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Deixar de fumar engorda? Como evitar o ganho de peso

22 Jun 2024 - 08:30

Deixar de fumar engorda? Como evitar o ganho de peso

É possível que já tenha ouvido dizer que deixar de fumar engorda. A crença de que todas as pessoas que deixam o tabaco estão destinadas a ganhar gordura continua a ser um motivo de receio para aqueles que pretendem acabar com o vício da nicotina. Mas será que todas as pessoas engordam depois pararem de fumar? A que se deve o possível aumento de gordura? E como evitá-lo?

É verdade que deixar de fumar engorda?

Nem todas as pessoas que deixam de fumar engordam, mas esse risco existe. Quem o diz, em esclarecimentos ao Viral, é José Pedro Boléo-Tomé, pneumologista do Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca (HFF), atual coordenador da Comissão de Trabalho de Técnicas Endoscópicas da Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP) e antigo coordenador da Comissão de Trabalho de Tabagismo da mesma sociedade.

Segundo o médico consultado pelo Viral,  “o consumo de nicotina tem um gasto calórico associado”. Por isso, quando uma pessoa deixa de fumar, “pode haver algum ganho de peso” (ver também aqui, aqui e aqui).

Também está demonstrado que “quando as pessoas deixam de fumar, nas primeiras semanas, há um aumento do apetite”, prossegue.

Além disso, sabe-se que, com a cessação tabágica, “o paladar melhora”, o que se pode traduzir numa “maior apetência para comer”, aponta.

Estes fatores podem justificar “um pequeno aumento de peso que muitas vezes é temporário”, frisa o especialista. 

Aliás, a Associação Americana do Coração refere, num documento, que “a média de aumento de peso depois de deixar de fumar é inferior a cinco quilos”.

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Segundo José Boléo-Tomé este ganho ocorre “num período inicial em que o organismo se está a reequilibrar”. 

Por isso, “se não houver uma grande diferença de hábitos, se a pessoa continuar a fazer as suas refeições como antes e a comer o mesmo tipo de coisas, em princípio, não vai ganhar peso permanentemente”, defende.

Por outro lado, em casos específicos, “pode haver aumentos de peso maiores”. O pneumologista explica que “há uma pequena percentagem de pessoas” que começa a comer de uma forma mais compulsiva, com o objetivo de lidarem com a falta do tabaco.

Ao deixar de fumar, a pessoa “deixa de ter a recompensa imediata do tabaco”, por isso “refugia-se noutros consumos, noutras recompensas imediatas”, esclarece.

Isto acontece, sobretudo, com pessoas que “podem ter problemas psicológicos associados”.

É comum tentar-se mascarar quadros de ansiedade com o tabaco, por exemplo. “Muitas pessoas usam o cigarro como ansiolítico, apesar de a nicotina ser um estimulante e agravar a ansiedade”, frisa o especialista da SPP.

Os benefícios de deixar de fumar compensam o risco de engordar?

Do ponto de vista de José Boléo-Tomé, “deixar de fumar compensa sempre, mesmo que a pessoa já tenha mais idade ou mesmo que já tenha problemas de saúde”.

Como se tem conhecimento do risco de ganho de peso, nomeadamente de massa gorda, existem “intervenções não só para evitar, mas também para lidar com esse aumento de peso, caso aconteça”, refere o médico.

Por esse motivo é que, na perspetiva do pneumologista, é tão importante que as pessoas que pretendem deixar de fumar sejam acompanhadas por um profissional de saúde.  

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“Se as pessoas estiverem a ser tratadas e não estiverem com síndrome de abstinência, a probabilidade de aumentarem de peso é muito menor”, avança.

Assim, continua o especialista, em casos de ganho de peso ou de pessoas que correm mais esse risco, “o ideal é incluir também o apoio de um nutricionista”, de modo a prescrever-se as mudanças de estilo de vida necessárias.

Quais os benefícios concretos de deixar de fumar?

Qualquer pessoa beneficia da cessação tabágica, mesmo os doentes com doença em estado avançado. Aliás, destaca José Boléo-Tomé, “as diferenças são mais notórias nas pessoas que já estão doentes”. 

Uma das primeiras diferenças é “a nível respiratório”, adianta o médico. De modo geral, adquire-se “uma melhoria da capacidade respiratória, com menos tosse e menos falta de ar”.

O aumento da capacidade de fazer exercício físico também é uma mudança percetível nos primeiros tempos depois de se deixar de fumar.

Num texto publicado no site do Serviço Nacional de Saúde (SNS) apresenta-se uma pequena cronologia dos benefícios imediatos, a médio e a longo prazo para a pessoa que deixa de fumar (ver também aqui, aqui e aqui).

Logo 20 minutos após a cessação tabágica, “a pressão arterial e a frequência cardíaca voltam ao normal” e 12 horas depois “os níveis de monóxido de carbono no sangue” também normalizam.

Entre duas semanas a três meses depois, verifica-se a melhoria da capacidade respiratória, da circulação do sangue e do olfato e do paladar.

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Ainda nesta fase, já há a redução do risco de enfarte e “os doentes diabéticos passam a controlar melhor a sua doença”, aponta-se no mesmo texto.

Após um a nove meses, há um “aumento gradual do bem-estar geral, acompanhado de mais vitalidade” e o sistema respiratório continua a melhorar.

Apenas um ano depois de se deixar o tabaco, “o risco de ataque cardíaco diminui para cerca de metade do observado nas pessoas que continuam a fumar”.

No decurso de cinco anos “o risco de acidente vascular cerebral diminui, ficando semelhante ao das pessoas que não fumam, e o risco de cancro da boca, da garganta, do esófago e da bexiga reduz para metade”, adianta-se.

Uma década depois, a pessoa “corre 50% menos risco de ter um cancro do pulmão do que as pessoas que continuam a fumar” e o risco de cancro do pâncreas e do rim também diminuem.

Passados 15 anos, “o risco de doença coronária é semelhante ao de uma pessoa não fumadora, do seu sexo e idade”, destaca-se.

De acordo com a informação disponível no site dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla inglesa) dos Estados Unidos, vinte anos depois da cessação tabágica, o risco de cancros da boca, da garganta, da laringe e do pâncreas diminui para valores próximos dos de alguém que não fuma e “o risco acrescido de cancro do colo do útero diminui para cerca de metade”.

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Mesmo que a pessoa já esteja com uma doença que está numa fase avançada, como um cancro, por exemplo, “há benefícios em deixar de fumar”, defende José Boléo-Tomé.

Melhoram a qualidade de vida, sentem-se melhor e respondem melhor aos medicamentos”, conclui.

22 Jun 2024 - 08:30

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