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Beber leite com alho cura asma e pneumonia?

Numa publicação de Facebook alega-se que uma bebida à base de alho e leite tem muitos “benefícios para a saúde”, podendo até curar asma e pneumonia. Verdadeiro ou falso?

30 Nov 2022 - 11:21
falso

Beber leite com alho cura asma e pneumonia?

Numa publicação de Facebook alega-se que uma bebida à base de alho e leite tem muitos “benefícios para a saúde”, podendo até curar asma e pneumonia. Verdadeiro ou falso?

“Leite com alho é uma cura para asma, tuberculose, pneumonia, insónia, questões de coração, tosse, artrite e muito mais”, lê-se numa publicação partilhada desde 2020 no Facebook. Segundo o post, o alho é “um vegetal surpreendente”, que contém “um número incalculável de benefícios para a saúde”.

No mesmo texto em que se apresenta esta receita caseira, alega-se que a bebida permite “tratar asma e pneumonia” e “tratar a tosse”, mas não só. Na longa lista de alegados benefícios, é indicado que o “alho leite” trata “doenças do peito”, “melhora a saúde digestiva”, reduz “os níveis de colesterol mau” e “os sintomas de artrite”, auxilia nas insónias e “cura icterícia”.

Leite com alho cura asma e pneumonia?

Beber leite com alho não é um tratamento adequado para as pessoas com asma ou pneumonia e não cura nenhuma destas doenças. Em declarações ao Viral, Rita Gerardo, pneumologista no Hospital de Santa Marta e ex-coordenadora da Comissão de Alergologia Respiratória da Sociedade Portuguesa de Pneumologistas (SPP), explica que existem tratamentos eficazes e seguros tanto para a asma quanto para a pneumonia e alerta que recorrer a “mezinhas” tem riscos.

“A asma dispõe de milhares de estudos científicos que demonstram e comprovam a eficácia e a segurança das terapêuticas utilizadas e defendidas pela comunidade médica e científica”, afirma a pneumologista.

Nas últimas décadas, o tratamento e o controlo da asma evoluiu significativamente, sendo os medicamentos administrados, na maioria, “com recurso a inaladores, que os doentes designam frequentemente por ‘bombinhas’”.

A pneumologista lembra ainda que a asma “é uma das doenças crónicas mais frequentes do mundo”. Em Portugal, estima-se que cerca de 10% da população tem asma, sendo uma doença mais prevalente na idade pediátrica. 

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Por ser uma doença crónica, não há cura para a asma, mas os tratamentos prescritos atualmente permitem ao paciente reduzir os sintomas e controlar os efeitos da doença. Com a doença controlada, os indivíduos conseguem ter uma vida normal, sem as chamadas crises de falta de ar e pieira.

Também no caso da pneumonia – que é “uma das infeções respiratórias mais frequentes no mundo” – a ciência tem vindo a demonstrar, através de “inúmeros estudos”, a eficácia dos tratamentos, garante Rita Gerardo.

Sendo a pneumonia uma doença pulmonar provocada por um microorganismo, o tratamento passa pela “administração de terapêutica que permita eliminar esse micróbio, ou seja, através de antibióticos”, esclarece a pneumologista. E deixa um alerta: “Na ausência do antibiótico correto, a probabilidade de a infeção ultrapassar os pulmões, disseminar-se pelo corpo e ter um desfecho fatal é muito grande.”

“Nos dias de hoje, a utilização de ‘mezinhas’ para tratar ou curar doenças potencial e historicamente fatais, está completamente ultrapassada”, afirma Rita Gerardo. 

Nesse sentido, reitera, “existem linhas de orientação terapêutica mundiais, quer para atingir o controlo da asma quer para tratar a pneumonia, que são eficazes em qualquer país e em qualquer população mundial.”

Recorrer a “mezinhas” pode provocar efeitos adversos ou tóxicos

leite com alho

A publicação de Facebook apresenta os quatro ingredientes usados para fazer esta bebida de leite com alho. Segundo a receita, deve misturar-se 10 dentes de alho pelados e picados, 500ml de leite, 250ml de água e duas a três colheres de açúcar. No entanto, a quantidade de alho que é referida pode corresponder a diferentes dosagens dos componentes, avisa Rita Gerardo, lembrando que o tamanho de cada dente de alho e o local onde estes foram produzidos poderá ter influência na composição molecular do alimento.

“Se se demonstrar a eficácia do alho nos tratamentos destas doenças, a prescrição médica não será x dentes de alho triturados em x quantidade de leite. A prescrição médica será de x gramas de um ou mais componentes do alho, produzido num laboratório certificado nacional e internacionalmente, em quantidade e qualidade predefinida”, explica a pneumologista, vincando que utilização deste tipo de “mezinhas” poderá ter “efeitos adversos e/ou tóxicos”.

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A pneumologista reconhece que “muitas plantas e alimentos podem, pelas suas propriedades terapêuticas, ter muitos benefícios”, mas frisa que “podem também provocar doença muito grave”. 

A título de exemplo, completa, “o consumo de alho em grande quantidade está contraindicado para quem toma antiagregantes plaquetários ou anticoagulantes (fármacos que tornam mais difícil estancar o sangue perante uma lesão ou ferida)”, pois este alimento tem a capacidade de “tornar o sangue ‘mais fluido’ e tornar mais difícil a sua coagulação”.

O papel da ciência farmacêutica é identificar as “moléculas responsáveis pelos efeitos pretendidos”, tratando depois de as otimizar em laboratório para “maximizar o seu efeito e, por outro lado, diminuir todos os efeitos adversos e tóxicos que poderão conter”, afirma Rita Gerardo. 

A segurança do medicamento é um dos fatores importantes para que estes sejam aprovados pelos reguladores internacionais – como a Agência Europeia do Medicamento (EMA, na sigla inglesa) ou o regulador norte-americano FDA – e pelo regulador nacional, que em Portugal é o Infarmed.

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Alimentação

30 Nov 2022 - 11:21

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