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Candida auris. Como prevenir e tratar o fungo que preocupa os EUA

28 Mar 2023 - 09:33

Candida auris. Como prevenir e tratar o fungo que preocupa os EUA

O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos da América emitiu um alerta para o crescimento “alarmante” do número de casos de infeções pelo fungo Candida auris que tem “causado doenças graves em doentes hospitalizados”.

Em alguns doentes, lê-se no site do mesmo organismo, este fungo “pode entrar na corrente sanguínea e espalhar-se por todo o corpo, causando infecções invasivas graves”.

 Afinal, como se desenvolve este fungo? Quais os sintomas? É fatal?  Como prevenir e tratar a Candida auris? E existem casos em Portugal?

O que é o fungo Candida auris? Existem casos em Portugal?

Candida auris

Contactada pelo Viral, fonte oficial da Direção-Geral da Saúde (DGS) garante que “as redes do Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistências a Antimicrobianos (PPCIRA/DGS) conhecem o alerta e até à data não foi identificada situação semelhante à reportada noutros países”. 

Como avança a DGS, “a Candida auris é um fungo patogénico que foi identificado pela primeira vez em 2009, no Japão“. Já os primeiros surtos, acrescenta a mesma fonte, foram identificados em 2016 “no Reino Unido e em Espanha”. 

Mais recentemente, “em especial desde 2019, foi detetado um aumento de prevalência em doentes acamados graves, com pouca capacidade de resposta imunitária geral”.

No mesmo sentido, nos últimos dias surgiu um alerta nos Estados Unidos. Como refere a médica em saúde pública, Raquel Vareda, os números registados nos EUA “passaram para alguns milhares anuais”. 

Segundo a especialista, o país reportou “menos de 2500 casos no ano passado”. No entanto, contrapõe, “estamos a falar de um país com milhões e milhões de pessoas, por isso, não é super significativo, mas é significativo o suficiente para nos preocupar“. Isto porque, conclui, “é uma infeção muito grave e muito resistente aos medicamentos que temos atualmente”. 

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Como é feito o diagnóstico?

Candida auris

A DGS garante que os sintomas da infeção por Candida auris são “febre, calafrios, suores e pressão arterial baixa”. Contudo, Mário Jorge Santos, médico especialista em saúde pública, explica que o diagnóstico não é feito apenas através dos sintomas.

“Ela [Candida auris] não é identificada pelos métodos habituais dos laboratórios”, salienta o médico. Para a identificar “é necessário pensar nela”, o que pode levar a um diagnóstico mais tardio.

Aliás, destaca Raquel Vareda, “é difícil detetar fungos mesmo se soubermos aquilo que queremos procurar, porque os testes que nós temos não são muito bons”. 

Na visão da especialista, o que acontece é que os sintomas são muito semelhantes àqueles que se manifestam em infeções bacterianas e, no caso de fungos como a Candida auris, só se percebe do que se trata quando “medicamos a pessoa com antibióticos e não passa”. 

Só aí é que se começa a “pesquisar por fungos”, admite. Ainda assim, “por regra, nunca se pesquisaria, num hospital português”, pela Candida auris.

Segundo Raquel Vareda, “neste momento, não temos em Portugal nenhum teste que as pessoas possam fazer” para identificar a presença deste fungo. Portanto, acrescenta Mário Jorge Santos, “a dificuldade no diagnóstico, ou seja, a identificação do agente, é um dos motivos que causam a severidade da doença”. 

A mesma informação consta do site do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos da América, onde se pode ler que “são necessários métodos laboratoriais especializados para identificar com precisão a C. auris”.

“Técnicas laboratoriais convencionais podem levar a uma identificação errada e a uma gestão inadequada, tornando difícil controlar a propagação da C. auris em ambientes de cuidados de saúde”, adianta a mesma fonte.

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Como se transmite e quais os cuidados a ter?

Candida auris

Como esclarece Mário Jorge Santos, “esta é uma infecção hospitalar”, ou seja, “está associada aos cuidados de saúde”. Tal como os outros fungos, este também “existe no ambiente e pode permanecer nas superfícies durante semanas e multiplicar-se”, acrescenta.

Portanto, “quando se instala num determinado equipamento de saúde, num serviço de internamento hospitalar, numa unidade de cuidados intensivos, ou mesmo em lares” (como já foi relatado), há a tendência de provocar surtos e iniciar-se uma cadeia de transmissão”, atenta o médico.

Assim, “as precauções básicas de controlo de infeção são logo a primeira grande linha de prevenção deste agente e de muitos outros”, realça. No mesmo sentido, a DGS considera importante o seguimento de medidas gerais de limpeza ambiental, esterilização de equipamentos médicos e isolamento de doentes colonizados com Candida auris”.

Quem está mais vulnerável? Qual o tratamento?

Candida auris

“Os grupos mais suscetíveis são os doentes idosos, acamados e entubados”, alerta a DGS. Mário Jorge Santos realça ainda o perigo que este fungo pode apresentar para pessoas “com doenças oncológicas, por exemplo, ou doenças que diminuam a imunidade, com o HIV”. 

Além disso, o Candida auris também pode ser prejudicial para “pessoas que foram recentemente sujeitas a uma cirurgia”. Portanto, resume Raquel Vareda, “estamos a falar de pessoas com outras doenças associadas e/ou que estão muito fragilizadas”.

Em contrapartida, “os fungos, regra geral, não afetam pessoas saudáveis, pelo menos até agora”, assegura a médica de saúde pública. No entanto, as pessoas ditas “saudáveis” podem transmitir para a população vulnerável. 

Este fungo torna-se um problema ainda maior, porque “tem apresentado resistência a antifúngicos”, avisa a Direção-Geral da Saúde. Por isso, “o tratamento requer a utilização de combinação de antifúngicos habitualmente utilizados para colonizações por fungos e doses mais elevadas”.

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Aliás, completa Raquel Vareda, “aquilo que temos verificado nos casos dos Estados Unidos é que muitos dos casos são resistentes a todos os antifúngicos disponíveis”. Isto porque, não há muita medicação para estes casos, já que, “até recentemente, os fungos não eram propriamente uma preocupação para a saúde humana”, garante.

“Infelizmente”, continua a mesma fonte, “com as alterações climáticas começou a aumentar o número de casos e a gravidade das infeções por fungos”. Porquê? “O nosso corpo funciona mais ou menos entre os 36 e os 37 graus”, contextualiza a médica.

Por outro lado, “os fungos vivem no solo, entre os 32 e os 33 graus”. Assim sendo, o aumento da temperatura obrigou “os fungos a evoluírem para conseguirem resistir a temperaturas mais elevadas”, explica.

Nesse sentido, por conseguirem viver em temperaturas altas – como as do corpo humano – têm “mais facilidade em infetar-nos e causar doença”, sustenta. 

“E não é apenas a Candida auris”, avisa. No ano passado, “a Organização Mundial da Saúde emitiu uma lista de fungos preocupantes para a saúde humana”, aponta. 

A dificuldade de diagnóstico e de tratamento associadas “implicam uma maior gravidade e uma maior letalidade em relação a outros fungos deste grupo”, refere Mário Jorge Santos.

Segundo o médico de saúde pública, a letalidade – “taxa de pessoas infetadas com uma determinada doença que morrem” – “situa-se na ordem dos 30% a 50%”. Por outras palavras, “um em cada três doentes acaba por morrer”, afirma Raquel Vareda.

Apesar disso, a DGS assegura que “as técnicas de identificação mais recentes e mais eficientes, os novos antifúngicos e as medidas de controle de infeção têm permitido um controle da doença”.

Raquel Vareda também considera que, atualmente, a situação não é muito dramática. “Não é uma preocupação para a população geral, ainda”, conclui.

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Categorias:

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28 Mar 2023 - 09:33

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