de bronzear a pele através da exposição solar, já que fazê-lo “acarreta inevitavelmente risco de envelhecimento precoce da pele e de desenvolvimento de cancro cutâneo”, remata.

Deste modo, Ricardo Vieira considera que “a intervenção de substâncias externas na potenciação deste efeito é praticamente irrelevante”. 

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Se o objetivo é obter “um tom moreno” sem correr riscos, o dermatologista recomenda a utilização de “autobronzeadores”.

Organizações de saúde como a Cancer Research UK, a American Cancer Society e a Canadian Cancer Society também referem os autobronzeadores como produtos seguros e eficazes quando utilizados da forma correta.

Estes produtos de uso comercial, “quando aplicados sobre a pele, conferem essa cor à pele pelo fornecimento de pigmentos diferentes da melanina”, clarifica Ricardo Vieira.

Além disso, “o seu uso não acarreta riscos, uma vez que o tom de pele é obtido sem necessidade de exposição à radiação”. 

No entanto, alerta o professor da FMUC, “como os pigmentos gerados na pele não têm nada que ver com a melanina e não têm as suas propriedades, as pessoas bronzeadas à custa dos autobronzeadores não adquirem um bronzeado protetor”.

Têm, por isso, “um elevado risco de sofrerem queimaduras solares se se expuserem demasiado, julgando estar protegidos pelo tom mais escuro da pele”, conclui.

Quais os cuidados a ter antes e durante a exposição solar?

Em contexto de exposição solar, Ricardo Vieira aconselha o uso de protetor solar – “de preferência com fator de proteção de índice 50 ou superior -, aplicado cerca de meia hora antes da exposição, renovando a aplicação a cada duas horas e após banho de mar ou piscina”. 

O especialista recomenda ainda “o uso de roupa protetora (t-shirt, chapéu, etc.) no caso de exposições muito prolongadas ou em horas de maior índice de incidência dos ultravioletas (entre as 11h00 e as 16h00)”. 

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Na perspetiva do dermatologista, “o uso do protetor solar deve ser feito para nos proteger e não para permitir que abusemos da dose de radiação recebida”.

Isto é válido tanto para a exposição solar “como para a exposição a fontes artificiais de ultravioleta”, como os solários, “uma prática frequente e bastante perigosa”, avança. 

Para Ricardo Vieira “a ‘desculpa’ de que a exposição à radiação ultravioleta é fundamental para que se produza vitamina D na pele merece pouco crédito”.

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Isto porque, “em primeiro lugar, a quantidade de radiação necessária para produzir a quantidade necessária de vitamina D é extremamente baixa (muito abaixo do limiar do que produz queimadura solar)”, sustenta.

Para mais, frisa, “existem outras fontes de vitamina D, nomeadamente fontes alimentares”.

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5 Jun 2024 - 09:31

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