

Tomar uma colher de azeite em jejum queima gordura abdominal?
Num vídeo do TikTok, alega-se que tomar uma colher de azeite em jejum queima gordura abdominal.
O autor do vídeo, que se apresenta com um estetoscópio ao pescoço como se fosse um médico, alega que “está comprovado” que esta prática “funciona mesmo”. Para o efeito, diz, que o azeite tem de ser ingerido todos os dias em jejum.
De seguida, o autor do vídeo, que tem mais de 2 milhões de seguidores no TikTok, explica que o azeite tem “ácidos que ajudam a queimar gordura abdominal”. Mas terão estas alegações fundamento?
É verdade que tomar uma colher de azeite em jejum queima gordura abdominal?
Em declarações ao Viral, Gabriela Ribeiro, nutricionista no Hospital CUF Descobertas, professora auxiliar na NOVA Medical School e mestre em Doenças Metabólicas e Comportamento Alimentar, adianta que é um “mito” que tomar uma colher de azeite em jejum queima gordura abdominal.
A nutricionista explica que “não há evidência científica” que comprove esta alegação, sublinhando que esta tese resulta, “possivelmente, de uma procura por uma solução milagrosa”.
De forma geral, as “tendências milagrosas” têm sempre um “fator x” – neste caso o jejum – que as tornam mais apelativas, indica a nutricionista.
Gabriela Ribeiro esclarece que existe, sim, evidência dos benefícios do azeite extra-virgem para a saúde cardiovascular “no contexto de uma dieta do tipo mediterrânica”.
É o caso do estudo espanhol da PREDIMED, publicado em 2018 no The New England Journal of Medicine, que mostrou que, em pessoas com alto risco cardiovascular, a incidência de eventos cardiovasculares foi “menor” entre as pessoas com dieta mediterrânica com azeite extra-virgem ou nozes quando comparada com pessoas com dieta com baixo teor de gordura.
Também José Pedro Sousa, cardiologista do Instituto Português de Oncologia do Porto Francisco Gentil e membro da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, já tinha dito, em declarações ao Viral, que a evidência científica é “favorável” à tese de que o azeite reduz o risco de doença cardiovascular.
Uma meta-análise de 2022, que incluiu 13 estudos, também concluiu que o consumo de azeite foi associado a “riscos reduzidos de eventos de doenças cardiovasculares e mortalidade”.
No entanto, sublinha Gabriela Ribeiro, “isto não significa” que o consumo de azeite isoladamente tenha “os mesmos benefícios” ou efeitos “tão específicos” como a redução da gordura abdominal.
Além disso, como o Viral já verificou noutros artigos (como este), não há nenhum suplemento, alimento ou medicamento que permita perder gordura numa área específica do corpo. A perda de gordura ocorre de forma generalizada. Não é possível “escolher” em que zona do corpo se perde gordura.
O que é a gordura abdominal e como a reduzir?
A gordura abdominal, quando presente em excesso, pode ser um indicador de gordura visceral, explica Gabriela Ribeiro.
A nutricionista alerta que a gordura visceral é um tipo de gordura que, por estar em contacto com diversos órgãos, tem um “papel metabólico mais expressivo” do que, por exemplo, a gordura subcutânea, que se encontra mais à superfície.
No mesmo sentido, a Harvard Medical School refere, num artigo informativo, que a gordura visceral é um “problema maior” do que a subcutânea. É uma “peça-chave” para uma “variedade de problemas de saúde”.
O perímetro da cintura tem sido usado como um parâmetro de saúde metabólica, adianta a nutricionista: o aumento deste perímetro tem sido associado a doenças cardiovasculares e a diabetes tipo II.
A forma “mais eficaz” de reduzir a gordura abdominal depende “da pessoa em questão”, esclarece a mestre em Doenças Metabólicas e Comportamento Alimentar, mais concretamente “do seu estado de saúde, dos hábitos, preferências e perfil bioquímico”.
Em boa parte dos casos, a intervenção passará por “mudanças de estilo de vida” a nível da alimentação, atividade física, sono, entre outros. No entanto, poderão ser necessários “outros tipos de intervenções”. Nesse sentido, refere a nutricionista, é importante procurar ajuda profissional.
