Os produtos sem glúten e sem lactose são uma alternativa para quem tem intolerâncias ou alergias alimentares a estas substâncias e encontram-se, muitas vezes, na zona do supermercado conhecida como “área saudável”.

Mas serão estes produtos mais saudáveis do que os convencionais? Deve evitar consumir glúten e lactose, mesmo que não seja intolerante ou alérgico?

Alimentos sem lactose são mais saudáveis?

Para quem não é intolerante, os alimentos sem lactose não são mais saudáveis. Mas também não são prejudiciais à saúde.

Em declarações ao Viral, Filipa Vicente, nutricionista e professora auxiliar do Instituto Egas Moniz, explica que os processos para retirar a lactose dos produtos “conseguem conservar uma parte significativa do valor nutritivo do produto original”.

Como mamíferos, os seres humanos estão preparados para tolerar o consumo do leite durante a fase lactente (em bebés). Ainda assim, tendo em conta que a ingestão de leite se mantém durante a idade adulta, o “corpo continua a produzir a beta-galactosidase no intestino que assegura a digestibilidade” da lactose, explica a nutricionista.

“Salvo se houver algum percalço”, explica, o ser humano “pode beber leite durante a vida toda nas quantidades de uma alimentação saudável” sem um prejuízo para a saúde. Esse percalço poderá ter o nome de intolerância à lactose. Nesses casos, as opções sem lactose são as mais aconselhadas. “Se não houver intolerância, não há necessidade de evitar” estes produtos, conclui.

No mesmo sentido, José Camolas, vice-presidente da Ordem dos Nutricionistas e professor na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e no Instituto Egas Moniz, concorda que, caso o indivíduo não tenha intolerância à lactose, “não tem nenhum benefício em beber leite sem lactose”. 

No entanto, completa o nutricionista, “também não tem nenhum prejuízo especial”.

Produtos sem glúten são mais saudáveis?

Quanto aos produtos sem glúten, estes também não são considerados mais saudáveis do que os convencionais. Aliás, se os produtos em causa forem muito processados – e não géneros alimentícios naturalmente isentos de ingredientes que contêm glúten (como o trigo ou a cevada) -, poderão até ser piores para a saúde.

José Camolas destaca que os alimentos rotulados como “glúten free” (sem glúten, em português) são, “com frequência, mais ricos em gordura” e, “algumas vezes, mais pobres em algumas vitaminas e minerais”. 

“Não estou a referir-me a deixar de comer cereais de trigo e começar a comer cereais de milho ou aveia. Estou a falar de [consumir] alimentos processados. Quando a deriva vai nesse sentido e só se escolhe ‘glúten free’, aparentemente, o que acontece é que a dieta desses indivíduos piora de qualidade”, detalha.

O nutricionista acrescenta que trocar os produtos convencionais por versões muito processadas sem glúten seria “prejudicial”. Não pelo facto de se estar a consumir produtos sem glúten, mas pelo facto de estas opções, “com alguma frequência”, serem “menos equilibradas do que a opção original”.

Também Filipa Vicente alerta que “os produtos que usam no seu rótulo a alegação ‘glúten free’ como forma de publicidade” podem ser “nutricionalmente menos interessantes”.

“Um consumidor informado pode e deve consultar a lista de ingredientes assim como estar vigilante sobre a forma como aquele produto é fabricado”, completa.

Se pretender reduzir o consumo de glúten sem optar por alimentos excessivamente processados, poderá aumentar a ingestão de leguminosas (uma a duas porções por dia de feijão, grão, lentilhas, entre outros), ingerir mais tubérculos (como a batata, a batata-doce ou o inhame) ou até  consumir pseudocereais (como o amaranto), sugere a nutricionista. 

“São excelentes opções, não por serem isentos de glúten, mas pela variedade e riqueza nutricional que estamos a adicionar”, conclui.