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Medicamentos e pomadas fora do prazo perdem efeito? É seguro tomá-los?

10 Abr 2023 - 12:29

Medicamentos e pomadas fora do prazo perdem efeito? É seguro tomá-los?

Ao longo da vida, são receitados diversos medicamentos e pomadas para diferentes problemas de saúde agudos. Muitas vezes, esses fármacos vão-se acumulando em casa durante vários meses (ou anos) e, quando se volta a precisar deles, já estão fora do prazo de validade.

Perante uma situação destas, o que deve fazer? É seguro tomar medicamentos depois de ter passado o prazo? É verdade que os fármacos podem perder o efeito? O Viral falou com especialistas em farmacologia para perceber quais os cuidados a ter.

Terminou o prazo. Devo ou não tomar o medicamento?

medicamentos fora do prazo

Os prazos de validade dos medicamentos são uma garantia de qualidade. Isto significa que, até à data referida na parte exterior das embalagens, os fármacos estão em condições, são seguros e são eficazes no tratamento.

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Em declarações ao Viral, João José Sousa, professor na Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra (FFUC), adianta que, “quando termina o prazo de validade”, o paciente “não deve utilizar o medicamento”. 

A validade de um fármaco é determinada através de vários testes em que são analisados vários fatores, tais como a dosagem do princípio ativo, a organolética do medicamento e as características particulares de cada fármaco.

Também Alexandrina Ferreira Mendes, investigadora no CNC – Centro de Neurociências e Biologia Celular e também professora na FFUC, explica que o “prazo de validade é uma segurança, ou seja, uma garantia de que, até aquela data, a dosagem é a que está indicada na embalagem e a que é necessária para o tratamento”.

“Um fármaco é um composto químico e, como todos os compostos químicos, altera-se com o tempo em função das condições ambientais a que é sujeito”, prossegue a investigadora.

A dosagem do princípio ativo – o elemento químico que tem efeito no tratamento – é uma das alterações comuns que acontecem com o passar do tempo. Esta dose pode diminuir, fazendo com que o medicamento deixe de ter eficácia no tratamento da doença.

“Ao ultrapassar o prazo de validade, o medicamento pode perder o efeito, mas não causa toxicidade”, sublinha Alexandrina Ferreira Mendes. 

Por outras palavras, continua, “não é como comer um iogurte fora do prazo, que pode causar uma gastroenterite”.

“Nos alimentos, há formação, por ação de agentes externos, de outros compostos químicos que podem ser nocivos. Nos medicamentos há perda de eficácia”, completa.

Assim sendo, tomar um medicamento fora do prazo pode ser perigoso para a saúde na medida em que poderá não produzir o efeito esperado no organismo, dando espaço à condição que levou à administração do fármaco para se prolongar e, até, piorar. 

O Infarmed, num documento informativo sobre a utilização de medicamentos em casa publicado em 2009, também aconselha os utentes a “nunca utilizar um medicamento após terminar o prazo de validade”. Sublinha ainda que “há medicamentos, por exemplo gotas para os olhos ou xaropes, que têm um prazo de conservação depois de aberto (mais curto que o prazo de validade)”, aconselhando a que “registe a data de abertura de embalagem, para evitar esquecimentos”.

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Diferença entre prazo de validade e prazo de consumo

medicamentos fora do prazo

Além da data de validade que está presente em todos os medicamentos – seguindo as normas da Agência Europeia do Medicamento (EMA, na sigla inglesa) e do Infarmed – alguns medicamentos têm outra referência temporal: o período durante o qual pode ser usado o medicamento após a abertura.

O prazo de validade após abertura da embalagem – também identificado como prazo de conservação ou prazo de consumo – pode vir referido no exterior da embalagem ou na bula do medicamento. 

Esta restrição temporal é utilizada para os medicamentos de multidose – como xaropes, pomadas ou soluções e está também presente em cremes e produtos cosméticos.

Geralmente, o prazo de consumo não é aplicado aos comprimidos em blister, uma vez que a toma de um não interfere com os restantes. Por serem armazenados individualmente, não estão tão sujeitos à interferência do ambiente.

Esta segunda validade está relacionada com as características organoléticas do fármaco e com a quantidade de microrganismos que podem desenvolver-se com a utilização do produto e com o passar do tempo.

“A partir do momento que a embalagem é aberta, o fármaco deixa de ser estéril [sem microrganismos]”, explica João José Sousa. “No entanto, apesar da utilização, o fármaco mantém-se microbiologicamente aceitável até à data indicada”, acrescenta.

Alexandrina Ferreira Mendes lembra que, de “cada vez que abrimos a embalagem”, o fármaco entra “em contacto com o ar”, o que torna a “degradação mais fácil”. 

Também a utilização das mãos para mexer e aplicar as pomadas e cremes pode levar à contaminação do produto.

A investigadora destaca ainda que os medicamentos com forma “líquida ou pastosa” têm uma maior possibilidade de alteração das características depois de aberta a embalagem. 

O prazo de consumo depende também da região onde deve ser aplicado o fármaco, principalmente no caso das pomadas. Se for uma pomada oftálmica, a duração da validade após abertura é muito mais curta, porque existe o risco de colocar microrganismos nos olhos que já é considerado elevado após uma semana da abertura do fármaco. 

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Como se calcula a validade dos medicamentos?

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João José Sousa é direto quando se fala dos prazos de validade dos medicamentos: “Temos uma parte científica muito acoplada à parte regulamentar. As regras que seguimos [em Portugal] são as mesmas que são emanadas pela EMA e servem para todos os países do espaço económico europeu”.

E de onde vêm estas informações? “Os investigadores fazem estudos de estabilidade com dois objetivos: definir o prazo de validade e as condições particulares de conservação”, explica o professor. Antes de chegar ao mercado, o medicamento é testado sob condições climáticas específicas para determinar o comportamento do produto.

Em Portugal, as condições consideradas normais de armazenamento representam os 25ºC (+/- 2ºC) e os 60% de humidade (+/- 5%). É com base nestas condições que se determina o prazo de validade. São também realizados estudos de condição acelerada, em que os medicamentos são sujeitos a uma temperatura e nível de humidade mais elevados para perceber se o fármaco aguenta, por exemplo, as condições de transporte.

É ainda realizado um estudo à estabilidade em uso simulado, ou seja, uma análise ao comportamento do medicamento quando utilizado pelo paciente. “Este estudo permite estabelecer o prazo de validade após aberta da embalagem”, explica João José Sousa.

Além dos prazos de validade, também as condições de conservação são incluídas na embalagem do medicamento. O Infarmed aconselha que os medicamentos sejam “mantidos ao abrigo da luz, da humidade e de temperaturas elevadas”, acrescentando que estes produtos não devem estar na cozinha ou na casa de banho.

“Alguns medicamentos carecem de cuidados adicionais de conservação, devendo ser guardados no frigorífico”, acrescenta. Exemplos disso, continua, são a insulina, as vacinas e alguns antibióticos.

Qual a melhor forma de descartar os medicamentos?

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Uma vez ultrapassado o prazo de validade, os medicamentos deixam de ter funcionalidade e devem ser descartados. No entanto, não deve colocar os fármacos no lixo comum nem na reciclagem. Os químicos utilizados na composição dos comprimidos, xaropes, pomadas e loções podem contaminar o ambiente.

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“Os medicamentos devem ser entregues na farmácia. Não vão para o lixo, porque prejudicam o ambiente”, afirma Alexandrina Ferreira Mendes, alertando que os fármacos “não atuam só nos humanos e podem influenciar todo o ecossistema”.

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Além dos medicamentos em si, também as embalagens devem ser entregues nas farmácias para um correto tratamento dos resíduos. Isto porque “tudo o que teve em contacto com o medicamento” pode atuar na contaminação do ambiente.

A professora de farmacologista dá um exemplo concreto: “No caso dos frascos de xarope, que são de vidro, não devemos lavar e colocar no vidrão, porque o conteúdo do fármaco vai pela água até aos rios.” 

A Valormed (Sociedade Gestora de Resíduos de Embalagens e Medicamentos) aponta que não se deve colocar os medicamentos e as embalagens vazias no lixo doméstico ou através dos esgotos. Isto porque estes são “resíduos especiais e, por isso, devem ser depositados nos contentores da Valormed que se encontram nas Farmácias Comunitárias e Parafarmácias”. 

Estes resíduos serão “depois recolhidos através de um sistema cómodo e seguro”.

Nestes contentores, pode colocar “embalagens e medicamentos, incluindo os folhetos e as caixas, mesmo que contenham blisters, frascos, bisnagas, entre outros, com restos ou vazios”. 

Por outro lado, não deve colocar nesses recipientes “agulhas e seringas, termómetros de mercúrio, pilhas, aparelhos eletrónicos, material de penso e cirúrgico, produtos químicos, radiografias”, entre outros.

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Medicamentos

10 Abr 2023 - 12:29

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