Com que frequência devemos ir ao médico?
Somos todos diferentes. Por isso, a resposta à pergunta “Com que frequência devemos ir ao médico?” varia de pessoa para pessoa. Quem o explica, em declarações ao Viral, são os especialistas em Medicina Geral e Familiar, João Ramos e Luís Paulino Pereira.
Luís Paulino Pereira adianta ser “particularmente importante ir ao médico quando se começa a sentir qualquer problema ou sintoma que não é normal”. Na ausência de sintomas, quem define “o padrão” – ou seja, o número de consultas e o intervalo entre as mesmas – “deve ser o médico assistente”.
No mesmo sentido, João Ramos descreve a frequência com que vamos ao médico como “um fato à medida” que varia consoante a idade, as patologias, os fatores de risco, os antecedentes familiares e a medicação de cada utente.
Na infância e na terceira idade, com que frequência devemos ir ao médico?
Do nascimento até aos 18 anos (a chamada “idade pediátrica”), as idas ao médico estão “mais balizadas” e seguem o esquema determinado por uma norma da Direção-Geral da Saúde, esclarece João Ramos.
Segundo o autor do livro “Um médico para toda a família”, nos primeiros anos de vida, as consultas de vigilância “são pouco intervaladas no tempo”. A partir dos dois anos, começam a ser mais espaçadas, com um intervalo de um ou dois anos entre si.
Por outro lado, continua o médico, “quanto mais idade temos, mais probabilidade temos de ter outras doenças”. Por isso, no caso dos idosos, é necessário apertar a vigilância.
“Nessas idades, faz sentido – mesmo que as pessoas não tenham sintomas – andarmos mais atentos, por exemplo, ao aparelho cardiovascular”, sustenta.
João Ramos avança, por exemplo, que “há pessoas que chegam aos 80 anos sem nunca terem feito um Holter, um exame que permite perceber se a pessoa tem uma arritmia”. Estas situações, sublinha, podem ter consequências negativas, dado que “algumas arritmias podem ser potencialmente fatais e têm de ser medicadas”.
Além disso, é importante o médico estar atento às doenças metabólicas, enquanto “fatores de risco”, e às doenças degenerativas (como as demências), que “aumentam em número” com a idade.
Quais as doenças que exigem mais vigilância ao longo da vida?
Se, por um lado, uma consulta anual pode ser suficiente para quem não tem sintomas, fatores de risco ou problemas de saúde, por outro, quem tem determinadas patologias tem de ir mais vezes ao médico.
É o caso dos diabéticos que, segundo Luís Paulino Pereira, precisam de um acompanhamento mais próximo e de consultar o médico assistente, pelo menos, “três vezes por ano”.
No mesmo plano, João Ramos esclarece que, “quando temos alguém com diabetes, temos de fazer uma análise – o exame da hemoglobina glicada – de 4 em 4 meses, idealmente”.
“Por aí, essa pessoa à partida vai ter muito mais consultas e mais análises do que outra pessoa que não tenha diabetes”, acrescenta.
Na visão de Luís Paulino Pereira, também “os hipertensos” e as pessoas com “dislipidemia” (níveis anómalos de lípidos no sangue) merecem atenção redobrada.
Que rastreios devemos fazer ao longo da vida?
Para João Ramos, é preciso desmistificar a ideia de que toda a gente deve fazer um “check-up anual”. Isto é, na perspetiva do médico, a crença de que – independentemente da idade, das patologias e dos fatores de riscos – qualquer pessoa deve fazer análises completas todos os anos, “na maior parte das vezes, não é verdade”.
“O bom senso diz que a pessoa até poderia ser consultada uma vez por ano, mas não necessariamente fazer análises ou exames todos os anos. Isso poderia ser feito de dois em dois anos”, defende.
Ainda assim, João Ramos reforça que a frequência com que se faz análises e exames deve ser analisada pelo médico assistente caso a caso.
Por outro prisma, o médico ressalva a importância de cumprir os vários rastreios mais importantes ao longo da vida. A título de exemplo, João Ramos refere que as mulheres devem fazer o “rastreio do cancro do colo do útero e das patologias da mama” consoante as recomendações dos profissionais de saúde que as acompanham, sendo frequente aconselhar-se as mamografias a partir dos 40 anos.
Num panorama mais geral, é importante fazer exames como “a colonoscopia e endoscopia digestiva alta” a partir dos 50 anos.
Outro exemplo referido pelo médico é o de “uma mulher pós-menopáusica que, mesmo sem sintomas, deve fazer a primeira densitometria óssea [exame que mede a densidade dos ossos e tem um papel importante no diagnóstico da osteoporose] aos 65 anos”.
Luís Paulino Pereira considera também relevante, a partir dos 50 anos, “fazer o PSA” (Antigénio Específico da Próstata), um exame que permite perceber qual o estado de saúde da próstata.
João Ramos frisa que a existência de fatores de risco e de antecedentes familiares para determinadas patologias pode antecipar a fase da vida em que se fazem determinados rastreios.
Por exemplo, no caso da colonoscopia e da endoscopia digestiva alta, “se tivermos alguém que tenha muitos fatores de risco, com várias pessoas da família que já tenham tido cancros gástricos, nós antecipamo-nos”.
“Até há consultas de risco oncológico que podem ajudar as pessoas a perceber quando é que está na altura de fazer estes rastreios”, completa.
Outro dos fatores que influencia com que frequência devemos ir ao médico é a toma de “medicação crónica para determinadas doenças”, clarifica João Ramos.
“Por exemplo, em pessoas que estão a tomar corticóides ou imunossupressores temos de estar mais atentos à qualidade do osso. Aí, se calhar, temos de antecipar alguns exames como a densitometria”, conclui.
Em suma, a frequência com que se deve ir a uma consulta médica varia de pessoa para pessoa – consoante a existência (ou inexistência) de sintomas, a idade, os fatores de risco, as patologias, a toma de medicação e os antecedentes familiares, entre outros fatores – e deve ser determinada pelo médico assistente.
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