No TikTok tem sido comum falar-se de uma condição chamada “topical steroid withdrawal” (em português, abstinência de corticoides tópicos). São vários os vídeos encontrados na rede social em que se partilham os supostos efeitos adversos da utilização deste tipo de medicamentos para tratamento de condições como o eczema. 

Alguns utilizadores alegam ter aplicado corticoides na pele durante anos e, no momento em que deixaram o tratamento, verificaram um agravamento dos sintomas. O que são os corticoides tópicos e em que contexto são receitados? Estes fármacos podem causar sintomas de abstinência quando deixam de ser utilizados? 

O que são corticoides tópicos?

Em declarações ao Viral, a dermatologista Diana Miguel explica que os corticoides (ou corticosteroides) tópicos são medicamentos aplicados diretamente na pele que “reduzem a inflamação e a irritação”. 

Segundo a médica, “existem vários corticosteroides tópicos disponíveis, com diferentes potências e formulações”. 

Como se refere num texto informativo do Sistema Nacional de Saúde britânico (NHS, na sigla inglesa), os corticoides tópicos estão disponíveis em formato de creme, loção, gel, pomada, tiras e outras soluções.

Alguns exemplos de corticoides referidos por Diana Miguel são a “hidrocortisona”, a “betametasona” e o “clobetasol”.

Diana Miguel esclarece que os corticoides tópicos “são comuns no tratamento de várias condições de pele, como eczema, dermatite, psoríase e outras doenças inflamatórias”. 

Por norma, aponta-se num texto da Associação Nacional de Eczema dos Estados Unidos, os corticoides tópicos “são recomendados quando a doença não responde aos cuidados tradicionais de cuidados da pele e aos hidratantes”.

A retirada do uso de corticoides tópicos pode piorar a condição da pele?

Sim. Segundo Diana Miguel, “algumas pessoas podem desenvolver reações adversas após interromperem o uso de corticosteroides tópicos, devido a um fenómeno conhecido como ‘Topical Steroid Withdrawal’ (TSW)”. 

Isso acontece “quando o corpo se torna dependente dos corticosteroides para controlar a inflamação cutânea e quando o uso é descontinuado de forma abrupta”, adianta.

O TSW pode causar “sintomas de abstinência” ou de agravamento de sintomas, “como vermelhidão, edema, prurido e descamação mais intensa” do que a verificada antes do tratamento.

Diana Miguel destaca que esta reação é mais comum “nos doentes com doenças crónicas que recorrem muito ao uso de corticoides tópicos”. 

Contudo, também pode ocorrer “em todas as pessoas que façam uso prolongado e frequente de corticosteroides tópicos, especialmente em concentrações mais elevadas e em áreas muito sensíveis da pele”.

Apesar disso, na visão da especialista, são produtos “extremamente importantes na prática clínica e as pessoas não devem ter receio de os usar”.

Aliás, salienta-se no texto da Associação Nacional de Eczema dos Estados Unidos, os corticoides tópicos “continuam a ser a base do tratamento para adultos e crianças com eczema” (ver também aqui).

Isto porque, refere-se, a maioria das pessoas com eczema que utilizam corticoides tópicos como uma opção de tratamento não sofrem efeitos adversos. 

No mesmo sentido, num texto da DermNet (uma página que pertence à Sociedade Dermatológica da Nova Zelândia), defende-se que “as preocupações com o risco de abstinência de corticosteroides tópicos não deve impedir o tratamento adequado da dermatite atópica e de outras doenças da pele”.

Como se frisa no texto, são muitas mais as pessoas que respondem bem à utilização adequada de corticoides tópicos do que as que desenvolvem abstinência.

O que fazer perante reações adversas após o uso de corticoides tópicos?

Na visão de Diana Miguel, “se uma pessoa apresentar sintomas de TSW, é fundamental procurar orientação médica”. 

Isto porque, embora os sintomas deste tipo de reação possam diminuir ao longo do tempo, “um médico pode recomendar tratamentos para aliviar os sintomas e ajudar na recuperação da pele”, realça a dermatologista.

De acordo com o texto da DermNet, ainda não existem tratamentos específicos que reduzam a duração destas reações.

No entanto, de modo geral, é comum prescrever-se: cremes e hidratantes; compressas frias, gelo e medicação para as dores de queimadura; anti-histamínicos para a comichão; analgésicos simples; e, por vezes, recomenda-se apoio psicológico.

O mesmo texto indica que a duração do TSW, por norma, varia entre 72 horas a meses, sendo que a maioria das pessoas recupera após três meses. Uma pequena percentagem dos doentes pode ter de lidar com esta reação adversa durante mais tempo.

Como prevenir reações adversas e sintomas de abstinência?

Na maioria dos casos, pode-se evitar reações adversas à retirada de corticosteroides tópicos.

Com esse objetivo em mente, “é importante seguir as instruções médicas quanto à frequência e duração do uso”, refere Diana Miguel.

Segundo a médica, “evitar o uso excessivo e prolongado também pode ajudar a reduzir o risco de desenvolver TSW”. 

Durante o tratamento é essencial “aplicar a quantidade prescrita apenas nas áreas afetadas e evitar o uso em áreas sensíveis, como o rosto”.

Por fim, após o tratamento, é fundamental “efetuar um desmame adequado”, segundo “o esquema prescrito”, salienta. Em alguns casos pode ser “recomendada a troca para outro anti-inflamatório tópico, como os inibidores da calcineurina”, conclui.