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Testes a várias intolerâncias alimentares são fiáveis? Como detetar uma intolerância?

13 Jan 2023 - 10:12

Testes a várias intolerâncias alimentares são fiáveis? Como detetar uma intolerância?

Os anúncios a testes de intolerâncias alimentares estão espalhados em cartazes de ervanárias e lojas de produtos naturais, nos sites dos laboratórios e nas redes sociais. Uns prometem detetar intolerâncias a vários alimentos através de um exame de sangue e outros dizem chegar ao mesmo resultado através da medição da “frequência energética ou vibracional de cada alimento”. Mas serão estes testes fiáveis? O que distingue uma intolerância alimentar de uma alergia? E como se detetam as intolerâncias alimentares?

É verdade que os testes de intolerâncias alimentares são fiáveis?

Segundo um parecer publicado no site da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica, os testes múltiplos de intolerâncias alimentares “não têm qualquer fundamentação científica, não têm utilidade diagnóstica e a sua realização e interpretação no âmbito clínico podem configurar elementos de má prática, não devendo igualmente receber qualquer tipo de comparticipação pelos sistemas de saúde”.

No mesmo parecer esclarece-se que “nos testes ditos de intolerância alimentar são determinadas IgG/IgG4 específicas para uma bateria muito alargada de alimentos e aditivos, que habitualmente apenas identificam a exposição prévia ao alimento, isto é, uma resposta normal (fisiológica) do organismo”.

Além disso, alerta a Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica, “a interpretação destes resultados, sem integração numa avaliação clínica apropriada, pode traduzir-se em consequências de extrema gravidade, levando a grandes restrições dietéticas com consequências nutricionais, metabólicas e impacto significativo na qualidade de vida, ainda mais grave quando envolve um grupo particularmente sensível aos desequilíbrios alimentares como são as crianças”.

Visão semelhante tem Diana Silva, assistente hospitalar de Imunoalergologia no Hospital São João e professora da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), que, em declarações ao Viral, garante que estes testes “não têm nenhuma validade, não são úteis para avaliar as intolerâncias alimentares”.

O que distingue as alergias das intolerâncias alimentares?

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Questionada pelo Viral sobre as diferenças entre as alergias e as intolerâncias alimentares, Diana Silva começa por explicar que, ao contrário do que acontece no caso das alergias, “uma intolerância alimentar consiste numa reação a um alimento que não é mediada pelo nossos sistema imunológico”.

Por exemplo, a intolerância à lactose é “mediada por uma ausência de uma enzima ao nível do nosso intestino”. Assim sendo, ao ingerir leite com lactose, as pessoas com deficiência dessa enzima “não conseguem degradar o açúcar a nível gastrointestinal e têm estes sintomas de intolerância alimentar que se restringem mais à parte gastrointestinal, como sensação de distensão abdominal, flatulência, dor abdominal, cólica”.

Em contraponto, continua a especialista, “a alergia alimentar é uma alergia imediata, geralmente pode ser grave, ameaçadora da vida e para a qual nós temos testes que geralmente estão disponibilizados a nível hospitalar que nos ajudam a identificá-la (o teste de IgE específica)”.

Como se detetam as intolerâncias alimentares?

Segundo Diana Silva, o diagnóstico de uma intolerância alimentar é feito clinicamente através de “uma dieta monitorizada pelo profissional de saúde”. Neste caso, faz-se  “a introdução desse alimento durante um período específico de duas semanas”, depois retira-se o alimento e, passado algum tempo, volta-se a introduzir o mesmo. Isto sempre acompanhado de um “diário dos sintomas que seja sugestivo para cada alimento em particular”.

No caso da lactose, a especialista lembra que “existe atualmente um teste com uma razoável – mas não perfeita – sensibilidade e especificidade”: o teste respiratório da lactose. Este teste “avalia o hidrogénio após a ingestão de uma quantidade standardizada de lactose” e “vai identificar se há essa fermentação e libertação dos gases porque não há degradação”.

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Em suma, não há evidência científica de que os testes múltiplos de intolerâncias alimentares sejam fiáveis e a sua utilização pode ter efeitos negativos caso leve a uma restrição alimentar desnecessária.

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Alimentação

13 Jan 2023 - 10:12

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