Óleo de argão puro “frita” o cabelo quando aliado à exposição solar?
“Ao aplicares o óleo de argão puro podes estar, na verdade, a fritar o teu cabelo!” Esta frase pode ser lida na legenda de um vídeo partilhado nas redes sociais.
O vídeo publicado no Instagram conta com mais de 140 mil visualizações, milhares de gostos e dezenas de comentários. Mas será que a evidência científica corrobora esta afirmação?
Em declarações ao Viral, Marta Teixeira, enfermeira tricologista especializada em dermatologia, esclarece todas as dúvidas.
O que é o óleo de argão?
O óleo de argão é um óleo natural extraído das sementes do fruto da argania (uma árvore nativa de Marrocos) que é muito utilizado na alimentação e na cosmética.
Para fazer o óleo comestível, tradicionalmente, utilizam-se grãos torrados e triturados manualmente. Já o óleo de grau cosmético é feito com grãos não torrados.
Quais são os benefícios do óleo de argão?
O óleo de argão é conhecido pelas suas propriedades benéficas para o cabelo sobre as quais já foram feitos alguns estudos.
Num destes trabalhos sugere-se que este óleo aumenta a resistência à tração (a resistência que oferece quando se puxa o cabelo) e que ajuda a reter a cor do cabelo com coloração.
Noutro estudo verificou-se que existe menos perda de proteína na fibra capilar quando o óleo de argão é aplicado no cabelo antes da lavagem, ou seja, que este óleo ajudará a proteger o cabelo contra danos.
Estas conclusões são reforçadas por um estudo de 2022 que mostra que usar um condicionador com óleo de argão durante a lavagem pode proteger o cabelo com coloração e descoloração da quebra, aumentar a sua resistência à tração e diminuir a perda de proteínas da fibra capilar.
Em suma, há evidência científica que sugere que, quando usado corretamente, o óleo de argão pode ser benéfico para o cuidado do cabelo.
O óleo de argão puro pode “fritar” o cabelo se for usado com exposição solar direta?
“Com base na literatura científica disponível, não há evidência direta que sugira que o uso de óleo de argão puro no cabelo e a exposição direta à luz solar possam “fritar” o cabelo”, adianta Marta Teixeira, enfermeira tricologista, em declarações ao Viral.
Pelo contrário, este óleo também contém tocoferol, que – além de possuir propriedades antioxidantes – poderá ajudar a proteger o cabelo dos efeitos nocivos da radiação UV (ultravioleta).
No entanto, é importante notar que a exposição excessiva ao sol, por si só, pode ter efeitos prejudiciais no cabelo e na pele, como queimaduras solares e queratoses actínicas (lesões pré-cancerígenas), algo comprovado por vários estudos científicos.
Por isso, recomenda-se que se tomem precauções ao expor o cabelo à luz solar direta, tais como usar protetor solar ou usar um chapéu para proteger o cabelo e o couro cabeludo da radiação UV nociva.
Em suma, eventuais danos no cabelo não estarão diretamente relacionados com o uso do óleo de argão, mas sim com a exposição solar excessiva.
O óleo de argão pode ser prejudicial para o cabelo?
Na descrição do vídeo partilhado afirma-se ainda que “o óleo de argão puro atua como um bloqueador da haste do cabelo, impedindo que os nutrientes e a hidratação adequada cheguem às suas madeixas” e que “isso pode levar a sérios problemas de saúde capilar, como queda de cabelo, quebra e ressecamento excessivo.”
Mas será verdade? Marta Teixeira responde: “a alegação não é corroborada pela literatura científica disponível”.
A enfermeira tricologista acrescenta ainda que é difícil que um produto cosmético, quando bem utilizado, leve a uma queda de cabelo. Por norma, explica, o motivo da queda de cabelo está relacionado com algo interno, como, por exemplo, uma anemia, um pós-parto, problemas na tiroide.
“O óleo de argão não leva a quebra capilar. Já a descoloração, sim, pode levar a quebra capilar”, remata a especialista.
Cuidados a ter na aplicação de óleo de argão no cabelo
Apesar dos benefícios comprovados do óleo de argão, há que ter em conta que a qualidade do óleo de argão pode variar e há preocupações sobre a presença de produtos impuros ou fraudulentos no mercado.
Para garantir a pureza do óleo de argão podem realizar-se análises de forma a detetar possíveis fraudes.
É importante ainda realçar que algumas pessoas podem ter alergia ao óleo de argão.
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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.
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