Tratamentos
Não, a acupuntura não tem efeito antibiótico
Segundo as clínicas de medicina tradicional chinesa, a acupuntura tem efeitos em várias doenças, síndromes, condições e dores. Uma das afirmações que costuma ser avançada é que esta técnica tem efeito antibiótico. Problema: não existe evidência que o comprove
A acupuntura é uma das mais famosas terapias de medicina tradicional chinesa praticada nas
sociedades ocidentais. Este tratamento consiste em colocar agulhas bem finas em pontos
específicos do corpo do paciente. São muitas as afirmações de que esta terapêutica não
convencional tem benefícios para a saúde, entre eles o efeito antibiótico. Será que é verdade?
Um antibiótico é um componente capaz de matar ou impedir o crescimento de
bactérias no interior do corpo humano. É usado para tratar doenças de foro bacterial e deve
ser tomado apenas quando prescrito por um médico. Estes medicamentos podem ser
administrados em forma de comprimidos, cápsulas, xaropes, pomas ou outros.
Não existe qualquer evidência científica que comprove que a acupuntura tenha efeitos
antibióticos no corpo humano. Os investigadores têm vindo a estudar os efeitos da acupuntura
em várias doenças, no entanto há dois grandes grupos: os que defendem os efeitos da
acupuntura e os que afirma não haver evidências científicas. Se, por um lado, há estudos que
afirmam que a acupuntura melhora algumas situações de dores e ajuda a recuperação quando
realizada em conjunto com outros tratamentos médicos, por outro há também estudos que
garantem que o impacto desta técnica no bem-estar do paciente não é significativo e pode ser
mesmo efeito placebo.
É verdade que a Organização Mundial de Saúde (OMS) apresentou durante mais de
uma década um relatório que incluía cerca de 90 doenças para as quais a acupuntura era
indicada – entre as quais para o tratamento de HIV e hepatite. Porém, o relatório
“Acupuntura: Revisão e Análise dos Estudos de Ensaios Clínicos Controlados” foi
retirado em março de 2014, devido ao aparecimento de evidência científica substancial
que contradizia a OMS.
Mesmo entre as entidades que reconhecem alguns efeitos benéficos da acupuntura – como é
o caso do Centro Norte-Americano para Saúde Complementar e Integrativa – não
existe referência a qualquer estudo que comprove que esta técnica possa atuar como
antibiótico.PUB
No relatório que sustenta esta decisão – e que foi realizado por apoiantes da medicina
tradicional chinesa – era referido, entre outras doenças, que a acupuntura poderia atuar
contra infeções, uma vez que “os efeitos do tratamento acupuntura estimula o sistema
imunitário”, o que sugere que esta prática pode ser “usada em conjunto com outras terapias
médicas para tratar infeções”.
No entanto, essa e outras afirmações têm vindo a ser revistas através de estudos de meta-
análise e revisões sistemáticas. A Cochrane é uma das mais prestigiadas organizações
de investigação e, nos últimos anos, publicou 54 revisões sistemática sobre o impacto da
acupuntura no tratamento de diversas doenças, mas, em nenhum, faz referência ao efeito
antibiótico da acupuntura. Os estudos podem ser consultados na base de dados disponíveis online. Pode também ler o resumo das conclusões de cada revisão realizado por Edzard Ernst [LINK8], professor emérito da Universidade de Exeter e fundador de três jornais
de medicina – “Focus on Alternative and Complementary Therapies”, “European
Journal of Physical medicine and Rehabilitation” e “Perfusion”.
Mesmo entre as entidades que reconhecem alguns efeitos benéficos da acupuntura – como é
o caso do Centro Norte-Americano para Saúde Complementar e Integrativa – não
existe referência a qualquer estudo que comprove que esta técnica possa atuar como
antibiótico. Neste caso, são identificados benefícios para a dor de costas, dor de pescoço, dor
nos joelhos ou osteoartrite, cefaleias ou dores de cabeça. Também o serviço de saúde do
Reino Unido apresenta “recomendações” de acupuntura para dor crónica, dor de cabeça
relacionada com tensão arterial, enxaquecas, dores nas articulações, dor de dentes e dor pós-
operatória.
No entanto, nem esse efeito é consensual: num artigo publicado apelidado “Continua a haver
lugar para a acupuntura na prática de medicina do século XXI?”, a organização
australiana Friends of Science in Medicine faz um apanhado da literatura científica
sobre a acupuntura e afirma que “as revisões recentes sobre a efetividade da acupuntura na
dor geral são bastante condenatórios”. Ou seja, “depois dos estudos clínicos, a acupuntura não
mostrou claramente ser efetiva para nenhuma indicação”. “Em resumo é mais razoável sugerir
que a acupuntura não funciona sendo mais um ‘placebo teatral’”, pode ainda ler-se no
documento.
Também um artigo publicado revista científica Anesthesia& Analgesia em 2013,
dedicada à área médica de anestesiologia, é afirmado que não existe uma diferença
significativa nos resultados médicos entre doentes que realizaram acupuntura e os grupos de
controlo – que foram sujeitos a falsas sessões de acupuntura (a chamada “scam acupulcture”).
“É agora unânime que os benefícios, se é que os há, da acupuntura como analgésico são
demasiado pequenos para serem úteis para os pacientes”, pode ainda ler-se.
Concluindo: não existem dados que comprovem que a acupuntura tem um efeito antibiótico
no corpo humano. Os efeitos desta medicina alternativa são muito questionados no meio
científico: por um lado há quem defenda que esta prática tem um efeito placebo, por outro há
também entidades a considerarem que a acupuntura tem algum efeito ao nível do tratamento
da dor. É necessário prosseguir com os estudos e ensaios clínicos sobre o tema.
É importante referir que a prática de terapêuticas não-convencionais – na qual se inclui a
acupuntura – é legislada em Portugal e, antes de qualquer tratamento, deverá
confirmar que os terapeutas tenham cédula profissional.
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