Quando a dor ataca e é necessário recorrer a um comprimido, é comum ouvir-se a recomendação de nunca tomar medicamentos com leite, sumos ou chás. Por trás deste conselho está a ideia de que estas bebidas vão reduzir a eficácia dos medicamentos. Mas será mesmo assim?

É verdade que nunca se pode tomar medicamentos com leite, sumos ou chás?

A tese de que nunca se pode tomar medicamentos com leite, sumo ou chás é “um dos maiores mitos relacionados com a medicação”. Quem o afirma é Paulo Santos, médico de Medicina Geral e Familiar e professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).

Em declarações ao Viral, o médico explica que, embora alguns alimentos (como o leite) possam interagir com determinados medicamentos e alterar a sua eficácia, isso não acontece com todos os fármacos, pelo que é falsa a ideia de que nenhum medicamento pode ser tomado com leite ou com outras bebidas.

Na perspetiva do professor da FMUP, boa parte dos medicamentos hoje comercializados “não tem interações [com alimentos] que sejam relevantes do ponto de vista clínico”. Aliás, lembra o clínico, há alguns medicamentos que podem até ser “melhor absorvidos se forem tomados com alimentos, nomeadamente com leite”.

Ainda assim, reforça Paulo Santos, a toma de medicamentos com leite, sumos ou chás deve ser sempre analisada caso a caso e cabe ao médico que prescreve o fármaco indicar o “ritual de toma”. Por exemplo, o prescritor deve dizer ao utente se aquele medicamento tem de ser tomado em jejum ou após uma refeição ou se tem alguma interação com bebidas ou alimentos específicos.

Paulo Santos considera ainda que o próprio utente deve ter “a responsabilidade de ler a bula (folheto informativo disponível na embalagem dos fármacos) e perceber se há alguma interação a ter em conta”.

Por outro lado, a farmacêutica Teresa Lourenço esclarece que essas questões também podem ser levantadas “no balcão da farmácia” no momento da compra do fármaco. Tendo em conta que alguns alimentos poderão “interferir com a absorção de alguns princípios ativos”, a diretora técnica da Farmácia Parque do Estoril recomenda que, em caso de dúvida, os medicamentos sejam tomados com água.

Quais as interações a ter em conta?

Questionado sobre quais as interações comuns entre bebidas e medicamentos, Paulo Santos começa por referir um dos exemplos mais descritos na literatura científica: a toranja.

“A toranja tem um conjunto enorme de interações com muitos medicamentos. Isso tem que ver com alterações ao nível do fígado, com o circuito de metabolização do medicamento ao nível do fígado, e faz com que alguns medicamentos, como alguns antibióticos ou antifúngicos, não possam ser tomados com sumo de toranja”, sustenta.

Neste plano, o médico frisa que a interação não acontece apenas ao tomar-se o medicamento com um copo sumo de toranja, mas também caso se tome esta bebida “duas ou três horas depois” da toma do fármaco.

Outro exemplo registado, acrescenta, é o extrato de ginkgo biloba, que “tem um conjunto de interações, por exemplo, com os medicamentos para a pressão arterial”

Por fim, conclui, os medicamentos para a osteoporose “têm de ser tomados em jejum com um copo de água” e “não podem ser tomados com leite porque isso vai interferir com a absorção”.

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