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Azeite diminui risco cardiovascular? O que diz a ciência

9 Abr 2024 - 09:35

Azeite diminui risco cardiovascular? O que diz a ciência

São várias as publicações nas redes sociais em que se alega que o azeite diminui o risco de doenças cardiovasculares, a principal causa de morte no mundo.

No TikTok, afirma-se que existe um “baixo risco de morte cardiovascular” associado ao consumo de azeite. A autora do vídeo alega que o azeite é rico em “ácidos gordos monoinsaturados” que vão diminuir os níveis de LDL (conhecido como colesterol mau) e estimular os níveis de HDL (conhecido como colesterol bom). Além disso, refere, o azeite é “anti-inflamatório, antioxidante e antibacteriano”.

No mesmo vídeo, aconselha-se as pessoas com doença cardíaca, com histórico na família ou qualquer outro fator de risco a incluir o consumo de “azeite de oliva extra virgem” na alimentação. 

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Mas será mesmo verdade que o azeite reduz o risco de doença cardiovascular? O que dizem os estudos? E a medicina?

Azeite diminui risco de doenças cardiovasculares?

azeite

Em declarações ao Viral, José Pedro Sousa, cardiologista do Instituto Português de Oncologia do Porto Francisco Gentil e membro da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, adianta que a evidência científica é “favorável” à tese de que o azeite reduz o risco de doença cardiovascular.

O médico refere que o azeite é o elemento central da dieta mediterrânica, que está “bem estabelecida enquanto padrão dietético cardioprotetor”, sobretudo nos países do Sul da Europa.

José Pedro Sousa refere um estudo de “grande impacto”, publicado em janeiro de 2022, no Journal of the American College of Cardiology: a investigação documentou a associação entre a redução de eventos cardiovasculares agudos e o consumo de meia colher de sopa de azeite por dia.

O azeite tem uma “ação antioxidante, anti-inflamatória e anti-aterógénica”, ou seja, de evicção de desenvolvimento de placas de aterosclerose nas artérias coronárias. 

É também associado, de acordo com o cardiologista do IPO do Porto, a uma melhoria da “função endotelial e do perfil lipídico” através da redução do LDL e do aumento do HDL.

O membro da Sociedade Portuguesa de Cardiologia aponta ainda para benefícios como “o aumento da sensibilidade à insulina”, melhoria do controlo glicémico, redução da tensão arterial e “promoção da flora intestinal equilibrada e favorável”.

No entanto, o cardiologista destaca que, apesar de ser um “substituto salutar” de outras substâncias gordurosas de menor valor nutricional, como a manteiga e a margarina, o azeite deve ser consumido com “moderação” pela sua “natureza fundamentalmente lipídica”.

Uma meta-análise de 2022, que incluiu 13 estudos, concluiu que o consumo de azeite foi associado a “riscos reduzidos de eventos de doenças cardiovasculares e mortalidade”. 

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Este resultado, segundo os investigadores, “apoia as recomendações” para aumentar a ingestão de azeite, em vez de outras gorduras, de forma a “melhorar a saúde humana e a longevidade”. No entanto, os autores reconhecem que são necessários mais estudos para sustentar os efeitos cardiovasculares em relação ao consumo de azeite.

Azeite: os diferentes tipos

azeite

Questionado em relação aos diferentes tipos de azeite, o médico especialista em cardiologia explica que os efeitos biológicos benéficos do azeite têm sido atribuídos sobretudo ao azeite extravirgem.

De seguida, esclarece que o azeite “que nos chega através das prateleiras dos mercados e supermercados” tem diferentes graus, que vão do extravirgem ao refinado.

O azeite extravirgem é o “sustentáculo”, enquanto principal fonte de gordura, da dieta mediterrânica, afirma. Nesse sentido, explica José Pedro Sousa, a designação “é-lhe fiel ao seu processo de confeção”: é a fração gordurosa do sumo de azeitona puro, sendo extraído por processos físico-mecânicos. Desta forma, preserva as propriedades naturais.

Por outro lado, o azeite refinado “implica a submissão do sumo de azeite original a um extenso programa de processamento”. Ou seja, as designações de “puro” e “light” que, por vezes, lhe são atribuídas são “misturas do líquido refinado com pequenas quantidades de azeite extravirgem”.

Doenças cardiovasculares: o que são e os fatores de risco

azeite

José Pedro Sousa informa que, por regra, a doença cardiovascular relaciona-se à “oclusão aguda de um vaso sanguíneo”, que pode acontecer no coração (enfarte agudo do miocárdio, também conhecido por ataque cardíaco), no cérebro (acidente vascular cerebral, conhecido por trombose), do pulmão (tromboembolia pulmonar) ou, por exemplo, do membro inferior.

O conceito de doença cardiovascular pode também estender-se “enormemente” e incluir “enfermidades específicas das válvulas cardíacas, do miocárdio, do pericárdio ou, até, arritmias cardíacas, como a fibrilhação auricular ou outras com potencial de desembocar em morte súbita”.

As doenças cardiovasculares são, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a principal causa de morte no mundo. A World Heart Federation diz que 85% das mortes por doença cardiovascular se deve a enfartes agudos do miocárdio e acidentes vasculares cerebrais. 

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As pessoas com antecedente de doença cardiovascular “tendem a viver menos do que as outras sem esse antecedente”.

De outro ponto de vista, diz o cardiologista, importa encarar um evento não fatal como uma “chamada de atenção” para a importância de um estilo de vida saudável e do controlo de todos os fatores de risco cardiovascular. 

Qualquer pessoa de qualquer “sexo, idade ou etnia” pode ter doença cardiovascular. No entanto, tenderá a acontecer a pessoas com “idade mais avançada”, sinaliza o médico.

“Mulheres e homens são afetados, quantitativamente, de modo similar, ainda que as mulheres o sejam, por norma, mais tardiamente, no período pós-menopausa”, acrescenta.

Por outro lado, explica, a presença de fatores de risco aumenta, “em alguns casos drasticamente”, a probabilidade de ocorrência.

Mas o que são os fatores de risco? Há “numerosas condições” com evidência científica “robusta” que estabelece uma “associação causal a um aumento do risco cardiovascular”, afirma o cardiologista consultado pelo Viral. É o caso das “comorbilidades clássicas”, como a obesidade, a diabetes mellitus, a hipercolesterolemia e a hipertensão arterial. 

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No entanto, o médico indica também a doença renal crónica, a hiperuricemia, a síndrome do ovário poliquístico e a depressão como fatores de risco.

Por último, “simples hábitos” podem interferir no risco cardiovascular pelo seu “impacto ominoso”, como o consumo de álcool excessivo, o consumo de tabaco e o sedentarismo.

A adoção de um estilo de vida saudável é o “verdadeiro baluarte” na redução do risco cardiovascular. Isto é, a prática regular de atividade física, uma dieta regrada (pobre em alimentos processados e carnes vermelhas e rica em produtos vegetais).

As pessoas que apresentam já alguns fatores de risco devem “mantê-los sob controlo”, utilizando, se for preciso, “intervenções farmacológicas ou intervencionistas”.

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Alimentação

9 Abr 2024 - 09:35

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