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“Dry January”: Os benefícios de ficar um mês sem beber álcool

10 Jan 2024 - 10:56

“Dry January”: Os benefícios de ficar um mês sem beber álcool

“Dry January”, “janeiro seco” ou “janeiro sem álcool” são os vários nomes dados a uma iniciativa criada há cerca de 11 anos a nível internacional e que marca o primeiro mês do ano como o período ideal para deixar o álcool de lado. Mas existem vantagens reais em ficar 31 dias sem beber álcool? Como fazê-lo? Todos podem aderir ao “dry january” sem acompanhamento médico?

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Em declarações ao Viral, João Marques, vice-presidente da secção de Psiquiatria da Adição da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental (SPPSM), esclarece estas e outras questões sobre o “janeiro sem álcool”.

Quais os benefícios de ficar um mês sem beber álcool?

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João Marques começa por adiantar que “qualquer período em que se estabeleça a ausência do consumo de álcool tem um benefício em comparação com a ausência desse período sem álcool”.


Por isso, aderir ao “dry january” tem “benefícios reais, quer do ponto de vista físico, quer do ponto de vista mental”. O especialista sublinha, contudo, que “o impacto é muito maior numa pessoa que bebe com frequência do que numa pessoa que bebe esporadicamente”.

Mas que benefícios são estes? João Marques enumera seis:

  • Diminuição da ingestão calórica

Se, após um período festivo, o objetivo é perder peso, “em termos de restrição calórica, colocar de lado o álcool tem um impacto muito grande”, defende o médico.


Segundo o especialista, o álcool é “mais calórico do que, por exemplo, os hidratos de carbono e as proteínas” e só não é mais calórico do que as gorduras. Portanto, sustenta, “em termos de perda de peso” deixar o álcool de lado pode ter um impacto “significativo”.

  • Um sono mais reparador

João Marques explica que “o impacto do álcool no sono é devastador”. O álcool “interfere com várias fases do sono, sobretudo com o sono REM”.

Segundo o especialista, “o efeito continuado do álcool no organismo, faz com que o sono seja mais entrecortado (dormir – acordar – dormir – acordar) e, muitas vezes, com um despertar mais ativo”. Portanto, “um mês sem álcool também ajuda a ter um sono mais reparador”, salienta.


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  • É um “alívio” para o fígado

O psiquiatra aponta também benefícios para o organismo “em termos hepáticos”. Como “a metabolização do álcool acontece no fígado”, cessar o consumo de bebidas alcoólicas durante algum tempo “já é um alívio para o fígado”.

  • É bom para a saúde cardiovascular

Outro benefício físico está relacionado com a melhoria “da saúde cardiovascular”, nomeadamente pela “redução da pressão arterial”, anota João Marques.

  • Pode ajudar a melhorar a vida sexual

Segundo o especialista, “apesar de se achar o oposto, na verdade, quem bebe regularmente e para durante o mês, nota modificações na sua função sexual”, tais como “o aumento da libido e uma melhor performance”.

Portanto, de facto, “é verdade que o álcool desinibe e facilita o contacto interpessoal, mas a performance sexual não fica melhorada, antes pelo contrário”, adianta. 

  • Faz bem à saúde mental

“Um mês sem beber dá-nos uma maior vitalidade funcional, ficamos mais rápidos do pensamento, mais fluidos, com maior capacidade executiva e maior tempo de ativação funcional”, esclarece João Marques. Isto porque, “o álcool atordoa-nos e dá-nos uma maior lentificação de funcionamento”. 

Além disso,”a ausência de álcool melhora os estados de mais desgaste afetivo, mais depressivos”, acrescenta.


Quem não deve aderir ao “dry january” por conta própria?

João Marques salienta que, “quando se fala num mês sem beber ou parar abruptamente o consumo, estamos a olhar para consumidores de álcool que não têm uma dependência alcoólica”.

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Isto porque, na presença de “uma dependência alcoólica, quando se para de repente de beber, surgem sintomas de privação, como tremor, sudação e confusão mental”.

Aliás, destaca o médico, “a privação de álcool é a única privação que pode levar à morte”. Por isso, “quem tem, de facto, uma dependência não deve fazer este mês sem álcool autonomamente”. 

A única forma segura de o fazer é “programando um plano de tratamento com apoio médico”, acrescenta.


Por outro lado, “algumas pessoas acabam por fazer uma leitura errada deste mês sem consumo”, refere João Marques. De que forma? Como estiveram um mês inteiro sem ingerir bebidas alcoólicas, “acabam por intensificar o consumo pós-período”. 

Muitas vezes, esta lógica de compensação leva ao consumo de “maior quantidade de álcool num curto espaço de tempo e mesmo a consumos do tipo ‘binge drinking’”, alerta o psiquiatra.

Na perspetiva do especialista, quando isto acontece pode ser sinal de que a pessoa tem “problemas no uso do álcool”. Isto porque já não se trata só de “beber socialmente”, ou seja, “a relação com o álcool já é um pouco patológica”, justifica.

Como aderir a este desafio com sucesso?

João Marques admite que pode ser difícil concluir o desafio dos 31 dias sem álcool. “Quando falamos da vida social, o álcool está presente nos jantares, nas reuniões, praticamente em todo o lado”, contextualiza.

Para o psiquiatra, o primeiro passo “é assumir esta iniciativa”. Segundo o médico, “dizer que se deixou de beber para perder peso, ou porque se está doente, ou porque se anda a beber demais”, por ter “uma conotação mais negativa”, não é tão aceite. 

Por outro lado, “assumir que se aderiu a esta iniciativa – ao ‘janeiro sem álcool’ – como forma de começar bem o ano”, do ponto de vista da saúde, “acaba por facilitar” a aceitação dos outros e da própria pessoa.

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Além disso, João Marques é da opinião de que “não devemos modelar a nossa vida social pelo facto de estarmos a aderir a esta iniciativa, porque, caso contrário, o desafio deixa de ter interesse”. 

Deve-se manter a vida social que sempre se teve, optando por consumir bebidas não alcoólicas, “como, por exemplo, pode-se beber uma cerveja sem álcool”.

Janeiro acabou. E agora? 

Como explica o membro da SPPSM, o objetivo do “Dry January”, além dos benefícios enumerados, é que se “minimize ao máximo o prejuízo de uso do álcool” a longo prazo.

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De facto, tal como já foi anunciado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), “nenhum nível de consumo de álcool é seguro para a saúde”. 

Por isso, para reduzir o risco, os limites seguros recomendados são de “duas unidades de bebida por dia para os homens e uma unidade para as mulheres, no máximo, se estiverem abaixo dos 65 anos, com um ou dois dias sem beber por semana”, salienta João Marques.

Esta deve ser “a medida que quem costuma beber com alguma regularidade e não de forma abusiva deveria cumprir após o mês de janeiro”, de forma a “minorar o prejuízo do efeito do álcool e manter o benefício do ‘dry january’”, conclui.

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10 Jan 2024 - 10:56

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