As manchas escuras fazem parte das principais preocupações referidas nas consultas de dermatologia e nos tratamentos de estética. E, segundo os especialistas, são muito frequentes nas mulheres. Nas redes sociais, uma publicação defende que o uso de óleo de bebé acaba com as manchas escuras na pele. Será esta a solução para o problema? 

O que provoca manchas escuras na pele e quando começam a aparecer?

Susana Costa Oliveira, docente no Instituto Politécnico de Saúde do Norte da Cooperativa de Ensino Superior Politécnico e Universitário (CESPU) e com um master em Estética Avançada, refere que as manchas escuras na pele são muito frequentes, sobretudo em mulheres. 

Em declarações ao Viral, a especialista indica que, aos 40 anos, uma em cada três mulheres tem hiperpigmentação (designação dada às manchas escuras) e, aos 50 anos, a percentagem sobe para 90%. No entanto, estas manchas também podem aparecer antes do período mencionado. 

“É uma das maiores preocupações referidas na consulta de dermatologia ou nos tratamentos de estética”, afirma. 

As manchas escuras, que normalmente têm um formato arredondado, surgem no rosto e no corpo “devido à exposição prolongada ao sol”.  

A professora da CESPU explica que, de uma forma mais simples, a hiperpigmentação é como se fosse “um histórico de exposição solar ao longo da vida”. 

Susana Costa Oliveira adianta que a hiperpigmentação resulta de alterações na síntese de melanina (o principal pigmento biológico envolvido na pigmentação cutânea). Nesse sentido, as manchas escuras aparecem quando a melanina é produzida em excesso. 

“Uma maior hiperatividade destas células resulta no aparecimento de manchas escuras e pode ser causada por diversos fatores endógenos e exógenos”, informa. 

O principal fator do aparecimento de manchas escuras na pele é, como já foi referido, a exposição solar, mas existem outros fatores que devem ser considerados: 

• predisposição hereditária e étnica; 
• utilização de medicamentos (por exemplo: antibióticos e anticoncecionais); 
• fatores hormonais; 
• disfunções endócrinas; 
• gravidez; 
• substâncias fotossensíveis; 
• processos inflamatórios; 
• stress oxidativo; 
• carências ou hiperdosagem de vitaminas; 
• cosméticos mal indicados e tratamentos estéticos e dermatológicos mal realizados. 

Óleo de bebé trata manchas escuras na pele?  

Antes de responder à questão sobre se o óleo de bebé trata manchas escuras na pele, Susana Costa Oliveira diz que, primeiro, é importante perceber a composição dos óleos de bebé. 

A especialista em estética avançada aponta que um dos principais constituintes destas formulações é a parafina líquida (Paraffinum liquidum – nome científico).  

Mas o que é a parafina líquida? Segundo a base de dados de ingredientes cosméticos (Cosing), a parafina líquida é “um óleo mineral derivado do petróleo”. 

Por se tratar de um ingrediente derivado do petróleo, muitas vezes a sua segurança é questionada. Contudo, de acordo com Regulamento (CE) nº 1223/2009 do Parlamento Europeu e do Conselho de 30 de Novembro de 2009, relativo aos produtos cosméticos, “não existe qualquer restrição, quer em termos de utilização, quer em termos de percentagem de utilização do ingrediente nas formulações cosméticas”.   

A função da parafina líquida é impedir a perda de água transepidérmica (TEWL) e conferir um efeito emoliente, devido às propriedades oclusivas.  

“Assim sendo, este ingrediente só é de facto interessante se utilizarmos, em primeiro lugar, um bom hidratante para a pele e selarmos esta hidratação com a parafina. 

Caso contrário, o uso isolado deste ingrediente diariamente, por exemplo, na pele do rosto, acaba por ter um efeito comedogénico (bloqueando e obstruindo os poros), sendo altamente propenso a causar acne e inflamações da pele”, explica.  

Susana Costa Oliveira refere que a correlação entre a parafina líquida e as manchas escuras na pele ainda não possui evidência científica e conclui que “a sua ação nas manchas não tem impacto, até porque as suas funções enquanto ingrediente não estão direcionadas para a hiperpigmentação”.

Em declarações ao Viral, Susana Costa Oliveira esclarece que as formulações existentes no mercado com parafina acabam por conter fragrância, “podendo-se encontrar na lista de ingredientes a palavra ‘parfum’, o que indica provavelmente a incorporação de agentes alergénios, como, por exemplo, Limonene ou Geraniol, cuja aplicação na pele pode criar irritações e reações alérgicas”.   

Susana Costa Oliveira recomenda assim que, numa pele sensível, reativa ou com barreira cutânea danificada, os óleos de bebé “sejam evitados”.  

Qual a forma correta de tratar as manchas escuras na pele? 

Acne, dermatite ou psoríase – todos estes problemas de pele devem ser tratados com a ajuda de um especialista. No caso das manchas escuras, o tratamento passa por estratégias farmacológicas, dermatológicas e estéticas, em que “são utilizados ingredientes ativos com ação anti-inflamatória e antioxidante e ingredientes ativos inibidores da melanogénese”, explica Susana Costa Oliveira ao Viral. 

“Mais do que escolher um ativo é necessário salientar a importância da junção de diferentes áreas de atuação. Uma avaliação correta da pele é fundamental para definir o tratamento mais indicado. A sinergia entre a escolha dos ativos corretos e o tratamento estético e dermatológico adequado permite alcançar um tratamento personalizado e eficaz”, recomenda. 

Como prevenir o aparecimento de manchas escuras na pele? 

Como diz o ditado, “mais vale prevenir do que remediar”. No que toca às indesejadas manchas escuras na pele, Susana Costa Oliveira defende a aplicação de protetor solar SPF 50+ diariamente. “É indispensável para prevenir esta disfunção”, sublinha. 

Contudo, não é só com a radiação ultravioleta que as pessoas devem estar preocupadas. A docente no curso de pós-graduação em Cosmetologia, Estética Avançada e Anti-Aging da CESPU alerta que a prevenção também deve ser feita contra a luz dos ecrãs.  

“Uma vez que a utilização de ecrãs de telemóveis de computadores é frequente na nossa prática diária, o protetor solar deve conter filtros solares que não só nos protejam dos raios solares UVA e UVB, mas também da chamada ‘luz azul’ que faz parte desses ecrãs, assim como a proteção contra os raios vermelhos”, conclui. 

Influenciadores digitais vs evidência científica 

A internet permite que qualquer pessoa difunda informação a partir de qualquer lugar. Mas, muitas vezes, o internauta depara-se com informação falsa. 

A saúde é uma das áreas que tem sido usada para passar mensagens falsas. São inúmeros os sites que “vendem” a mezinha milagrosa que vai tratar determinada doença.  

Além dos sites, também existem os chamados “influencers”, que recomendam o uso de certos produtos para a celulite, para emagrecer, para tratar a acne, etc.

Susana Costa Oliveira alerta para o facto de estas pessoas, por vezes, não terem formação profissional adequada. No entanto, a especialista considera que, devido ao elevado número de seguidores nas redes sociais, os influenciadores digitais “condicionam as escolhas dos internautas com as suas próprias escolhas, sendo vistos como a solução para todos os problemas”.

“A evidência científica e o aconselhamento por profissionais habilitados são essenciais não só para uma correta avaliação da pele, mas também para uma correta escolha dos ingredientes ativos e da cosmeticidade dos produtos cosméticos a utilizar na pele”, conclui.