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Protetor solar impede a síntese de vitamina D? Como garantir níveis adequados?

3 Jun 2023 - 09:00

Protetor solar impede a síntese de vitamina D? Como garantir níveis adequados?

O conselho é partilhado durante o ano inteiro e reforçado nesta altura em que as temperaturas começam a aumentar e as idas à praia se tornam mais frequentes: é preciso aplicar protetor solar para prevenir queimaduras e escaldões e, assim, reduzir o risco de desenvolver cancro de pele.

Mas sendo o sol fundamental para a síntese de vitamina D, é comum questionar-se se a utilização frequente dos protetores solares vai interferir com esse processo essencial para a saúde.

Em declarações ao Viral, João Maia e Silva, dermatologista, presidente da Associação Portuguesa de Cancro Cutâneo e professor auxiliar de Dermatologia e Venereologia na Clínica Universitária de Dermatologia da Faculdade de Medicina de Lisboa, esclarece todas as dúvidas.

Ao usar protetor solar estamos a diminuir a síntese de vitamina D?

Os protetores solares são eficazes a prevenir escaldões, mas essa eficácia está dependente da forma como este é aplicado e da periodicidade com que é renovada essa aplicação.

Nessa medida, explica o dermatologista João Maia e Silva, aplicar protetor solar “não é a mesma coisa que usar uma burca ou um vestuário que mantenha a proteção permanentemente durante muito tempo”. Daí a importância de fazer a renovação da aplicação do protetor solar a cada duas ou três horas, ou sempre que se vai tomar banho de mar ou de piscina.

Contudo, João Maia e Silva refere ao Viral que, “raramente, o protetor solar é aplicado nas quantidades recomendadas, isto é, as que são utilizadas nos estudos e que dão o índice de proteção de cada produto”. 

Ou seja, o que está em causa é a diferença entre a teoria resultante dos estudos científicos e a prática do dia a dia de cada pessoa. 

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Se fossem seguidas à risca as diretrizes que surgem dos estudos sobre proteção solar – com a utilização de vestuário que confere alta proteção e a aplicação e reaplicação criteriosa de protetor solar nas quantidades indicadas –, “no limite, poderíamos ter uma diminuição da síntese de vitamina D”. No entanto, “na prática”, a utilização de protetor solar “não tem este impacto”.

E os estudos têm demonstrado isso mesmo. O trabalho de investigadores britânicos, publicado no British Journal of Dermatology, concluiu que há pouca evidência de que as quantidades de protetor solar utilizadas em cenário de vida real tenham impacto nas concentrações de vitamina D. 

Noutro estudo de investigadores australianos, apurou-se que mesmo quem utilizava regularmente protetor solar mantinha níveis adequados de vitamina D.

E um grupo de 13 especialistas (entre endocrinologistas, dermatologistas e epidemiologistas) chegou a conclusões semelhantes num estudo também publicado no British Journal of Dermatology

“O uso de protetor solar para fotoproteção diária e recreativa não compromete a síntese de vitamina D, mesmo quando aplicado em condições ideais”, lê-se nesse trabalho.

Segundo o especialista consultado pelo Viral, também há “estudos que demonstram como pessoas que – na sequência de tumores ou de doenças que se agravam com a exposição à radiação ultravioleta – começam a ser extremamente cuidadosos ou quase obsessivos com a proteção solar e o horário de exposição podem ter uma diminuição da síntese de vitamina D”.

“Tanto assim é que aconselhamos fazer suplementação [com vitamina D] nessas pessoas”, sustenta. 

Contudo, reforça, João Maia e Silva, esses são casos extremos que não são aplicáveis ao comportamento da maioria da população.

“No limite, um protetor solar, como qualquer coisa que diminua a penetração da radiação ultravioleta na pele, pode ter impacto na síntese de vitamina D. Se, na prática do dia a dia, tem um impacto grande neste processo? Não, não tem”, reitera.

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O que está demonstrado é o benefício do protetor solar na proteção contra o cancro de pele, como concluiu o estudo publicado por investigadores australianos. 

“Os escaldões e as queimaduras solares causados pela exposição à radiação ultravioleta estão associados com o aumento do risco de cancro de pele, nomeadamente de melanoma. E sabemos até que a dose cumulativa de radiação ultravioleta que se vai apanhando, mesmo sem apanhar escaldões, também está associada a cancro de pele. O objetivo do protetor solar é tentar prevenir o cancro de pele”, acrescenta o especialista.

Como assegurar bons níveis de vitamina D?

Que a síntese de vitamina D depende da exposição à radiação ultravioleta “é um dado adquirido”, começa por explicar o João Maia e Silva.

O dermatologista aponta que “existem várias formas de obtermos vitamina D”, mas lembra que “uma parte importante depende da exposição à radiação ultravioleta”.

No entanto, assegura o dermatologista, é possível ter uma exposição correta ao sol para garantir os níveis adequados de vitamina D e não comprometer a prevenção do cancro de pele.

“Sabemos que não precisamos de um tempo muito longo de exposição [para assegurar os níveis necessários de vitamina D]. Se considerarmos o tempo de primavera-verão, cerca de 15/20 minutos de exposição solar – sempre antes das 10 horas ou depois das 16 horas – de zonas como a face, os antebraços e dorso das mãos são suficientes para sintetizarmos a vitamina D necessária”, assinala.

No inverno, como a radiação que atinge a superfície terrestre é menos intensa na latitude em que está Portugal, “o tempo de exposição diária deverá rondar os 30/45 minutos”, aconselha o dermatologista.

O dermatologista garante que “a dose de radiação ultravioleta que precisamos para fazer a síntese de vitamina D é muito pequena e para uma pessoa normal basta ir à praia que, mesmo com o protetor solar, sai de lá com o cabaz cheio de vitamina D”.

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Isto porque, acrescenta, “a nossa capacidade de produzir vitamina D também é limitada durante o dia”. Isto é, “ao atingir o nível necessário, para de ser produzida”. 

Por isso, por mais que a pessoa se exponha ao sol, não vai aumentar a produção de vitamina D  – porque esta é limitada no tempo – e vai acabar por aumentar o risco de cancro de pele.

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As pessoas que se expõem pouco à radiação solar – na maioria dos casos, idosos ou pessoas com patologias agravadas pela exposição ao sol – podem sempre apostar numa alimentação rica em alimentos com maior teor de vitamina D, nomeadamente os peixes gordos (como o salmão, o atum e a cavala), as leguminosas (feijão, grão de bico), o leite e derivados ou os ovos.

Se for necessário, pode ainda recorrer-se à prescrição de suplementação de vitamina D, que, segundo esta norma da DGS,  é recomendada a grupos muito específicos, devidamente diagnosticados com carência de vitamina D depois de avaliação clínica.

Categorias:

Dermatologia

3 Jun 2023 - 09:00

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