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Estalar o pescoço é uma causa frequente de AVC?

22 Abr 2023 - 08:00
falso

Estalar o pescoço é uma causa frequente de AVC?

Escritas em várias línguas, circulam nas redes sociais publicações em que se alega que “estalar o pescoço pode causar um AVC”. 

Alguns destes posts contêm, inclusive, relatos de pessoas que dizem ter sofrido um Acidente Vascular Cerebral após terem estalado o pescoço. Muitos são escritos num tom alarmista, com recurso a vários pontos de exclamação e a palavras como “cuidado” escritas em letra maiúscula. Mas haverá motivo para alarme? Estalar o pescoço é uma causa frequente de AVC?

É verdade que estalar o pescoço é uma causa frequente de AVC?

estalar o pescoço

Em declarações ao Viral, a neurologista Liliana Pereira adianta que estalar o pescoço não é uma causa frequente de Acidente Vascular Cerebral, embora admita que, “em casos raros” e “no extremo”, este gesto possa estar associado à ocorrência de um AVC.

Para contextualizar a questão, a especialista começa por explicar que “nós temos quatro principais artérias que passam no pescoço e que levam o sangue ao cérebro: duas artérias carótidas e duas artérias vertebrais”.

Estas artérias, “embora tenham alguma flexibilidade, têm um comprimento definido” e duas delas (as vertebrais) “passam dentro de um canal que está, inclusive, dentro do osso”.

Assim sendo, quando acontece “um movimento muito brusco” – por exemplo, num acidente de viação com impacto em que haja um “movimento violento do pescoço” -, “a parede da artéria pode romper e ficar com um rasgão (uma dissecção)”.

Nesse caso, “podem acontecer duas coisas: agregarem-se plaquetas nesse rasgão – que é uma tentativa de reparação – e isso forma um trombo que pode migrar e causar o AVC” ou, por outro lado, “no local desse rasgão pode causar-se um hematoma e ocluir a artéria no pescoço”.

Por isso, assinala, “nos casos traumáticos, violentos, nós temos a certeza que essa dissecção foi causada pelo trauma e que leva ao AVC”.

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Quanto ao impacto de estalar o pescoço, a conclusão não é tão clara. A neurologista aponta que “há uma associação (mas associação não demonstra causalidade) entre algumas manipulações da coluna cervical – principalmente em quiropratas, osteopatas, mas também pode acontecer a fisioterapeutas – em que pessoas que estão a tratar problemas da cervical, do pescoço, depois têm sintomas de AVC e encontra-se a dissecção, o rasgão na artéria”.

No entanto, completa, “nunca se consegue demonstrar causalidade porque um dos sintomas da dissecção pode ser dor cervical ou até mesmo cefaleia”.

Portanto, continua Liliana Pereira, “há sempre quem defenda a teoria de que as pessoas só foram ao osteopata tratar o pescoço, porque já tinham dores de pescoço e que essa dor de pescoço inicial pode ter sido causada pela dissecção”. Isto é, segundo esta teoria, “a dissecção já lá estava e não foi causada pela manipulação”.

A neurologista lembra que há outras situações que podem dar origem a dissecções.

“Por exemplo, pessoas que estão no cabeleireiro e que estão naquela posição com o pescoço muito estendido durante algum tempo. Ou, às vezes, em algumas profissões, como os pintores que estão a pintar tetos e que também acabam por estar com uma posição de hiperextensão do pescoço mantida”, exemplifica.

Posto isto, “estalar o pescoço estará um bocadinho no espetro menos violento e de menos mobilidade do pescoço do que estas situações que estou a enumerar”.

Contudo, contrapõe, “em casos raros, estalar o pescoço pode alterar a parte óssea” e afetar as artérias que passam dentro do osso, o que significa que, “no extremo, poderá haver um AVC causado por estalar o pescoço”.

No entanto, isso será “muito raro e será um caso de muito azar para a pessoa a quem isto aconteça”.

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Em suma, embora, em casos muito raros e muitos extremos, estalar o pescoço possa estar associado à ocorrência de um AVC, este gesto não é uma causa frequente de Acidente Vascular Cerebral.

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Neurologia

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AVC | Neurologia

22 Abr 2023 - 08:00

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