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Dieta da melancia emagrece até um quilo por dia? Tem riscos?

2 Jun 2024 - 10:44

Dieta da melancia emagrece até um quilo por dia? Tem riscos?

Num vídeo partilhado no TikTok alega-se que o segredo para emagrecer 500 gramas a um quilo por dia é fazer uma “monodieta”, como, por exemplo, a dieta da melancia. Segundo a autora da publicação, esta dieta consiste em, num dia da semana, comer apenas uma fatia de melancia a cada três horas (ou ingerir o sumo dessa fatia) e, ao final do dia, comer uma sopa, mantendo uma dieta saudável durante o resto da semana.

A criadora do vídeo diz ainda que este dia de “monodieta” pode ser feito uma vez por semana. Mas confirma-se que a dieta da melancia emagrece até um quilo por dia? E tem riscos?

Seguir a dieta da melancia emagrece um quilo por dia?

Em esclarecimentos ao Viral, Gabriela Ribeiro, nutricionista clínica no Hospital CUF Descobertas, mestre em Doenças Metabólicas e Comportamento Alimentar e professora na NOVA Medical School (NMS), começa por adiantar que “qualquer dieta de muito baixo valor calórico e com um volume de alimentos muito inferior ao que é habitualmente ingerido pode levar a oscilações de peso”. 

A nutricionista explica que “o peso corporal pode variar substancialmente devido a vários fatores como a quantidade de alimentos e líquidos ingeridos, ingestão de sal, prática de exercício, obstipação, medicamentos e até devido ao clima”. 

No caso da dieta da melancia, a eventual perda de peso não se deve, em específico, ao consumo desta fruta, mas sim ao défice calórico proporcionado pela dieta, ou seja, ao facto de se consumir menos calorias do que as que se gasta.

Do ponto de vista de Gabriela Ribeiro, “a dieta da melancia, sendo uma dieta muito restritiva em termos calóricos e do volume de alimentos ingeridos, pode, de facto, induzir estas oscilações de peso criando a ilusão de que é uma alternativa viável para perder peso”. 

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No entanto, “estas oscilações de peso são frequentemente transitórias”, salienta a professora da NMS.

Por outro lado, além de ser improvável perder-se um quilo por dia (mesmo em restrição calórica), perder peso e emagrecer não são sinónimos.

Isto porque perder peso refere-se à diminuição do número na balança, enquanto emagrecer significa perder gordura corporal. É possível perder peso sem emagrecer, por exemplo, ao perder água ou massa muscular, tal como explicava o nutricionista Leandro Oliveira neste artigo do Viral

Assim, recorrer a dietas restritivas (como a da melancia) também pode ser contraproducente se o objetivo é perder gordura.

Para mais, tal como já tinha explicado a nutricionista Maria Novais da Fonseca em declarações anteriores ao Viral, seguir dietas excessivamente restritivas só funciona a curto prazo.

Além de estas dietas não mudarem o comportamento alimentar, sabe-se que a grande maioria das “pessoas que fazem dietas restritivas voltam a ganhar peso”, salientou a nutricionista.

Quais os riscos da dieta da melancia?

Em primeiro lugar, destaca Gabriela Ribeiro, a dieta da melancia “é desequilibrada”.

Como se explica num texto informativo publicado no site do Programa Nacional para Promoção da Alimentação Saudável (PNPAS), a melancia é composta por água na sua maioria (cerca de 94%) sendo, por isso, “uma excelente fonte de hidratação”.

Contudo, destaca Gabriela Ribeiro, é uma fruta “constituída essencialmente por hidratos de carbono”. A melancia é “pobre em fibra, proteínas e gorduras saudáveis, elementos fundamentais para o controlo do apetite e para o funcionamento adequado do metabolismo energético”, aponta. 

Apesar de ser uma fruta interessante, que pode ser integrada numa alimentação saudável, o seu teor em nutrientes não é suficiente para cobrir as necessidades diárias de uma pessoa.

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Uma taça de melancia (cerca de 154g) fornece apenas “21% da quantidade de vitamina C recomendada diariamente para um adulto, 18% de vitamina A e 5% de potássio”, refere-se no texto do PNPAS.

Num texto partilhado no site do Sistema Nacional de Saúde (SNS), defende-se a importância de, sobretudo em contexto de perda de peso, ter “especial cuidado na escolha dos alimentos, de modo a satisfazer sempre as necessidades nutricionais”. 

Segundo o SNS, “planos alimentares muito restritivos, tanto em energia como em diversidade de alimentos, podem estar na origem de carências que debilitam o estado de saúde”.

Noutro plano, refere Gabriela Ribeiro, além de não existir “qualquer benefício em termos nutricionais em aderir” à dieta da melancia, as dietas restritivas são “uma red flag em termos comportamentais”.

Isto porque, prossegue, as dietas restritivas têm “um papel relevante no início e na manutenção de doenças de comportamento alimentar”. 

Nem todas as pessoas que aderem a estas dietas “chegam a desenvolver uma patologia do comportamento alimentar”, mas “o dieting está associado a maior psicopatologia (como ansiedade e depressão), bem como um maior Índice de Massa Corporal (IMC)”, sustenta. 

Assim, o recurso a dietas muito restritivas deve ser, do ponto de vista da nutricionista, “um motivo de preocupação em qualquer circunstância, sobretudo em crianças e adolescentes”. 

Gabriela Ribeiro admite não haver uma solução igual para todas as pessoas. “A fórmula para a perda de peso eficaz e sustentável irá depender da pessoa em questão, da quantidade de peso que necessita de perder e do seu estado de saúde física e psicológica”, defende. 

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Para algumas pessoas, “a alteração de estilos de vida, incluindo da alimentação, do exercício, entre outros aspetos, será suficiente para perder o peso pretendido e mantê-lo”. 

Outras pessoas podem “necessitar de alterar o seu estilo de vida e, simultaneamente, receber intervenção farmacológica”, aponta. 

Por outro lado, também há quem necessite “de tratamento cirúrgico”. 

Na visão da professora da NMS, “todas as opções são válidas, desde que devidamente individualizadas e supervisionadas por uma equipa multidisciplinar”.

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Alimentação

2 Jun 2024 - 10:44

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