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A sua vida gira à volta da Taylor Swift? O que separa a admiração da obsessão

19 Abr 2024 - 08:30

A sua vida gira à volta da Taylor Swift? O que separa a admiração da obsessão

À hora em que este texto é publicado, milhões de pessoas em todo o mundo estarão a ouvir o novo álbum de Taylor Swift, “The Tortured Poets Department”, lançado esta madrugada. Muitas terão, inclusive, passado a noite em claro para poderem desfrutar, em primeira mão, das novas canções da artista que está a esgotar estádios com a sua digressão internacional (“The Eras Tour”).

A popularidade da cantora e autora de êxitos como “Love Story”, “Cruel Summer” e “Cardigan” tem crescido a olhos vistos, nos últimos anos, com sucessivos recordes de vendas e de streams, alimentados por uma legião de fãs, conhecidos como swifties.

Formada por pessoas de diferentes países, culturas e idades, é nas redes sociais – e com especial força no TikTok – que a comunidade swiftie encontra um território comum, onde, diariamente, acompanha e divulga o trabalho da artista e cria teorias (umas mais reais do que outras) sobre a sua vida pessoal e profissional

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E se, em muitos casos, a admiração por Taylor Swift – ou por qualquer outro artista – está dentro dos limites aparentemente saudáveis, noutros, a “devoção” é tão intensa que alguns fãs se gravam a chorar por não terem conseguido bilhete para um determinado concerto ou confessam (e nem sempre de forma irónica) ter posto a sua segurança financeira em risco para poderem assistir a um espetáculo.

Mas quando é que a admiração por uma celebridade passa a ser uma obsessão? Quais os sinais de alerta? E como ajudar alguém que esteja a passar por esta situação? Em declarações ao Viral, Ana Lage Ferreira, psicóloga e membro da direção da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP), ajuda a responder a estas perguntas.

Quando é que a admiração por uma celebridade deixa de ser saudável?

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A fronteira entre a admiração e a obsessão por uma celebridade é “ténue” e traçar a linha entre o saudável e o patológico nem sempre é fácil, começa por explicar Ana Lage Ferreira.

Regra geral, adianta a psicóloga, “podemos falar de admiração quando o trabalho, os conteúdos, o comportamento, a atitude, a forma de estar e de falar ou as ideias de outras pessoas nos inspiram de alguma forma” ou quando nos “identificamos” com essas características, o que “pode acontecer quer em relação a uma celebridade, quer em relação a qualquer outra pessoa”.

E, lembra, a admiração pelas particularidades e pelos valores de uma celebridade até pode ter resultados positivos: “Pode, por exemplo, inspirar-me, fazer-me pensar na minha maneira de funcionar, levar-me a questionar-me sobre a maneira como eu penso, interajo ou me comporto, e fazer-me querer evoluir e melhorar também na minha forma de estar e de ser”.

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Por outro lado, a linha entre o saudável e o patológico começa a traçar-se quando esta estima por uma determinada celebridade deixa de “acrescentar e de melhorar o nosso funcionamento e passa, pelo contrário, a prejudicá-lo e a ter uma interferência negativa”.

“Isto pode acontecer, por exemplo, quando as realizações, as atividades e o trabalho da pessoa não só já não me inspiram, como ainda me tolhem e me diminuem, porque me fazem ter pensamentos do tipo: ‘eu nunca vou ser assim’ ou ‘aquela pessoa é muito melhor do que eu’”, aponta Ana Lage Ferreira.

É também motivo de preocupação quando a “existência” do fã é definida apenas pela sua relação com a celebridade em causa. Ou seja, exemplifica a psicóloga, “quando a vida daquela pessoa que eu estou a seguir, e que antes apenas admirava, agora preenche e contamina toda a minha vida”.

“Isto é, eu passo a pensar, a agir, a comportar-me e até a ver o mundo como aquela pessoa. Quase que deixo que a identidade da outra pessoa invada a minha e eu fico, depois, desprovida da minha identidade”, completa.

Além destes impactos negativos a nível individual, “pode haver também uma disfunção, uma alteração ou uma interferência na atividade geral” e na vida social, familiar e profissional da pessoa.

Desde logo, por exemplo, quando “deixa de interagir com pessoas que não gostam dessa celebridade” ou quando “todo o seu dia a dia passa a funcionar em função do que aquele artista diz ou faz”, começando a faltar ao trabalho ou à escola, ou a deixar de praticar um determinado desporto, para conseguir acompanhar o trabalho e as atualizações das redes sociais dessa celebridade. Por outras palavras, quando passa a gerir o seu calendário “em função das necessidades e da organização de outrem”.

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A psicóloga ressalva, contudo, que tudo isto é diferente de algo – que pode ser saudável e natural – como “querer ver um concerto e, antecipadamente, organizar a viagem e o calendário para poder ir a esse espetáculo”.

“A questão essencial é perceber o que eu sacrifico ou aquilo de que abdico, na minha vida e no meu dia a dia, para que isto aconteça. E, muitas vezes, a linha é muito ténue”, reitera.

Pode ser um sinal de alerta, por exemplo, “se, para seguir esta banda, deixar de ter férias com a minha família ou de sair com os meus amigos, porque agora só quero ir aos concertos e fico sem dinheiro livre para poder fazer outro tipo de férias ou de atividades”.

Assim sendo, conclui Ana Lage Ferreira, é necessário olhar para esta questão “como um espetro, um contínuo, em que a fronteira entre aquilo que deixa de ser admiração, entusiasmo e alegria passa a ser este prejuízo, esta invasão do meu dia a dia e das coisas que eu faço”.

Tenho um amigo ou familiar obcecado por uma celebridade: Como ajudar?

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Se, ao ler os parágrafos anteriores, encontrou alguns sinais de alerta que o levam a pensar que, se calhar, um amigo ou familiar pode estar a desenvolver uma obsessão pouco saudável por uma celebridade, é provável que esteja a questionar-se sobre como pode ajudar essa pessoa a sair dessa situação.

Na perspetiva de Ana Lage Ferreira, numa fase inicial, é necessário “trazer o assunto para cima da mesa” e ajudar a pessoa a ganhar consciência do problema.

Além disso, aconselha, é fundamental evitar que a pessoa se isole e “impedir que o mundo dela se torne apenas aquilo”, convidando-a e integrando-a noutro tipo de atividades, como “jantares em família” ou “encontros com amigos”.

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A psicóloga consultada pelo Viral insiste que, embora nem sempre seja fácil, não se deve ignorar ou desvalorizar a situação: “Não devemos desistir de puxar essa pessoa e de a trazer para a rotina e para um ambiente normal do quotidiano e da vida em que ela está inserida: seja na família, na escola ou no trabalho”.

Quando a situação começa a agravar-se e esse amigo ou familiar deixa, por exemplo, de sair de casa ou de cumprir determinadas tarefas devido a esta obsessão, é altura de “procurar ajuda profissional” para lidar com o problema.

Como, muitas vezes, a pessoa que sofre com esta obsessão não tem noção de que aquele comportamento não é saudável, num primeiro momento, pode ser útil o próprio amigo ou familiar que a quer ajudar consultar um profissional sobre qual a maneira de lidar com isso”.

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“Por vezes, precisamos de, indiretamente, ir buscar essa ajuda, esse suporte, para sabermos como lidar de uma forma mais construtiva, mais positiva com a situação e para percebermos, tendo em conta as características daquela pessoa em particular, como podemos ajudá-la de uma forma mais adequada”, remata.

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Saúde mental

Etiquetas:

Celebridades | Taylor Swift

19 Abr 2024 - 08:30

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