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É comum termos febre mais alta à noite?

27 Abr 2023 - 10:49
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É comum termos febre mais alta à noite?

A febre é “uma resposta normal do organismo a várias condições, sendo a mais frequente a infeção por vírus ou bactérias”, tal como se explica no site do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Considera-se que uma pessoa tem febre quando tem “uma subida da temperatura de, pelo menos, 1 ºC acima da média da sua temperatura habitual”.

Além disso, existem outras causas que podem levar a esta manifestação do organismo, tais como “insolação”, “queimaduras solares”, “reação a medicamentos ou vacinas” e, “mais raramente, doenças não-infecciosas”. A febre pode surgir a qualquer hora, mas é verdade que é mais frequente à noite?

Pode-se dizer que é comum termos febre mais alta à noite?

Sim, é verdade que, habitualmente, faz-se febre mais alta à noite. Quem o garante ao Viral é Paulo Santos, especialista em Medicina Geral e Familiar e professor na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).

Mas porque é que isto acontece? Segundo Paulo Santos, em primeiro lugar, é preciso perceber que existe uma “variação circadiana da temperatura corporal”. Isto é, a “temperatura é mais baixa de manhã (ao acordar) e depois vai subindo ao longo do dia”.

Aliás, na secção de perguntas e respostas sobre a febre, no site do SNS, explica-se que “para a mesma pessoa, a temperatura ao final da tarde é cerca de 0,5 ºC a 1,0 ºC mais alta do que durante a madrugada e o começo da manhã”. 

A mesma fonte esclarece que “este fenómeno é regulado pelo hipotálamo, uma estrutura localizada no cérebro”, mas “os motivos desta variação são alvo atual de investigação científica”.

Assim, este pico da temperatura corporal ao final da tarde e à noite contribui para a justificação da prevalência de episódios de febre num período tardio. A isto acresce, por exemplo, a questão da variação dos níveis de cortisol. 

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Tal como o endocrinologista e autor da página “Hormonas em bom português”, Francisco Sousa Santos, explicou anteriormente ao Viral, o cortisol “é uma hormona produzida nas glândulas suprarrenais”.

Assim como a temperatura corporal, “o cortisol” também tem “uma flutuação circadiana nos seus níveis”, revelava a endocrinologista. Neste plano, acrescenta Paulo Santos, tal como todos os “pirógenios endógenos” (substâncias que induzem febre), esta hormona também “é controlada por um centro situado no hipotálamo”.

Geralmente, adiantava à data Francisco Sousa Santos, o cortisol está “mais alto no início da manhã, ao longo do dia vai diminuindo e à noite apresenta níveis mais baixos”.

Portanto, este é mais um dos motivos pelo qual “quando temos uma infeção é mais frequente termos febre à noite, ou ao fim do dia, porque é quando os níveis de cortisol estão mais baixos”, explanava.

Segundo Paulo Santos, outro motivo que pode explicar a febre mais alta neste período é que, “muitas vezes, durante a noite termina o efeito da ação de um paracetamol”, que “tem um efeito de ação entre as seis e oito horas”. O especialista exemplifica: “se eu tomar o medicamento às oito da noite, às duas ou três da manhã o efeito desaparece, portanto, vamos ter ali um pico febril”.

Isto “não tem nada a ver com a febre em si, mas sim com o facto de o medicamento ter terminado o período de ação”. Por isso, “objetivamente necessita-se, eventualmente, de um reforço em termos de toma”, frisa.

Em suma, “a febre não é mais alta à noite por ser”, defende. 

“Há, de facto, um conjunto de circunstâncias que podem ajudar e contribuir para isto acontecer muitas vezes”, conclui.

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Quando é que a febre à noite é preocupante?

Uma coisa é quando “uma pessoa está com uma infeção respiratória banal” que “dá febre durante o dia e durante a noite”, aponta o médico. Aliás, nestes casos, “ter um pico de temperatura durante a noite (39 ºC, por exemplo) é perfeitamente admissível”.

Mas isto não é considerado um quadro de “febre noturna”, contrapõe, que é uma situação completamente diferente. “A febre noturna está associada a um sinal de gravidade”, refere Paulo Santos. Porquê?

Normalmente, a temperatura corporal vai aumentando ao longo do dia e, depois de a pessoa adormecer, vai diminuindo. Nos casos de febre noturna, “acontece o contrário”, ou seja, “durante a noite a temperatura vai subir em relação àquilo que é a média diurna”, portanto, “o ritmo circadiano muda”, clarifica.

Além disso, regra geral, estas pessoas “fazem temperaturas normais durante o dia e têm alguns sintomas de cansaço, astenia e mal estar”, mas à noite “fazem constantemente temperaturas altas e suores”, informa o médico.

Ao contrário das febres “normais”, estas suscitam alguma preocupação, porque podem “ser sinais de gravidade que aparecem muitas vezes relacionados com situações oncológicas (cancro) e com situações de infeções mais complexas, como, por exemplo, a tuberculose (que caracteristicamente pode dar febres e suores noturnos)”.

Portanto, aponta, “quando o médico pergunta se o doente tem febre durante a noite – mas não durante o dia – e se tem suores noturnos”, está à procura “de qualquer coisa em termos de gravidade que possa estar associada ou possa justificar um determinado contexto, ou sintoma”. 

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No entanto, na perspetiva do especialista em medicina geral e familiar, “tem de se ter algum cuidado” em explicar a relevância da febre noturna, porque, caso contrário, todas as pessoas com gripe “começam a pensar que têm um linfoma e isso, objetivamente, não faz sentido nenhum”.

Assim, o SNS aconselha os doentes a “consultarem um médico se a febre não se resolver em três a cinco dias”, mesmo que não haja outros sintomas.

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27 Abr 2023 - 10:49

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