Nas redes sociais alega-se que aplicar um creme caseiro feito de caroço de abacate combate a celulite. A receita supostamente milagrosa consiste em picar alguns pedaços de caroço de abacate e misturá-los com “quatro colheres de sopa de óleo de amêndoas (ou azeite)”.

Depois, escreve-se nessas publicações, a mistura deve “descansar por 3 dias, num local fresco e longe da luz”. Os autores destes textos defendem ainda que, antes de se aplicar o creme, deve-se tomar banho com água quente para “os poros da pele abrirem” e ser “mais fácil para o organismo absorver os nutrientes da semente de abacate”. 

Por último, escreve-se, “este remédio deve ser colocado através de uma massagem circular na direção das mãos” durante 10 minutos.

Nos posts sobre o assunto lê-se que este processo deve ser repetido quatro vezes por semana de forma a obter melhores resultados. Mas existe evidência científica que este método seja eficaz a tratar a celulite? 

É verdade que o caroço de abacate trata a celulite?

A resposta de Rui Leitão, coordenador da unidade de cirurgia plástica do Hospital Lusíadas de Lisboa, é direta e concisa: “não há estudos científicos que atestem a eficácia” do caroço de abacate no tratamento da celulite. 

Aliás, a celulite não tem cura, pelo que o máximo que a comunidade médica consegue fazer, atualmente, é “melhorar a sua aparência temporariamente”, através de “métodos comprovadamente eficazes”, acrescenta.

Além disso, os estudos que existem sobre a aplicação na pele de receitas caseiras com produtos naturais são pequenos e escassos. 

Portanto, conclui, mesmo que isto tenha algum efeito será “em casos muito ligeiros, depois de longa utilização e de efeito transitório”.

O que é a celulite? Quais as causas?

A celulite consiste no “aspeto irregular da pele com depressões e zonas elevadas”, começa por explicar Rui Leitão. Esta condição, também chamada “pele em casca de laranja”, é “totalmente inofensiva, excetuando o compromisso estético que provoca”, aponta.

“Surge sobretudo nas coxas, zona glútea, ancas e abdómen, podendo manifestar-se apenas quando se pinça a pele com os dedos”, esclarece o médico. 

Esta alteração na pele “pode surgir a partir da puberdade e tende a agravar-se com a idade”, sendo muito mais frequente nas mulheres. “Estima-se que 85 a 90% das mulheres adultas tenham celulite”, refere o cirurgião plástico.  

Apesar de “ser prevalente também nos magros e o emagrecimento não a fazer desaparecer”, a celulite “tende a ser mais pronunciada nos indivíduos com excesso de peso”. 

Além disso, “tem um componente genético, sendo predominante em certas famílias”, e “a inatividade também aumenta o risco de ter celulite”, conclui o especialista.

Como se trata a celulite?

Segundo Rui Leitão, “existe uma grande variedade de tratamentos disponíveis para melhorar a aparência da celulite, pelo menos, temporariamente”. 

Por um lado, refere o médico, existem métodos de tratamento que atuam ao destruir os septos verticais, tais como, as “ondas acústicas”, “a injeção de colagenase”, “a introdução de uma fina fibra de laser ou radiofrequência”, ou “a subcisão mecânica”. 

Depois, existem tratamentos que aumentam a elasticidade da pele. São eles: a radiofrequência com microagulhas (ou apenas externa) ou a “injeção subcutânea de dióxido de carbono por agulha muito fina (carboxiterapia)”.

Neste caso, são necessárias várias sessões “para se obter bons resultados, que normalmente são temporários”, aponta o especialista.

Para mais, pode-se reduzir a gordura entre os septos, através do “arrefecimento de áreas localizadas, submetidas a vácuo, e colocadas em contacto com placas frias (criolipólise)”, clarifica.

Rui Leitão ainda refere outras técnicas, com resultados mais tardios e transitórios, como “uma massagem especializada com sucção e rolos (endermologia LPG)” e a mesoterapia – “que consiste na injeção de várias substâncias, a nível do tecido adiposo subcutâneo”.

Por fim, há a opção de “massagem com diversos produtos tópicos direcionados para aumento do colagénio, ou diminuição da gordura”. Aqui o efeito é apenas “moderado e de curta duração”.

O cirurgião plástico defende que “a combinação de diferentes modalidades de tratamentos oferece resultados mais satisfatórios”. Por isso, na perspetiva do médico, o método “mais eficaz é a radiofrequência fracionada externa conjugada com radiofrequência subdérmica”.