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Alimentos fora do prazo de validade. Quando comer e quando deitar fora?

Quando os alimentos chegam ao fim do prazo de validade, coloca-se uma questão: devem ir para o lixo ou ainda estarão bons para consumir? A resposta é complexa e depende do tipo de prazo em causa. Especialistas em segurança alimentar explicam como se deve ler os diferentes tipos de prazos inscritos nas embalagens.

14 Jan 2023 - 08:00

Alimentos fora do prazo de validade. Quando comer e quando deitar fora?

Quando os alimentos chegam ao fim do prazo de validade, coloca-se uma questão: devem ir para o lixo ou ainda estarão bons para consumir? A resposta é complexa e depende do tipo de prazo em causa. Especialistas em segurança alimentar explicam como se deve ler os diferentes tipos de prazos inscritos nas embalagens.

O desperdício alimentar é uma preocupação crescente da sociedade motivada por razões económicas, ambientais e éticas. Por isso, tem-se tornado mais frequente nos supermercados a criação de zonas e de etiquetas específicas com preços mais acessíveis para produtos que estão perto do fim do prazo de validade.

Para enquadrar a questão, cerca de um terço da comida produzida em todo o mundo é desperdiçada. Em Portugal, os dados do Instituto Nacional de Estatísticas (INE) referentes a 2020 revelam que foram desperdiçados 183,6 quilos de alimentos por habitante nesse ano.

No mesmo sentido das ações das empresas, há quem, a título individual, admita comer produtos já depois do prazo de validade para evitar o desperdício alimentar. Mas será esta uma prática segura? Os alimentos fora do prazo estarão aptos para consumo? E durante quanto tempo? 

Segundo as diretrizes europeias, existem dois tipos de data de validade: a “data de durabilidade mínima” e a “data-limite de consumo”. Mas o que significa cada uma destas datas? Especialistas em segurança alimentar explicam o que significa cada prazo de validade e como agir perante cada um deles.

O que significa “consumir de preferência antes de”?

A principal diferença entre os dois tipos de datas de validade é a palavra “preferencialmente”. A referência “consumir de preferência antes de” aponta para a “data de durabilidade mínima” e corresponde à data “até à qual se considera que os géneros alimentícios conservam as suas propriedades específicas”, segundo a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE).

Assim, a data indicada nessa embalagem indica o dia até ao qual os produtores “garantem que o alimento está em condições” perfeitas em termos das suas propriedades, explica ao Viral João Noronha, professor da área de segurança alimentar da Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC). 

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“A partir dessa data, o alimento poderá não estar tão bom do ponto de vista da textura e do sabor, mas não é perigoso para a saúde”, acrescenta.

O “consumir de preferência antes de” é aplicado a produtos que “não sejam perecíveis”, acrescenta Paula Teixeira, professora e investigadora na área de segurança alimentar na Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica no Porto

Apesar de o “ideal” ser consumir os alimentos “o mais frescos possível”, a especialista sublinha que “não faz sentido rejeitar produtos que tenham ultrapassado a data de durabilidade mínima”, já que a sua ingestão “não coloca em risco a saúde do consumidor”.

Mas há um fator importante: as datas de validade referidas nos alimentos só são válidas enquanto o alimento estiver fechado.

“A partir do momento em que o produto sai da embalagem, o alimento deixa de estar seguro e começa a degradar-se”, alerta João Noronha. Geralmente, estes produtos têm indicação sobre quanto tempo podem ser mantidos abertos até se estragarem.

Goreti Botelho, nutricionista e coordenadora do curso técnico superior profissional em Qualidade Alimentar na ESAC, sublinha que, caso os alimentos “exijam condições especiais de conservação e/ou de utilização”, devem “ser fornecidas instruções” no rótulo do produto, incluindo “o prazo de consumo” após abertura.

Importa sublinhar que há alimentos que, segundo o regulamento europeu, não necessitam de ter referência à data de durabilidade mínima, tais como os vinhos e bebidas com título alcoométrico volúmico de 10% ou superior, vinagres, sal de cozinha, açúcar no estado sólido, pastilhas elásticas, entre outros.

Também as frutas e produtos hortícolas que “não tenham sido descascados, cortados ou objeto de outros tratamentos similares” ou os produtos de padaria e pastelaria não têm referência a prazo de validade, refere a ASAE.

O que significa “consumir até”?

Por outro lado, a data que exige mais atenção é a que surge depois da designação“consumir até”. Segundo a definição da ASAE, a data-limite corresponde ao dia “a partir do qual não se pode garantir que os géneros alimentícios perecíveis (em termos microbiológicos) estejam em condições para consumo seguro”. 

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Este prazo surge nos alimentos frescos, como a carne e o peixe, que podem ser contaminados por microrganismos patogénicos e causar problemas de saúde. 

João Noronha esclarece que estes alimentos, por serem frescos, têm um “tempo de vida mais curto” e, por isso, não é possível “garantir a segurança” do alimento após a data indicada. O professor acrescenta que, “quando o alimento tem a indicação ‘consumir até’, é melhor não arriscar” comê-lo depois da data indicada.

Também Paula Teixeira alerta que, quando está em causa um alimento “com data-limite de consumo, não se deve exceder o prazo, porque pode-se colocar em risco a saúde”. 

Depois desta data, o alimento poderá estar contaminado com microrganismos ou toxinas prejudiciais à saúde humana, mesmo que não haja qualquer alteração visível no produto.

“Quando temos uma data-limite de consumo não podemos avaliar se o produto está ou não bom, devemos cumprir a data”, afirma a investigadora. Nestes casos, cheirar o produto ou olhar para o mesmo não vai indicar se está ou não próprio para consumo: “Não podemos cheirar ou ver, porque os nossos sentidos não conseguem identificar os microrganismos”.

Para evitar situações de desperdício, a especialista deixa um conselho: “Se tem um produto com data-limite de consumo e vê que não vai conseguir consumir [antes do fim desse prazo], o melhor é congelá-lo ou cozinhá-lo.” Ambas as técnicas de extensão do prazo de validade só são seguras se forem aplicadas antes do dia indicado na embalagem.

Se cozinhar o alimento, as altas temperaturas podem matar uma grande quantidade de microrganismos que já tenham contaminado o alimento, permitindo que este aguente até mais três dias conservado no frigorífico. Por outro lado, a congelação vai prolongar a data de validade durante mais tempo, dado que os microrganismos não se desenvolvem a baixas temperaturas. 

Além disso, os alimentos que são comercializados congelados também “contêm na rotulagem informação sobre as condições de conservação e sobre o prazo de validade a respeitar”, lembra Goreti Botelho.

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Riscos de consumir alimentos fora do prazo de validade

Consumir alimentos com a indicação “consumir até” depois de a data-limite de validade estar ultrapassada pode acarretar perigos para a saúde.

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A ingestão de microrganismos patogénicos (bactérias, parasitas, vírus ou toxinas) pode provocar uma intoxicação alimentar, sendo os sintomas mais comuns diarreia, dores de estômago ou cólicas, náuseas, vómitos e febre.

Nos casos mais simples, a intoxicação alimentar passa ao fim de alguns dias. Contudo, se os sintomas persistirem ou se tornarem mais intensos, será necessária intervenção médica. 

Segundo o Centro norte-americano de Controlo de Prevenção de Doença (CDC), as intoxicações alimentares graves podem causar problema de saúde graves – tais como meningite, danos renais ou danos cerebrais e nervosos – ou até provocar a morte. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) revelam que, todos os anos, morrem 420 mil pessoas devido à ingestão de alimentos contaminados.

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Alimentação

14 Jan 2023 - 08:00

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