A “coffee nap”, uma técnica que consiste em beber café antes de fazer uma sesta, está a ser promovida nas redes sociais pelos seus supostos benefícios.

Numa dessas publicações escreve-se que, por exemplo, beber uma caneca de café antes de dormir “uma sesta de 20 minutos” permite atingir um “impulso máximo de energia”. Mas o que diz a ciência sobre os alegados benefícios da “coffee nap”?

A “coffee nap” aumenta os níveis de energia e de vigilância?

Existem vários estudos que analisam o comportamento do ser humano após uma sesta e após uma “coffee nap”. No entanto, ainda há dúvidas sobre qual o principal fator que contribui para os resultados obtidos.

Em declarações ao Viral, Teresa Rebelo Pinto, psicóloga, somnologista e fundadora da Clínica Teresa Rebelo Pinto – Psicologia&Sono, começa por explicar que, embora alguns estudos sugiram que a “coffee nap” pode ajudar no “aumento dos níveis de vigilância ou de alerta” e na “redução da fadiga subjetiva nos momentos após a sesta”, há ainda “pouca evidência sobre os mecanismos subjacentes a estes resultados”.

A psicóloga refere que, por exemplo, “o facto de termos um sono diferente quando a sesta foi antecedida por um café” e “a expectativa de ficarmos mais despertos quando consumimos cafeína” podem influenciar os resultados obtidos.

De facto, prossegue Teresa Rebelo Pinto, “o café é eficaz a aumentar o estado de vigília do indivíduo” e “as sestas são eficazes a reduzir a sonolência”. Por isso, teoricamente, a combinação dos dois pode ser mais eficaz. 

“Alguns estudos mostram que a ‘coffee nap’ aumenta ligeiramente a eficácia do objetivo, que é ficar mais acordado”, acrescenta.

Exemplo disso é um estudo clínico publicado em 2003 que comparou cinco cenários: uma sesta de 20 minutos; a ingestão 200 mg de cafeína seguida de sesta; a exposição a luz intensa durante um minuto após a sesta; e a lavagem da cara e dos olhos com água logo a seguir à sesta. 

Nesse estudo, os investigadores concluíram que a combinação da cafeína com a sesta foi o cenário “mais eficaz para a sonolência subjetiva” e para “os níveis de desempenho”, reforçando que estes “efeitos duraram uma hora após a sesta”. 

O cenário em que o indivíduo foi exposto a uma luz intensa apresentou resultados semelhantes no que toca à sonolência, mas não no que aos níveis de performance diz respeito.

Mais recentemente, um artigo publicado em 2020 verificou que “o consumo de café imediatamente antes de uma sesta” demonstrou uma melhoria no “estado de alerta durante o dia”, mas não permitiu concluir “se a ‘coffee nap’ é eficaz a reduzir a inércia do sono durante a noite”.

Os investigadores juntaram uma sesta de curta duração com a ingestão de cafeína às 03h30 (madrugada) para perceber o efeito desta combinação na performance de trabalhadores noturnos. “Comparado com o placebo, a ‘coffee nap’ resulta numa melhoria da atenção vigilante e da fadiga subjetiva nos 45 minutos após a sesta”, concluíram.

Neste prisma, Teresa Rebelo Pinto pondera que a ‘coffee nap’ poderá “ser particularmente útil para trabalhadores por turnos ou para condutores de longa duração, na medida em que parece contribuir para a redução significativa do risco de incidentes associados à sonolência nestes grupos”.

Por outro lado, o neurofisiologista e investigador da Universidade do Porto António Martins da Silva considera que “os diversos estudos sobre este assunto são dificilmente comparáveis”, embora coincidam na conclusão de que “a sesta é, em si – e independentemente da associação com a cafeína – , um fator de melhoria das capacidades (performances) físicas e intelectuais”.

“Mesmo nessa associação, a melhoria depende mais das condições e características individuais do que propriamente da associação de cafeína à sesta”, sustenta o neurofisiologista.

Quando se deve fazer a sesta? E quando se deve evitar?

Em Espanha existe a tradição de fazer uma sesta depois do almoço. Os ‘nuestros hermanos’ têm razão numa coisa: é após a refeição do meio-dia que as sestas são mais eficazes.

“De acordo com o ritmo circadiano, e tendo em conta que os humanos são seres diurnos, é por volta da hora do almoço que aparece uma segunda janela de sono”, esclarece Teresa Rebelo Pinto.

“Esta janela pode ser usada para uma sesta – entre 10 e 20 minutos – que pode ser muito refrescante”, prossegue a especialista. Este momento de descanso vai também “diminuir a pressão do sono”, apresentando benefícios ao nível cognitivo.

No entanto, importa ressalvar que estes benefícios podem não ser iguais para todas as pessoas e que há situações em que dormir durante o dia é contraindicado. 

Indivíduos com enxaquecas, insónias ou epilepsia, por exemplo, não devem dormir a sesta. 

Além disso, a reação perante a sesta pode variar de pessoa para pessoa: há indivíduos que não se sentem bem a dormir à tarde, seja por terem maior dificuldade em adormecer, seja por ficarem mal dispostos depois de acordarem.

O consumo de cafeína também é desaconselhado em várias situações, nomeadamente em alguns casos de enxaquecas crónicas, insónias ou perturbações do sono.

Além disso, refere a psicóloga, “dormir bem durante a noite é a estratégia mais eficaz para manter um bom desempenho e bem-estar durante o dia”. Por isso, vinca, a “coffee nap” não substitui “o sono noturno nem resolve todos os problemas de sono”.

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