Os protetores solares devem ser usados durante todo o ano, mas a verdade é que é no verão que a procura por este tipo de produtos aumenta. 

No entanto, ainda existem muitas crenças erradas sobre os protetores solares disponíveis no mercado e há mesmo quem acredite que causam cancro (um mito que já foi desconstruído neste artigo do Viral). Por esse motivo, circulam nas redes sociais várias receitas de protetores solares caseiros. Mas serão estas misturas seguras e eficazes? É uma boa decisão trocar um protetor solar convencional por um caseiro?

Protetores solares caseiros são uma boa alternativa aos convencionais?

A resposta é não. Juan Ocaña, dermatologista no Hospital CUF Cascais e na Clínica CUF Miraflores e Coordenador do serviço de Dermatologia no Hospital CUF Tejo e na Clínica CUF Belém, informa o Viral de que “não existem dados baseados na evidência que demonstrem o benefício” da aplicação de protetores solares caseiros.

No mesmo sentido, a organização Cancer Council da Austrália, num texto partilhado online, não recomenda “o fabrico ou a utilização de protetores solares caseiros”. Em vez disso, a sua produção deve ser deixada “para os especialistas”, para se garantir a eficácia e a segurança do que se está a utilizar, defende-se.

Além disso, já foram realizados alguns estudos que pretendem demonstrar os perigos dos protetores solares caseiros. Num estudo recente, selecionou-se 15 receitas caseiras de protetores solares partilhadas na internet. De seguida, através do método in vitro, testou-se a eficácia dos produtos.

“Três das 15 receitas estudadas não contêm qualquer protetor solar e constituem, portanto, um maior risco para os utilizadores em caso de exposição ao sol”, indica-se no estudo.

Os investigadores acrescentam ainda que “as outras 12 não podem ser consideradas produtos de proteção solar, uma vez que todas elas têm um FPS [Fator de Proteção Solar] inferior a 6, o valor limite exigido na Europa”.

Assim, concluiu-se neste trabalho que as receitas analisadas “são muito perigosas, uma vez que algumas delas não têm qualquer efeito fotoprotetor e a maioria não garante um nível suficiente de fotoproteção para as pessoas que as utilizam”.

Porque é que isto acontece? Juan Ocaña explica que, “teoricamente, [estas receitas] deveriam proteger”, pois são compostas por óxido de zinco –  “um produto que proporciona a proteção solar” e “está presente em alguns fotoprotetores (FTP) disponíveis no mercado”.

Contudo, “para avaliar o índice UV de fotoproteção (SPF) de um FTP têm de ser efetuados testes laboratoriais, orientados por guidelines disponibilizadas pelas autoridades reguladoras”, salienta o dermatologista. 

“Esses testes determinam o índice de proteção solar de uma determinada formulação, com base na evidência científica, e servem de orientação para a escolha do protetor solar mais adequado ao tipo de pele de cada um”, esclarece. 

Em geral, “usam-se fotoprotetores com SPF 30 ou 50+”, mas “algumas publicações referem que um protetor solar caseiro corresponde a um índice de fotoproteção que fica significativamente abaixo dos índices recomendados”, sustenta.

Qual a importância de usar um protetor solar testado e aprovado?

“A utilidade dos fotoprotetores é proteger-nos da radiação ultravioleta”, reforça Juan Ocaña. Enquanto num protetor solar “testado e aprovado para comercialização pelas autoridades reguladoras foram realizados estudos clínicos que testaram a sua eficácia em diferentes níveis e para diferentes tipos de pele”, num protetor caseiro caseiro “não podemos garantir estes aspetos”, expõe o médico.

Na visão do especialista, os protetores solares à venda no mercado, além de terem óxido de zinco na sua composição, têm também uma “grande diversidade de filtros solares”, que “garantem uma proteção mais eficaz contra os raios UVA e UVB”. Para mais, contêm “outros componentes específicos adaptados à idade e até à atividade física”.

Além disso, estes produtos “adaptam-se a qualquer tipo de pele, parte do corpo e, sobretudo, são agradáveis de aplicar, o que aumenta a adesão à sua utilização”. Estas diferentes formulações são “impossíveis de obter em fabricação caseira”, frisa.

No caso dos protetores solares caseiros, “o índice de proteção não está determinado”. 

Assim, ao escolher-se estes produtos, em conjunto com “a exposição solar em excesso e sem controlo”, potencia-se “alterações do ADN das células, as quais podem sofrer alterações degenerativas (cancro de pele) e envelhecimento prematuro (fotoenvelhecimento)”, alerta o médico.

Por isso, na perspetiva de Juan Ocaña, “uma fotoproteção adequada e segura, que cumpra os critérios das autoridades reguladoras, em conjunto com o uso de vestuário adequado e o respeito pelo horário solar, são os factores chave para a prevenção do cancro de pele – um dos que mais tem aumentado, nos últimos anos”.