
Todos os comprimidos podem ser cortados ao meio?
A dificuldade em engolir ou a necessidade de consumir uma dose mais baixa leva alguns utentes a cortarem os comprimidos ao meio. Mas será que todos os comprimidos podem ser cortados ao meio? E como fazê-lo de forma mais segura?
Quando a dosagem dos medicamentos é superior à que um utente pretender tomar, é comum a prática de cortar comprimidos ao meio, mesmo sem haver aconselhamento médico nesse sentido. Mas será que todos os comprimidos podem ser cortados ao meio? E quais os cuidados a ter?
Todos os comprimidos podem ser cortados ao meio?
Em declarações ao Viral, a farmacêutica Teresa Lourenço começa por explicar que nem todos os comprimidos “deveriam ser cortados ao meio”.
Segundo a diretora técnica da Farmácia Parque do Estoril, alguns comprimidos têm “um revestimento, uma película protetora, que é colocada de propósito para que o medicamento não sofra a degradação no estômago, sendo absorvido apenas no intestino”. Por isso, “ao cortarmos este tipo de comprimidos, podemos estar a condicionar esse mecanismo de ação”.
Nesse sentido, a farmacêutica sublinha não ser aconselhado o corte de alguns comprimidos com uma formulação de libertação prolongada, ou seja, “cujo princípio ativo é colocado numa espécie de matriz” a fim de permitir “uma libertação controlada da substância ativa ao longo de um determinado período de tempo”.
Isto porque, “se cortarmos o medicamento de libertação prolongada, essa matriz vai ficar estragada e não se vai conseguir garantir que a libertação da substância ativa se faça de forma progressiva e ao longo do tempo como seria suposto”.
No mesmo plano, a agência que regula os medicamentos nos Estados Unidos da América, a FDA, avança num texto publicado no seu site que “a maioria dos medicamentos de libertação prolongada, controlada ou lenta não se destina à divisão”.
Ainda assim, Teresa Lourenço adianta existirem outros casos em que é necessário e seguro cortar os comprimidos ao meio, nomeadamente “na área de cardiologia ou da psiquiatria, em que, muitas vezes, há a necessidade de fazer um aumento ou uma diminuição progressiva da dosagem, por exemplo, para fazer o desmame de um medicamento”.
Nesses casos, acrescenta, os medicamentos já vêm, por vezes, preparados “com ranhuras que vão facilitar o corte”. No entanto, alerta, sempre que um utente corta um comprimido deve fazê-lo “por indicação de um médico e sob orientação do mesmo”.
Importa sublinhar que no folheto informativo de alguns medicamentos, como este, se descreve que a ranhura presente nos comprimidos “destina-se apenas a facilitar a divisão, para ajudar a deglutição e não para dividir em doses iguais”.
Como cortar comprimidos ao meio de forma segura?
Quando é necessário cortar comprimidos ao meio, há alguns cuidados a ter. O primeiro, avança Teresa Lourenço, é “nunca trincar o comprimido” com o intuito de o partir.
Posto isto, pode utilizar-se “uma faca de cozinha bem limpa e seca” para proceder ao corte, sendo que, em seguida, deve “guardar-se a outra metade do comprimido dentro de uma caixa própria para comprimidos ou dentro do blister de onde foi tirado”.
Por outro lado, completa, quando há a necessidade de cortar comprimidos com frequência, o ideal “será comprar uns pequenos dispositivos para corte de comprimidos, uma espécie de caixinhas, que incluem uma lâmina, e dentro das quais os comprimidos são cortados”.
Deste modo, assegura-se que o comprimido foi cortado “de uma forma muito correta e muito linear”. Além disso, esses dispositivos, vendidos na farmácia, podem ser utilizados para guardar a outra metade do comprimido protegida “da humidade, do calor”.
Em suma, nem todos os comprimidos devem ser partidos ao meio, e o corte de um comprimido deve ser sempre feito por indicação e sob orientação de um médico.
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