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Treinar quando está com gripe. Faz sentido?

27 Mar 2024 - 01:56

Treinar quando está com gripe. Faz sentido?

A prática de exercício físico tem inúmeros benefícios para a saúde e, para muitas pessoas, é uma parte imprescindível da rotina diária ou semanal. Há quem siga, de forma rigorosa, um plano de treino específico, um determinado número de vezes por semana, sem falhar, mesmo quando uma constipação ou uma gripe batem à porta. Mas será essa uma prática recomendada? Vale a pena treinar quando estamos doentes?

É recomendável treinar quando está com gripe? 

treinar com gripe doente

A resposta é: depende. Quem o adianta ao Viral é Pedro Leuschner, coordenador do Núcleo de Estudo de Doenças Respiratórias da Sociedade Portuguesa da Medicina Interna (SPMI).

Segundo o especialista, é preciso ter em conta os sintomas da síndrome gripal e o tipo de exercício físico, ou seja, se este é de intensidade moderada ou elevada (ver aqui e aqui).

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No caso de uma constipação ou de sintomas associados a alergias, em que “não há um atingimento do organismo num todo, não há febre, nem dores musculares”, não é necessário restringir a atividade física habitual.

No entanto, salienta o membro da SPMI, “perante uma gripe, com febre e com impacto geral, por norma, a indicação é mesmo reduzir a atividade” ou, pelo menos, “pausar o treino de alta intensidade durante a fase mais aguda (3 ou 4 dias)” e retomar apenas quando se sentir uma melhoria.

Mas, o que se entende por gripe? E por exercício de alta intensidade? O médico refere que, em primeiro lugar, é preciso saber distinguir o que é, de facto, uma gripe. 

Isto porque, devido à semelhança de sintomas, “muitas vezes, as pessoas presumem que têm uma gripe”, mas têm outro tipo de infeção.

Pedro Leuschner explica que a gripe “é uma doença das vias aéreas superiores com um curso de 3 a 7 dias, provocada pelo vírus influenza”, esclarece.

Noutro plano, existem ainda outros quadros semelhantes ao da gripe, mas que são provocados por outros vírus, como “o SARS-CoV-2” (da Covid-19), “o vírus sincicial respiratório”, o “rinovírus” e o “adenovírus”.

Por ter uma sintomatologia parecida, “se não fizermos os exames diagnósticos, não os vamos distinguir da gripe comum, causada pelo vírus influenza”.

Além disso, “também há outros quadros que as pessoas podem, de forma errada, chamar gripe, como as constipações típicas, em que há congestão nasal, sobretudo, mas não há dores no corpo ou febre”.

Por outro lado, também é relevante ter em conta “o exercício de que estamos a falar”, frisa. “O exercício de alta intensidade é muito mais exigente do que atividade física de média intensidade”.

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É por isso que se recomenda uma “pausa” no exercício físico de alta intensidade quando se está doente, mas não a cessação de toda a atividade física.

Pedro Leuschner defende que “o exercício físico é muito importante” e deve ser sempre promovido. Até porque “está muito bem mostrado que o exercício moderado e regular previne infeções respiratórias”, acrescenta.

Uma boa forma “de medir a intensidade relativa” de um exercício é através “do teste da fala”, refere-se num texto dos Centros de Prevenção e Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla inglesa). 

Isto significa que “se estiver a fazer uma atividade de intensidade moderada” (como a caminhada), “consegue falar, mas não cantar durante a atividade”, explica-se. 

Caso se trate de uma atividade de “intensidade vigorosa” (como a corrida), “não será capaz de dizer mais do que algumas palavras sem fazer uma pausa para respirar”.

Quais os riscos de praticar exercício intenso enquanto se está com gripe?

treinar com gripe doente

Pedro Leuschner explica que, no contexto “de uma doença aguda gripal, com febre, em que o nosso organismo está particularmente debilitado, temos menos capacidade de suportar o esforço adicional” do exercício físico de alta intensidade.

Em primeiro lugar, salienta, “quando estamos com gripe, a capacidade de nos alimentarmos e de nos hidratarmos pode estar comprometida”, e, acrescenta, “a própria febre promove a desidratação”. 

Além disso, “as secreções nasais”, comuns em contexto de gripe, “também levam à perda de água” e “comprometem, de alguma forma, a nossa capacidade respiratória”. 

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Assim, praticar exercício quando se está com uma síndrome gripal “pode colocar-nos num risco acrescido de complicações, sobretudo se o exercício for muito intenso e continuado, numa fase mais aguda da doença”.

Isto porque “estamos a sobrecarregar o organismo” e a atribuir-lhe “um esforço adicional”,  numa fase em que ele “já está sob stress”.

Para mais, aponta o médico, não há nada que prove a ideia comum de que praticar exercício físico atenua os sintomas de uma gripe

O que acontece quando se pratica exercício intenso doente é que “há uma distração dos sintomas da doença” e “não uma melhoria efetiva do estado de saúde”. Isto é, focamo-nos, temporariamente, “no cansaço” e “no esforço”, conclui.

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Exercício Físico

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