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Esterilizar ou não esterilizar: O que é melhor para o meu animal?

A pergunta é muito comum entre os tutores de animais de companhia, pelas implicações que a esterilização pode ter na saúde de cães e gatos. Uma médica veterinária com diferenciação em medicina de reprodução de pequenos animais explica ao Viral os prós e contras da esterilização.

1 Mai 2024 - 07:16

Esterilizar ou não esterilizar: O que é melhor para o meu animal?

A pergunta é muito comum entre os tutores de animais de companhia, pelas implicações que a esterilização pode ter na saúde de cães e gatos. Uma médica veterinária com diferenciação em medicina de reprodução de pequenos animais explica ao Viral os prós e contras da esterilização.

Seja por dúvidas relacionadas com a saúde do animal, seja por questões associadas aos custos económicos do procedimento, muitos tutores de cães e de gatos têm hesitações sobre o que fazer no que diz respeito à esterilização do animal de companhia. Luísa Mateus, professora associada da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa (FMVUL), responde a algumas das principais dúvidas que se ouvem nos consultórios veterinários sobre esta matéria.

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Esterilizar é benéfico para o animal de companhia?

A médica veterinária e responsável pelo Centro de Reprodução do Hospital Escolar da FMVUL explica que “não existe uma recomendação universal que se adeque a todos os animais e os prós e contras da esterilização de um determinado animal deverão ser discutidos com o médico veterinário”.

Até há alguns anos “a resposta era afirmativa e até era aconselhado fazer-se a esterilização o mais precocemente possível, principalmente se fosse uma cadela, por forma a evitar-se o aparecimento de tumores mamários”, lembra Luísa Mateus.

Contudo, “atualmente, esta ideia começa a ser posta em causa”, embora se mantenha o princípio do benefício para as gatas, pois estudos recentes “começam a ligar a esterilização precoce com problemas de saúde mais tarde na vida do animal”, nomeadamente nos cães e nas cadelas de maior porte.

Ainda assim, Luísa Mateus sublinha que não se trata “de uma questão de estar a desencorajar a esterilização, mas o evitar que uma cadela ou uma gata se reproduza ou a alegação de que o cão vai ficar mais calmo não podem ser a única razão para que se promova a esterilização indiscriminada”.

E o que implica esterilizar um animal de companhia? 

O ato de esterilizar, como princípio básico, é o método que visa impedir a reprodução indesejada do animal.

Em termos clínicos, explica a médica veterinária, “a esterilização em cães e gatos é um procedimento cirúrgico rotineiro utilizado para evitar a reprodução de um modo definitivo”. 

Nos machos, seja cão ou gato, “a esterilização é também chamada de castração e consiste na remoção dos testículos (orquiectomia)”, explica a médica veterinária, enquanto nas fêmeas “consiste na remoção dos ovários e útero (ovariohisterectomia) ou somente dos ovários (ovariectomia)”.

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Ambos os procedimentos são efetuados por um médico veterinário, exigem a utilização de anestesia geral e os animais têm de ser “sujeitos a um rigoroso controlo de dor, devendo sempre ser efetuada uma avaliação prévia do animal, de modo a garantir o seu estado de saúde e, assim, ter uma maior segurança anestésica”.

A esterilização é sempre uma decisão individual dos tutores dos animais, salvo as exceções consagradas na legislação. Como recorda Luísa Mateus, “por lei, a esterilização é obrigatória nos cães perigosos e nos cães de raças consideradas potencialmente perigosas não inscritos em livros de origens [livros de descrição das espécies de raça pura]”.

Além disso, também a maioria dos gatis e canis municipais entregam os animais para adoção após estes estarem esterilizados, ou dão um “cheque de esterilização” para que esta seja feita pelo tutor após a adoção, “por forma a combater a sobrepopulação animal”, tanto pelo convívio com outros animais na futura habitação, como em caso de abandono ou de fuga.

Qual a idade ideal para realizar a esterilização?

Na realidade, “não há uma idade considerada ideal” para realizar a esterilização de cães e gatos.

A médica veterinária diz que, “nos gatos, por questões comportamentais e de saúde, normalmente, a idade à castração é mais precoce, até aos 6-9 meses de idade, mas também devemos ter em conta a raça”.  

No caso dos cães, “idealmente, a esterilização não deveria ser feita antes de o animal atingir a puberdade”, explica, acrescentando que “em cães de determinadas raças – como o Retriever do Labrador, o Golden Retriever ou o Pastor Alemão – ou em cães de médio a grande porte, isto é, com mais de 20 kg, a esterilização deveria ser mais tardia, sempre depois dos 12-18 meses”, como é recomendado nesta posição científica.

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Quais as vantagens de esterilizar o animal de companhia?

“É um facto que a esterilização está associada a vários benefícios”, reconhece a médica veterinária.

O mais óbvio é a prevenção de ninhadas indesejadas pelo tutor e a não reprodução de animais que sejam assilvestrados (de rua), permitindo o controlo populacional de animais que não têm dono.

Em relação à saúde do animal de companhia, a esterilização está associada à diminuição do risco do aparecimento de doenças do sistema reprodutivo, como, por exemplo, as infeções uterinas (piometra), os tumores uterinos e ováricos (ver aqui) e também mamários nas fêmeas (ver aqui). 

A esterilização também desempenha um papel importante na diminuição do risco de infeções e tumores testiculares nos machos (ver aqui).

Segundo refere a médica veterinária, a esterilização também diminui o comportamento de fuga da fêmea quando esta está em cio, evitando cruzamentos indesejados e diminui o comportamento de fuga do macho, “o que os protege de estarem envolvidos em acidentes com carros e de lutar com outros animais”.

Ainda no campo do comportamento, a esterilização parece diminuir a tendência de marcação do território por urina e também pode “diminuir o comportamento agressivo relativamente a outros machos” (ver aqui).

É verdade que a esterilização aumenta a esperança média de vida do animal? 

“Os animais esterilizados podem ter uma maior esperança de vida, quer porque se conseguem prevenir alguns problemas de saúde, quer porque adquirem hábitos de vida com menor risco”, reconhece Luísa Mateus.

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Essa foi a conclusão de um estudo da Universidade da Geórgia que, avaliando dados de 70 mil animais, concluiu que a esperança média de vida de cães machos castrados era 13,8% superior comparativamente aos cães não castrados (inteiros) e a de cadelas esterilizadas era 26,3% superior.

No entanto, acrescenta a médica veterinária, “a evidência científica é conflituosa, havendo estudos que apontam uma maior longevidade em animais inteiros [não esterilizados]”, como este realizado com dados australianos de cães da raça Rottweiler.

A esterilização tem riscos?

Apesar dos benefícios já demonstrados, Luísa Mateus adianta que “começam a aparecer evidências científicas a sugerir que a esterilização está associada a um risco aumentado, embora baixo, de algumas doenças, incluindo certo tipo de tumores e problemas articulares”. 

Por exemplo, este estudo, conduzido com cães da raça Pastor Alemão, observou ligações entre a esterilização e problemas articulares, cancro e incontinência urinária.

Segundo alguns estudos (ver aqui e aqui), a esterilização “parece também ter um impacto negativo em certos comportamentos”, nomeadamente ansiedade, medo de barulhos e de estranhos e “uma diminuição da capacidade cognitiva”, acrescenta a médica veterinária.

Parece igualmente existir uma maior probabilidade de cadelas com mais de 20 kg desenvolverem incontinência urinária (ver aqui) após a esterilização, e nos gatos, principalmente nos machos, existe uma maior probabilidade de desenvolvimento de cálculos urinários.

Sobretudo, aponta Luísa Mateus, “o impacto negativo da esterilização parece estar associado com as alterações no equilíbrio hormonal, sobretudo ao nível reprodutivo e metabólico”.

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Além dos riscos já apontados, à esterilização associam-se também os riscos anestésicos e cirúrgicos do ato médico. 

Nessa medida, refere a professora universitária, “aconselha-se sempre que o animal seja submetido a uma consulta pré-cirúrgica, na qual o animal será examinado, auscultado e será feita uma colheita de sangue para análises de rotina – hemograma e análises bioquímicas – que permitem avaliar o funcionamento renal e hepático”.

Os animais esterilizados têm mais risco de ter excesso de peso?

Após a esterilização, “observa-se um aumento de apetite e uma diminuição do metabolismo basal do animal. Deste modo estão reunidas as condições para que haja um risco elevado de aumento de peso e de doenças associadas à obesidade, como a diabetes mellitus”, reconhece Luísa Mateus.

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A solução, refere a médica veterinária, está na “diminuição em 30% da quantidade do alimento ingerido normalmente ou a passagem para alimentos especificamente formulados para animais esterilizados, importante, por exemplo, no caso dos gatos” que, associados à manutenção da atividade física regular, “ajudarão na manutenção do peso ideal para o animal”.

E, efetivamente, o excesso de peso a que estes animais parecem estar sujeitos (ver aqui) poderá ter repercussões negativas “nos problemas articulares, principalmente em animais que já os apresentem, como por exemplo no caso da displasia da anca”.

Também como já tinha referido anteriormente, Luísa Mateus sublinha que “a esterilização precoce em animais de médio e grande porte aumenta o risco de desenvolvimento de displasia da anca e de rotura de ligamentos do joelho” (ver aqui).

Atendendo a estas possibilidades, Luísa Mateus reforça que a melhor estratégia é abordar o assunto da esterilização com o médico veterinário, pois este “saberá aconselhar sobre qual a melhor idade para esterilizar o animal, os diferentes métodos de esterilização disponíveis e o maneio alimentar pós-esterilização”.

1 Mai 2024 - 07:16

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