Com a aproximação do verão, as redes sociais enchem-se de publicações com dietas milagrosas que prometem “o corpo perfeito” ou um “emagrecimento rápido e eficaz”. Numa página de Facebook ligada à saúde, por exemplo, escreve-se que o chá verde acelera o metabolismo e ajuda a emagrecer. Mas será mesmo assim?

Chá verde acelera o metabolismo e ajuda a emagrecer?  

Em declarações ao Viral, João Sérgio Neves, endocrinologista no Centro Hospitalar Universitário de São João e professor na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), adianta que a magnitude dos efeitos do chá verde “a nível metabólico e mesmo na perda de peso” será relativamente reduzida. 

“Quando vemos os estudos em que se testou de forma adequada e robusta o impacto do chá verde na perda de peso, estamos a falar de perdas adicionais de aproximadamente meio quilo na maioria das situações”, afirma. 

O endocrinologista explica que estas perdas de peso são adicionais, porque ocorrem relativamente a outras intervenções como “a prática de exercício físico e adoção de uma dieta”. O chá verde tem um “efeito metabólico, mas é um efeito modesto”. 

Nesse sentido, aprofunda, uma pessoa com o diagnóstico de obesidade não vai ficar com um peso normal só por beber chá verde. “Apesar de ser verdade que o chá verde aumenta a taxa metabólica basal e tem algum efeito lipolítico, não estamos a falar de uma cura para a obesidade nem nada que se pareça”, conclui.  

Teresa Campos, nutricionista e diretora da clínica Nutrémia, acrescenta que o chá verde tem “uma elevada capacidade antioxidante” devido aos fitonutrientes presentes na sua composição.  

“À cafeína que se encontra no chá verde e à combinação desta com catequinas está associado o efeito termogénico, que beneficia uma perda de peso pelos efeitos de aumento do metabolismo basal e da promoção da lipólise e da oxidação de gordura”, sustenta.

Ainda assim, defende que é na mudança de comportamentos que se deve investir quando o objetivo é emagrecer.

Um estudo publicado na Cochrane Library comparou os resultados da toma do chá verde em pessoas com excesso de peso e com diagnóstico de obesidade. No fim, os investigadores verificaram que foram registadas perdas de peso em indivíduos do estudo, mas a quantidade de peso perdido também neste caso foi “pequena”.  

Outros benefícios do chá verde  

Os especialistas que falaram com o Viral enumeraram alguns benefícios do chá verde. O professor na FMUP destaca o efeito anti-inflamatório e a possibilidade de este chá ajudar a prevenir quer doenças cardiovasculares, quer, eventualmente, neoplásicas.

“Mas a robustez científica que temos é baixa, ou seja, são estudos observacionais em que nós vemos que as pessoas que consomem mais chá têm um pouco menos risco de algumas destas doenças”, afirma.  

Por outro lado, Teresa Campos sublinha a vantagem de beber chá verde no que respeita à melhoria dos níveis de hidratação e saciedade, “reduzindo a sensação de fome”.  

Um outro estudo sobre os efeitos benéficos do chá verde, publicado no Journal of the American Nutrition Association (JANA), da American Nutrition Association (ANA), concluiu que, a seguir à água, o chá verde é a bebida mais consumida no mundo. 

Esse trabalho indica que os benefícios deste chá vão desde o aumento da densidade mineral óssea, à prevenção de doenças cardiovasculares, promoção de saúde oral e controlo do peso. No estudo feito em humanos destaca-se também o efeito antioxidante do chá verde.  

Importa sublinhar que, tal como o Viral já verificou anteriormente (aqui, aqui e aqui, por exemplo) nenhuma bebida ou alimentos, por si só, tem a capacidade de “emagrecer”. Por isso, na maior parte das publicações sobre os potenciais benefícios do consumo de chá verde para o emagrecimento, as alegações são exageradas.

Beber chá verde: existem contraindicações?

Tanto o endocrinologista João Sérgio Neves como a nutricionista Teres Campos referem que o chá verde deve ser consumido de forma moderada numa alimentação saudável.  

O chá verde contém cafeína. Logo, se bebido em excesso, “pode resultar em consequências cardiovasculares, tolerância e dependência física”, explica a diretora da clínica Nutrémia.

No mesmo plano, o especialista do Centro Hospitalar Universitário de São João diz que o grande problema do chá verde está no conteúdo simultâneo da teofilina e da cafeína que vão ter um efeito estimulante “particularmente a nível cardiovasculares e a nível do sistema nervoso central”.

Palpitações, o coração a bater com mais força e arritmias em pessoas que já tenham problemas cardíacos são alguns dos cenários que uma pessoa que beba chá verde em excesso poderá experienciar. 

“Qualquer pessoa com problemas cardíacos e que pretenda consumir uma grande quantidade de chá ou de café deve sempre consultar um médico para avaliar a segurança dessa utilização”, afirma. 

O médico avisa ainda que o chá verde não deve ser consumido durante a gravidez. “Esta é a maior contraindicação”, dado que pode levar a “partos prematuros e baixo peso do recém-nascido”.  

João Sérgio Neves diz que, na maior parte dos casos, não há uma contraindicação.  

“O chá verde é um alimento saudável e pode perfeitamente fazer parte de uma dieta saudável e até o seu consumo, dentro de um padrão moderado, é algo que deve ser incentivado e provavelmente é algo que tem mais benefícios que prejuízos”, sustenta.

No que toca à perda de peso, reforça, este chá poderá ter apenas um “contributo modesto”. O endocrinologista alerta ainda que as pessoas devem ter sempre algum cuidado quando se deparam com publicações nas redes sociais com dietas milagrosas, porque “muitas vezes apresentam coisas que até são potencialmente benéficas, mas de forma inflacionada”, ou seja, exagerada.

O que é eficaz na perda de peso?  

Os especialistas indicam que está tudo relacionado com o balanço energético negativo. Ou seja, gastar mais calorias do que as que se consome. João Sérgio Neves explica, por isso, que o aumento da atividade física vai ter “um papel fundamental”. 

Também Teresa Campos realça que se deve “investir num plano de alimentação saudável e na prática regular de exercício” para uma perda e gestão do peso corporal.

O Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável (PNPAS), desenvolvido pela Direção-Geral da Saúde (DGS) publicou uma lista com 10 recomendações para perder peso de forma saudável. Entre elas está a avaliação prévia dos hábitos alimentares e de atividade física e a ajuda de um profissional de saúde. A publicação faz também referência ao papel “decisivo” do aumento da atividade física.