

É possível “reverter o cancro” através da alimentação?
Num vídeo partilhado no Instagram, alega-se que é possível “reverter o cancro” através da alimentação.
O autor do vídeo sugere, numa entrevista, que curou o cancro (nos ossos) da mãe apenas com uma “desintoxicação” do organismo, que consistiu na toma de um suplemento e na alteração da dieta. Mas é possível curar o cancro apenas com alimentação e suplementação?
O cancro pode ser curado apenas com mudanças na alimentação?
Em declarações ao Viral, a oncologista Ana João Pissarra adianta que, “apesar de a alimentação ter um papel fundamental na prevenção do cancro e mesmo após o diagnóstico”, uma mudança na dieta, por si só, “não mata as células cancerígenas”.
Além disso, acrescenta, também “não há nenhum suplemento alimentar que cure a doença oncológica”.
No mesmo sentido, organizações de saúde, como o Cancer Council, o Breastcancer.org e o Cancer Research UK, assinalam, em textos publicados nos seus sites, que nenhuma dieta ou alimento específico vai impedir, por si só, o aparecimento de cancro, nem curar a doença.
Segundo Ana João Pissarra, no que diz respeito ao cancro, existem tratamentos “com evidência clínica sustentada que, de facto, têm impacto em termos de cura e de resposta na doença oncológica”.
A abordagem médica vai depender do “tipo de cancro e do estadio, ou seja, do grau de extensão da doença”, aponta.
Por norma, “as doenças mais precoces são tratadas com cirurgia” e “pode haver (ou não) necessidade de fazer algum tratamento suplementar”.
Em termos de tratamentos oncológicos, a oncologista destaca “a quimioterapia”, “a imunoterapia”, “as terapêuticas alvo” e “a hormonoterapia”.
Tendo em conta que não há evidência que comprove que a dieta, isoladamente, cura o cancro, na perspetiva de Ana João Pissarra, seguir “a alimentação como o único caminho para a cura” pode ter um grande impacto negativo na saúde do doente.
“O grande risco é haver um atraso no início dos tratamentos e uma progressão da doença”, ou seja, “podemos passar de uma doença curável para uma doença incurável”, remata.
Qual o papel da alimentação na prevenção do cancro?
Segundo os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), “entre 30% e 50% das mortes por cancro poderiam ser evitadas modificando ou evitando os principais fatores de risco e aplicando as estratégias de prevenção existentes baseadas em provas”.
Quando se fala em fatores de risco, o estilo de vida – em que se inclui a alimentação, o sedentarismo, o consumo de álcool e os hábitos tabágicos, por exemplo – é um deles (ver também aqui).
Por isso mesmo, lembra Ana João Pissarra, “a alimentação tem um papel fundamental na prevenção” da doença oncológica.
Segundo a especialista, “uma alimentação à base de produtos processados, muitas carnes vermelhas, açúcares refinados, produtos fumados” e, por outro lado, pobre em “frutas, fibras, vegetais, carnes brancas e peixe” é um fator de risco “para o desenvolvimento de determinados tumores, sobretudo cancro colorretal, cancro do esófago e do estômago”.
Claro que, aponta, a genética tem um peso importante, tal como outros fatores. Por isso, “pode haver várias pessoas com a mesma alimentação, mas nem todas desenvolvem cancro”.
Ainda assim, por ser um fator de risco, é importante manter uma alimentação equilibrada.
Que importância tem a alimentação durante o tratamento de um cancro?
Segundo Ana João Pissarra, a alimentação tem um papel fundamental “na tolerância ao tratamento” de um cancro.
Sabe-se que, “durante os tratamentos de quimioterapia ou de outros fármacos, há possíveis efeitos secundários”, refere.
Uma alimentação equilibrada ajuda o doente “a manter o organismo mais saudável” e a “conseguir tolerar melhor os tratamentos”, explica.
Além disso, uma boa alimentação “também ajuda a minimizar os efeitos secundários dos tratamentos, como as náuseas, os vómitos e as diarreias”, acrescenta.
Apesar disso, a oncologista acredita que “não podemos ser fundamentalistas, nem radicais” e é importante “haver espaço para todos os alimentos”.
Em suma, apesar de a alimentação ter um papel essencial, tanto na prevenção de cancro quanto durante os tratamentos, uma alteração na dieta em conjunto com qualquer suplemento não cura a doença oncológica.
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