Devo tomar o antibiótico até ao fim da prescrição?
É uma dúvida comum: o que pode acontecer se pararmos de tomar um antibiótico antes da data indicada pelo médico? Existe mesmo algum risco para a saúde?
Os antibióticos são muito importantes no combate a algumas doenças, mas devem ser tomados com precaução. Em primeiro lugar, há que perceber em que situações estes medicamentos são úteis e quais os riscos de uma toma desadequada.
Em declarações ao Viral, o especialista em Medicina Geral e Familiar e professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) Paulo Santos esclarece todas as questões.
O que são antibióticos?
Os antibióticos são medicamentos que servem para tratar infeções bacterianas, ou seja, que se desenvolvem quando bactérias que nos são prejudiciais se multiplicam no nosso corpo.
Estes medicamentos não têm qualquer efeito sobre as infeções provocadas por vírus, o que significa que não curam gripes e constipações.
Além disso, os antibióticos são um grupo muito heterogéneo de medicamentos e têm diferentes formas de atuação. Por exemplo, alguns inibem o crescimento das bactérias, outros “dissolvem” a cápsula que as reveste e ainda há os que interferem na capacidade de reprodução destes microorganismos.
O objetivo geral é sempre o mesmo: impedir a progressão da infeção no nosso corpo. No entanto, existem antibióticos mais direcionados para cada situação.
Por isso, “a automedicação nos antibióticos é perigosa”, alerta Paulo Santos, médico de Medicina Geral e Familiar. Nesse sentido, é essencial que haja uma avaliação médica e uma prescrição para a toma dos mesmos.
As dosagens e os intervalos de tempo recomendados também devem ser respeitados. A automedicação com antibióticos que sobraram de prescrições anteriores está fora de questão.
Há ainda que confiar no diagnóstico e terapêutica indicados pelo médico: “Se um médico diz que não é preciso antibiótico é porque não é preciso antibiótico naquele momento”, refere o especialista.
É verdade que se deve tomar sempre um antibiótico até ao fim?
Sim, deve-se tomar um antibiótico até ao fim da recomendação terapêutica. Aliás, o tamanho da maior parte das caixas que estão disponíveis nas farmácias corresponde à indicação terapêutica mais comum. Contudo, pode não coincidir com a prescrição feita.
“O que está em causa não é o tamanho da caixa de antibiótico, é o período recomendado de tratamento”, explica Paulo Santos.
Ou seja, até ao final da prescrição nem sempre significa até ao final da(s) caixa(s). “Pode até haver um excesso de comprimidos em relação àquilo que é a necessidade”, acrescenta o especialista.
O médico dá ainda o exemplo dos xaropes para as crianças em que as dosagens são calculadas em função do peso da criança.
Pode acontecer uma caixa de antibiótico ter comprimidos suficientes para tomar durante oito ou dez dias, mas a indicação do médico ser para tomar durante apenas quatro dias. Significa que iremos ter sobras no final da caixa.
Há, por isso, que ter em atenção o número de tomas e não se a caixa já terminou.
O tempo de duração do antibiótico não depende só do antibiótico, mas também do diagnóstico, ou seja, daquilo que o doente apresenta.
Porque é que não devemos interromper ou encurtar a toma de um antibiótico?
A cada contacto com um antibiótico as bactérias vão desenvolvendo uma resistência àquela substância. Isto é algo natural, mesmo quando se trata de um antibiótico adequado.
As bactérias são seres vivos e, como tal, tentam sempre adaptar-se para conseguirem sobreviver.
Contudo, generalizar o consumo de antibióticos e haver uma falta de rigor na toma do medicamento acelera o processo.
Aumenta-se, assim, a resistência das bactérias a estes antibióticos, o que compromete gravemente a eficácia dos tratamentos no futuro.
“Nós temos cada vez mais bactérias resistentes e super-resistentes, que resistem a três e quatro classes de antibióticos”, realça Paulo Santos.
Esta resistência aos antibióticos é considerada um problema de saúde pública.
“Qualquer hospital neste momento tem um conjunto de doentes vulneráveis (pessoas idosas, com imunodeficiência, com cancro, transplantadas) que apresentam bactérias multirresistentes”, aponta Paulo Santos.
Algo que, segundo o médico, cria “problemas enormes” porque, às vezes, não têm nenhum antibiótico que consiga regular aquela infeção.
O médico alerta ainda para o facto de que estes problemas não se refletem só naquela pessoa, mas sim na sociedade em geral: “É a nossa saúde, de todos nós, que está em risco com este tipo de bactérias”.
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