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Comer alimentos ácidos pode favorecer o aparecimento de aftas?

7 Jun 2023 - 01:35
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Comer alimentos ácidos pode favorecer o aparecimento de aftas?

Ter aftas na boca, por muito pequenas que sejam, estraga qualquer refeição, devido ao incómodo e à dor causados quando os alimentos ou a língua tocam naquele pontinho branco, vermelho ou amarelado.

Várias pessoas adiantam que quando consomem alimentos ácidos ficam com aftas. Mas será que o consumo deste tipo de alimentos pode favorecer o aparecimento destas pequenas feridas na boca? E o que são, afinal, as aftas?

Em declarações ao Viral, Luís Fonseca, médico estomatologista no Hospital de São José e membro da direção da AMEP – Associação dos Médicos Estomatologistas Portugueses, esclarece todas as dúvidas.

O que são aftas?

A estomatite aftosa recorrente – também designada por aftas ou úlceras aftosas – define-se como a presença de lesões erosivas da mucosa de revestimento da boca, que podem variar em número e dimensão.

Ou seja, as aftas são pequenas feridas ou lesões dolorosas que podem aparecer em várias zonas: mucosa oral, gengiva, língua ou lábios.

Dá-se uma erosão e consequente lesão que se estende aos tecidos mais profundos – úlcera.

“São muito incómodas para quem as tem, porque provocam dor e são também bastante comuns”, refere o estomatologista Luís Fonseca.

As aftas apresentam forma circular ou oval e podem ser de várias cores: branco, vermelho ou amarelado. Por norma têm um halo (ou bordo) vermelho e podem surgir de forma isolada ou agrupadas.

Em 80% dos casos, as aftas que aparecem são as mais pequenas (estomatite aftosa recorrente minor).

Nesse caso, surgem entre uma e seis aftas superficiais menores do que um centímetro e normalmente em tecidos menos espessos, ou seja, em zonas da boca mais sensíveis.

Resolvem-se espontaneamente sem ser necessário um tratamento e, regra geral, duram entre quatro e 14 dias e não deixam nenhuma cicatriz.

O pico de incidência da estomatite aftosa recorrente é na adolescência e é mais comum em mulheres abaixo dos 40 anos.

Uma em cada cinco pessoas vai ter uma história de estomatite aftosa recorrente na vida toda. Não quer dizer que tenha sempre, mas pelo menos um episódio vai ter”, realça Luís Fonseca.

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Causa e fatores de risco

A causa das aftas não está ainda bem definida. Crê-se que exista uma causa mista, hereditária e ambiental, sendo que há múltiplos fatores que podem levar à ocorrência de aftas. Um dos fatores de risco mais importante é a genética.

“Em termos genéticos, até 40% dos doentes têm história familiar de úlceras”, indica Luís Fonseca.

Há muitos outros como o tabagismo, doenças provocadas por vírus como o herpes ou doenças bacterianas, défices nutricionais – principalmente, défices de vitaminas, como a B12 e o ácido fólico, ou de sais minerais, como o ferro e zinco.

Problemas relacionados com outras doenças – como doenças endócrinas, hormonais ou autoimunes – e reações aos fármacos que são usados no combate a essas doenças podem também levar ao aparecimento de aftas.

O stress é outro dos fatores de risco, porque diminui a capacidade de reação do sistema imunitário. Este sistema acaba por reagir a qualquer estímulo sem grande coerência. Um sistema imunitário debilitado pode ditar o aparecimento destas úlceras.

O traumatismo também é um fator possível. O trauma pode resultar de situações como: morder a bochecha ou a língua, lesões acidentais provocadas enquanto se come ou por fricção, como acontece com os aparelhos ortodônticos.

Problemas dentários ou má higiene oral, tal como uma dieta desequilibrada, também contribuem para o surgimento de aftas.

A hipersensibilidade a alimentos é um fator a ter em conta, havendo alimentos que são desaconselhados, considerando o historial do paciente.

É verdade que os alimentos ácidos podem favorecer o aparecimento de aftas?

Alimentos picantes, ácidos e salgados podem ser gatilhos para as aftas, mas deve-se avaliar sempre caso a caso.

“Eu tenho muitos doentes que me dizem muito mal do ananás, dos citrinos, do caril”, aponta Luís Fonseca.

Chocolate, banana, manga e tomate são outros dos alimentos referidos pelos pacientes como tendo este efeito.

Contudo, o médico alerta para o facto de que isto “não é taxativo para toda a gente”, ou seja, o alimento que é prejudicial para uma pessoa pode não ser para outra.

Conclui-se, portanto, que alimentos ácidos podem mesmo favorecer o aparecimento de aftas, mas não são os únicos.

Para preveni-las é fundamental evitar os alimentos que possam ser gatilhos para o aparecimento de aftas, tal como ter uma boa higiene oral e uma boa nutrição

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Úlceras únicas e duradouras: Há que estar alerta

Existem casos de aftas que têm de ser estudados, alerta o estomatologista Luís Fonseca, e dá como exemplo: “uma úlcera única que não passa num mês”.


Isto porque, na estomatite aftosa recorrente, as lesões desaparecem depois de quatro a 14 dias. Passar mais tempo é um sinal de alerta.

Há que ter especial atenção à duração da úlcera, sobretudo se o doente apresentar fatores de risco para cancro oral: homens, fumadores, que bebem álcool, com mais de 65 anos e fraca higiene oral.

Tratamento

A maior parte das aftas cura-se naturalmente sem ser necessário um tratamento. Contudo, por vezes, podem originar dores que impedem a alimentação e/ou hidratação, a correta higiene oral ou o sono.

Quando é necessário diminuir a dor do doente, os tratamentos mais comuns utilizados são medicamentos locais em gotas, spray ou gel a aplicar na zona.

Por exemplo, corticoides tópicos e alguns géis desinfetantes têm agentes que promovem a cicatrização, como a clorexidina ou o ácido hialurónico, para ajudar a regenerar o tecido.

Em casos mais graves pode ser necessário fazer-se medicação para as dores como paracetamol e anti-inflamatórios, ou mesmo corticoides orais.

Como terapia complementar, há alguns estudos que falam do benefício de comprimidos de vitamina C (ácido ascórbico) e de zinco.

O laser de baixa intensidade ou bioestimulação pode também ter um papel importante na doença moderada a severa: controla a dor e acelera a regeneração do tecido, levando, consequentemente, à diminuição do tempo das lesões.

Quando consultar um especialista?

Deve-se consultar um especialista no caso de as aftas serem muito frequentes, em grande número e se os sintomas impedirem a qualidade de vida normal – se afetam a higiene oral, o sono ou atos como comer e/ou beber.

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O mesmo se aplica quando existem aftas também noutras localizações do corpo ou outros sintomas associados.

As aftas existem predominantemente na mucosa oral, mas podem surgir noutras partes do corpo como a vagina ou sob a forma de úlceras anais.

No caso de ser uma lesão única que não passa em mais de um mês, é importante a avaliação de um médico.

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Categorias:

Saúde Oral

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Aftas | Estomatologista

7 Jun 2023 - 01:35

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