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É possível prevenir o cancro? Quais os fatores de risco e como controlá-los

4 Fev 2024 - 08:00

É possível prevenir o cancro? Quais os fatores de risco e como controlá-los

O cancro é uma das principais causas de morte em todo o mundo e milhões de pessoas vivem, atualmente, com um diagnóstico da doença. Ainda assim, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), “entre 30 e 50% dos cancros podem ser prevenidos”, se os fatores de risco forem evitados e as estratégias de prevenção aplicadas. 

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Além disso, “muitos cancros têm uma elevada probabilidade de cura, se tiverem um diagnóstico precoce e forem tratados de forma adequada”. Quais são os fatores de risco para o desenvolvimento de cancro? Como contorná-los?

Quais os fatores de risco para o desenvolvimento de cancro?

A Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) explica, num texto informativo, que “o cancro é a proliferação anormal de células”. Mas o que quer isto dizer?

Por norma, “as células crescem e dividem-se para formar novas células” e, no seu ciclo de vida, “envelhecem, morrem e são substituídas por novas células”, escreve-se.

No entanto, “algumas vezes, este processo ordeiro e controlado corre mal: formam-se células novas, sem que o organismo necessite e, ao mesmo tempo, as células velhas não morrem”, explica-se. “Este conjunto de células extra forma um tumor”, que pode ser benigno (não é cancro) ou maligno (é cancro).

Apesar de, por vezes, os especialistas não conseguirem explicar as causas de determinados cancros, a investigação científica demonstra que existem fatores de risco que aumentam a probabilidade de desenvolver a doença.

Para perceber quais os fatores de risco, o Viral contactou duas oncologistas: Ana João Pissarra e Cláudia Vieira.

Ana João Pissara começa por explicar que “existem fatores mais associados a determinados tipos de cancro”. No entanto, há alguns que são “transversais à doença oncológica”.

Tabagismo

O tabaco é o primeiro fator de risco controlável referido pelas especialistas. Segundo a oncologista Cláudia Vieira, “o tabaco é um produto de tal modo cancerígeno que aumenta o risco de qualquer cancro desde a cavidade oral até ao anus”.

No mesmo sentido, a LPCC destaca, num texto informativo, que “é mais provável que os fumadores desenvolvam cancro dos pulmões, laringe, boca, esófago, bexiga, rins, garganta, estômago, pâncreas ou colo do útero do que os não fumadores”.

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Consumo de álcool

O alcoolismo também é referido pelas especialistas como um fator de risco para o cancro, que pode ser evitado. Também o psiquiatra João Marques, em esclarecimentos anteriores ao Viral, salientava que se tem mostrado uma correlação entre o álcool e “o aumento da probabilidade de desenvolver doenças neoplásicas, os cancros”, nomeadamente “cancro do estômago, intestinos, pâncreas, cavidade oral e da mama” (ver aqui e aqui).

Segundo a LPCC, este “risco aumenta com a quantidade de álcool que uma pessoa bebe” e, “na maioria destes cancros, o risco é mais elevado se a pessoa também fumar”.

Má alimentação, excesso de peso e falta de prática de exercício físico

Outro fator importante (e controlável) para o surgimento de vários tumores é o estilo de vida pouco saudável. Na perspetiva de Ana João Pissarra, “hoje em dia, as pessoas têm, por norma, um estilo de vida muito mais sedentário, muito associado a um excesso de peso, a uma alimentação à base de comida muito mais processada e com menos fibras e menos vegetais”. 

Envelhecimento

“A idade é, sem dúvida, um fator de risco para o desenvolvimento de doenças oncológicas”, frisa Ana João Pissarra. 
Apesar de o cancro poder surgir em pessoas mais jovens, e mesmo em crianças, a maior parte dos cancros manifesta-se em pessoas com mais de 65 anos.

História familiar de cancro

Ana João Pissarra começa por adiantar que “a maioria dos tumores são esporádicos”. 

“O facto de uma pessoa ter uma mãe, um pai, ou um tio com cancro, também acresce algum risco”. 
No entanto, ter um histórico familiar de cancro não significa necessariamente que a pessoa vai ter cancro.

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Cláudia Vieira dá um exemplo: “se eu beber e fumar muito e tiver um cancro da cavidade oral, ou do esófago, ou do estômago, isso não quer dizer que o meu filho vai ter um risco acrescido para estes cancros”. Porquê? Neste caso, “é um tumor que está diretamente associado” ao tabagismo e ao alcoolismo.

Contudo, pode haver, de facto, “uma mutação genética hereditária”, mas isto só acontece “em determinados tipos de tumores” (como o cancro da mama), explica a oncologista.

Tal como esclarece Ana João Pissarra, “nos tumores da mama e nos tumores do ovário, conhece-se uma mutação chamada BRCA que é, de facto, uma alteração genética tipicamente hereditária, associada a um risco muito elevado destes tipos de cancro”, exemplifica.

Exposição a poluentes e outras substâncias

Cláudia Vieira considera importante referir que “a exposição a poluentes” e a químicos ou outras substâncias deve ser evitada, porque estes fatores ambientais promovem o desenvolvimento de tumores.

Noutro plano, além dos fatores transversais à doença oncológica, existem ainda outras causas mais características de cada tipo de cancro.

A título de exemplo, Cláudia Vieira refere a exposição a determinados vírus e bactérias, como: “o vírus de Epstein-Barr”, que pode “originar tumores da nasofaringe”; “o vírus do Papiloma Humano (HPV)”, que pode provocar “cancro do colo do útero, da orofaringe ou da garganta”; e ainda “a helicobacter pylori”, uma bactéria que pode causar cancro no estômago.

Noutro plano, acrescenta a mesma fonte, a radiação ultravioleta, além de provocar o envelhecimento precoce da pele, pode favorecer o aparecimento de cancro da pele (ver aqui e aqui).

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Que medidas ajudam na prevenção do cancro?

Alguns dos fatores de risco mencionados não são evitáveis. No entanto, todos podem ser um pouco controlados. Na visão das especialistas, há cinco medidas essenciais que ajudam na prevenção do cancro: a manutenção de um estilo de vida saudável, a vacinação (no caso do HPV, por exemplo), a proteção solar, idas ao médico quando é necessário e a participação em programas de rastreio.

Manter um estilo de vida saudável

Segundo as oncologistas que falaram com o Viral, a primeira dica a seguir é não fumar e reduzir (ou cessar) o consumo de álcool. 

Além disso, frisa Cláudia Vieira, é importante “ter uma alimentação saudável” e praticar, no mínimo, “150 minutos de exercício físico semanal”.

Recomenda-se, em específico, “uma dieta mediterrânica, rica em frutas e legumes, em que se privilegia o consumo de produtos frescos da época e de peixe (em detrimento das carnes vermelhas) e se evita o consumo de produtos processados”, acrescenta.

Vacinação

Na perspetiva de Cláudia Vieira, “ao aderirmos às campanhas de vacinação para determinados vírus, temos mais hipóteses de evitar a doença”.

Nomeadamente em relação ao HPV, é importante não esquecer que, mesmo aderindo à vacinação, é necessário ter outros cuidados, como ter sempre relações sexuais protegidas, já que “há algumas estripes do HPV virulentas e agressivas que podem causar cancro”, alerta.

Proteção solar

Cláudia Vieira defende que o uso de protetor solar é fundamental e, “nos períodos de verão, deve-se usar chapéus e tecidos protetores”. Sobretudo “pessoas carecas” que tenham “profissões que impliquem uma grande exposição ao sol”, devem “usar chapéus ou bonés”, para evitar “tumores do couro cabeludo”, clarifica.

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Ir ao médico quando é necessário

Para Cláudia Vieira é importante “conhecermos a nossa história pessoal e familiar” a nível clínico. Desse modo, as idas ao médico (quando necessárias) tornam-se “mais personalizadas e adaptadas a cada paciente”.

A oncologista dá um exemplo: “A pessoa tem o que lhe parece ser uma constipação que dura mais do que quatro semanas. Além disso, diz ao médico que já teve mononucleose infeciosa (causada pelo vírus de Epstein-Barr). Esse contexto pode ser suficiente para sinalizar o médico para um despiste de tumor da nasofarige”.

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Programas de rastreio

Ana João Pissarra defende que “o diagnóstico precoce é a medida mais importante em oncologia, pois quanto mais cedo diagnosticarmos as doenças, maior a probabilidade de melhorarmos o seu prognóstico”.

Isso é conseguido “através da prevenção, em termos de controlo de fatores de risco, e dos programas de rastreio” – como “a realização de mamografias para o rastreio de cancro da mama, ou de colonoscopias para o cancro colorretal”.

Contudo, de facto, “nem todos os cancros têm programas de rastreio implementados”. Porquê? “O cancro do pâncreas, por exemplo, é muito difícil de rastrear” e, normalmente, “é identificado já numa fase avançada”. 

Até à data, “não há nenhum programa de rastreio implementado, porque ainda não se conseguiu perceber uma forma viável de o rastrear”.

Em cancros como o da mama ou o colorretal, como há uma carga genética significativa associada, “ao identificar-se uma mutação genética em membros da família, há um acompanhamento”, por norma, caracterizado pela receita de “exames de rastreio com uma periodicidade muito mais curta” e, em alguns casos, recomendam-se “cirurgias profiláticas”, salienta Ana João Pissarra.

4 Fev 2024 - 08:00

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