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Da carne aos iogurtes. É seguro comer alimentos com embalagens danificadas?

9 Jun 2024 - 08:30

Da carne aos iogurtes. É seguro comer alimentos com embalagens danificadas?

Chegou a altura de fazer as compras da semana. Entra no supermercado, percorre os corredores com um carrinho de compras e, quando chega à zona dos alimentos refrigerados, percebe que a única embalagem dos seus iogurtes preferidos disponível está amassada. Será seguro levar estes iogurtes para casa ou é melhor comprá-los noutro dia? Existirão riscos em comer alimentos de embalagens danificadas? Quais e em que circunstâncias?

É seguro comer alimentos com embalagens danificadas? Quais os riscos?

Em esclarecimentos ao Viral, Paula Teixeira, professora e investigadora na área de segurança alimentar na Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica no Porto, adianta que “há sempre um risco” no consumo de alimentos com embalagens danificadas, mas o nível de perigo vai depender do tipo de embalagem, do alimento e do dano.

Ao contrário do que se possa pensar, “a embalagem não é só um adorno”, aponta a investigadora. Na verdade, “a embalagem tem funções muito importantes, quer na qualidade e na segurança dos alimentos, quer até na conveniência”.

Além de incluir “informações sobre a validade e sobre a forma de como se deve consumir, conservar e confecionar o alimento”, a embalagem tem “um efeito de proteção física”, explica.

Por esse motivo, “quando uma embalagem está amassada, deixa de existir a barreira de proteção e pode haver contacto do exterior com o interior”.

Contudo, salienta Paula Teixeira, “o risco é completamente diferente quando se trata da embalagem de um alimento perecível” ou quando está em causa “um alimento com um prazo de validade longo”.

Por exemplo, “um rasgão” numa embalagens de bolachas “é menos crítico do que uma embalagem de carne alterada”, refere.

Maior risco: embalagens de vidro, de metal ou opadas

Em termos de saúde pública, “as embalagens que apresentam maior risco são as que estão opadas (inchadas)”, avança Paula Teixeira.

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Quando as latas e as embalagens de plástico com carne (em vácuo ou não), vegetais e outros alimentos estão inchadas, devem ser descartadas.

“Os tabuleiros de carne fazem um efeito de balão, estão direitos e com o plástico esticado, porque a embalagem tem uma atmosfera protetora, ou seja, tem uma composição gasosa diferente que tem um efeito de proteção contra microrganismos”, exemplifica.

Se essa embalagem estiver furada, “há perdas desta atmosfera gasosa”, corre-se o “risco de alterar esta composição protetora, e a capacidade que esta embalagem tem de garantir um determinado tempo de vida perde-se”, prossegue.

Quando estas embalagens estão visivelmente inchadas, “significa que houve um crescimento de microrganismos que produziram este gás”. 

O grande problema é que, na maior parte das vezes, esse microrganismo trata-se de uma bactéria, a Clostridium Botulinum, que “produz uma toxina muito potente e fatal”.

Por esse motivo, neste contexto, “o conselho é mesmo não abrir a embalagem opada, nem provar o alimento”.

Noutro plano, salienta Paula Teixeira, “a carne, como alimento cru de origem animal, pode conter outros microrganismos patogénicos”. 

Assim, a embalagem da carne não só protege o próprio alimento, mas também “nos protege do que está lá dentro” e evita a contaminação de outros alimentos.

Outro tipo de embalagens que apresentam algum risco quando estão danificadas são as de vidro. “É preciso ter sempre muito cuidado com as embalagens do vidro, porque se trata de um perigo físico”, avisa. 

Segundo a investigadora, com uma embalagem de vidro danificada, “corre-se o risco de haver pedacinhos pequenos de vidro” que não se conseguem ver dentro do recipiente.

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Por fim, também é preciso ter especial cuidado com as embalagens de metal. “Uma embalagem com ferrugem, velha ou amassada pode ter microperfurações que permitam o contacto de contaminantes do exterior”, sustenta.

Menor risco: alimentos ácidos, secos e com maiores prazos de validade 

Paula Teixeira explica que os alimentos ácidos, como os iogurtes, apresentam um menor risco. Isto porque “a acidez do alimento impede o desenvolvimento da maior parte de microrganismos patogénicos”.

Assim, se, por exemplo, apenas um iogurte de uma embalagem de quatro estiver amassado ou danificado, a recomendação é comer esse primeiro. “A embalagem perdeu o efeito protetor”, o que pode pôr em causa a qualidade do alimento, por isso “deve ser consumido quase de imediato”, aponta.

No caso de alimentos mais secos e com maiores prazos de validade, o dano na embalagem também põe mais em causa a qualidade do produto do que a segurança.

Por exemplo, refere a especialista, “um pacote de batatas fritas vai impedir que fiquem desfeitas, porque há uma proteção física”, mas um dano nessas embalagens não é grave em termos de saúde.

O mesmo serve para rasgos em pacotes de cereais, bolachas, arroz ou massa. 

“Se eu tiver uma bolacha numa embalagem que já não tem todas as propriedades de barreira, o que vai acontecer é a bolacha ficar mole mais rapidamente”, sustenta. 

 “A prevenção é sempre a melhor estratégia”

Na perspetiva de Paula Teixeira, o ideal é evitar comprar embalagens danificadas.

Esta ideia é reforçada num guia de boas práticas do consumidor do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA). 

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No documento, defende-se que “os ingredientes e alimentos comprados deverão estar com bom aspeto, limpos, sem cheiro desagradável, íntegros e com as embalagens íntegras e não opadas (inchadas)”.

Para mais, acrescenta-se, “as conservas e enlatados devem estar sem golpes, íntegros, sem deformações, sem oxidações” e também e não inchados.

Durante o transporte também se deve ter alguns cuidados, de modo a não provocar danos nos produtos já adquiridos. 

“Há uma gestão que deve ser feita no transporte e quando se guarda as coisas em casa, também para prevenir problemas causados por uma embalagem menos bem selada”, defende.

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Não colocar detergentes e alimentos no mesmo saco é o exemplo de uma boa prática. Se possível, também é importante haver uma separação de alimentos, “evitando misturar carnes com alimentos secos e vegetais”, acrescenta a professora.

Além disso, Paula Teixeira apela à razoabilidade: “Tem de haver um equilíbrio sem comprometer a saúde, porque também temos de combater o desperdício”.

Por isso, do ponto de vista da investigadora, neste caso “prevenção é sempre a melhor estratégia”.

9 Jun 2024 - 08:30

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