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Água com vinagre e mel elimina gordura no fígado?

6 Jun 2023 - 09:43
falso

Água com vinagre e mel elimina gordura no fígado?

Circula no TikTok uma “receita secreta” supostamente eficaz a “eliminar a gordura no fígado”: água com vinagre e mel. Segundo o autor do vídeo, para preparar a bebida é necessário misturar “meio litro de vinagre de maçã, três colheres de mel e um litro e meio de água” e colocar a mistura no frigorífico durante cinco dias. 

“No final do quinto dia, deve tomar 50 ml de manhã e 50 ml à tarde”, acrescenta-se. Mas este remédio caseiro cumpre mesmo o que o autor do vídeo promete?

Beber água com vinagre e mel elimina a gordura no fígado? 

Questionado pelo Viral, Paulo Carrola, coordenador do Núcleo de Estudos das Doenças do Fígado (NEDF) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), adianta que “não existe qualquer evidência científica” que comprove a eficácia da água com vinagre e mel na eliminação da gordura no fígado.

Além disso, segundo o médico, esta mistura também não tem “qualquer benefício potencial para o fígado”.

O que causa a gordura no fígado?

Paulo Carrola explica que o fígado gordo não alcoólico (fatty liver disease, em inglês) “é, fundamentalmente, uma doença metabólica”, em que “existe uma acumulação excessiva de gordura no fígado, que gera inflamação”.

Em última instância, assinala, “o fígado gordo tem o potencial de evoluir para doença hepática crónica (cirrose), com todas as suas consequências associadas, nomeadamente, o maior risco de carcinoma hepatocelular”, um dos cancros hepáticos mais comuns.

Numa grande parte dos casos, os doentes “têm hábitos de vida pouco saudáveis” e “outros problemas de saúde associados como a diabetes, hipertensão arterial, obesidade, dislipidemia, que aumentam o risco de eventos cardiovasculares potencialmente fatais”.

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Como se trata o fígado gordo não alcoólico?

Apesar de haver muita investigação há vários anos, “ainda não existe um fármaco capaz de curar e resolver esta doença”, destaca Paulo Carrola.

O mesmo é garantido num texto do Instituto Nacional de Diabetes e Doenças Digestivas e Renais (NIDDK) dos EUA, em que se afirma que “não foram aprovados medicamentos para tratar” o fígado gordo não alcoólico.

Além disso, recomenda-se, “por razões de segurança”, que o doente “fale com o seu médico antes de utilizar suplementos alimentares, tais como vitaminas, ou quaisquer medicamentos, ou práticas médicas complementares, ou alternativas”. 

Isto porque, completa-se, “alguns remédios à base de plantas podem, efetivamente, danificar o fígado”.

Na perspetiva de Paulo Carrola, “uma vida saudável com uma alimentação baixa em gorduras saturadas, com exercício físico e, principalmente, a redução ponderal [perda de peso] traduzem-se num impacto muito positivo” no tratamento da doença.

Aliás, num texto publicado no site da Escola de Saúde Pública de Harvard, refere-se que “o tratamento mais eficaz para o fígado gordo” passa pelas “mudanças no estilo de vida”.

“Uma perda de peso de cerca de 5% do seu peso corporal pode ser suficiente para melhorar os testes hepáticos anormais e diminuir a gordura no fígado”, aponta-se.

Para mais, “perder entre 7% e 10% do peso corporal parece diminuir a quantidade de inflamação e lesão das células do fígado, e pode até reverter alguns dos danos da fibrose”. 

No entanto, considera-se relevante ter algum cuidado na perda de peso, já que “uma perda de peso muito rápida pode agravar a inflamação e a fibrose”. Por isso, recomenda-se “uma perda de peso gradual de um a dois quilos por semana”.

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Noutro plano, “o exercício aeróbico também leva à diminuição da gordura no fígado e, com uma intensidade vigorosa, é possível que diminua a inflamação, independentemente da perda de peso”, salienta-se no mesmo texto.

Além disso, no que diz respeito à alimentação, sublinha-se que a dieta mediterrânica pode ser uma boa aliada na diminuição da gordura no fígado.

“O maior risco para as pessoas com um fígado gordo continua a ser a doença cardiovascular”, vinca-se no texto da Escola de Saúde Pública de Harvard.

Nesse sentido, acrescenta Paulo Carrola, “o controlo dos fatores de risco cardiovasculares” é muito importante e, em conjunto “com uma mudança de estilo de vida e a correção das alterações do metabolismo destes doentes, consegue potencialmente resolver ou melhorar esta condição”.

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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.

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Alimentação

6 Jun 2023 - 09:43

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