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Chá de cardo-mariano cura o fígado gordo?

29 Mai 2023 - 09:42
falso

Chá de cardo-mariano cura o fígado gordo?

O chá de cardo-mariano é apresentado nas redes sociais como uma cura para o fígado gordo.

Numa publicação do Facebook alega-se que o chá de cardo-mariano é um “excelente remédio caseiro” para curar o fígado gordo, dado às suas supostas “características adstringentes, facilitadoras da digestão e estimuladoras do apetite”.

A autora do texto aconselha ferver a água, acrescentar as sementes de cardo-mariano e ingerir a infusão após 15 minutos. Este alegado “excelente remédio caseiro” deve ser tomado “30 minutos antes das refeições”, refere-se no mesmo post. Mas será verdade que cura o fígado gordo?

É verdade que o chá de cardo-mariano cura o fígado gordo?

chá de cardo-mariano

Em declarações ao Viral, Filipe Nery, hepatologista e diretor-clínico da Clínica do Fígado, refere que “não existe evidência científica” de que o chá de cardo-mariano tenha “benefícios ou cure” o fígado gordo.

O hepatologista explica que, apesar de esta planta ter silibinina – uma substância utilizada no tratamento de uma doença do fígado (intoxicação aguda por cogumelos selvagens) -, nenhum estudo provou que “possa ter algum efeito e muito menos ser curativo”.

“Foram feitas várias investigações e tentativas de demonstrar que a silibinina poderia ter efeito sobre outras doenças, mas nenhum estudo se mostrou favorável no sentido de ser sinérgico com os fármacos que utilizamos habitualmente”, esclarece.

Filipe Nery destaca que os hepatologistas “nunca recomendam a toma de chá” como terapia e alerta para as consequências negativas de um “consumo excessivo”. Os chás podem ter “propriedades benéficas”, no entanto, deve bebê-los “moderadamente”.

“Tirando os chás comprados nas grandes superfícies e validados por instituições que têm esse papel, a maior parte é vendido em ervanárias, o que deixa dúvidas quanto à recomendação e aos seus componentes”, acrescenta o diretor-clínico da Clínica do Fígado.

A cura para o fígado gordo implica uma “regressão da quantidade de gordura” para valores “na faixa do normal”.

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Como é que isto se consegue? Com “perda de peso”, através de três pilares apontados pelo especialista: o “controlo de fatores de risco cardiovasculares”, o “exercício físico” e uma “dieta mediterrânica verde”, em que se restringe, por exemplo, o consumo de açúcares refinados, fritos e carnes vermelhas.

“O doente perde peso, gordura, melhora ou resolve diabetes tipo 2, melhora a hipertensão arterial, entre outros exemplos, só com perda de peso”, identifica Filipe Nery.

As alterações de estilo de vida como medidas relevantes no tratamento do fígado gordo são também referidas na revisão da literatura “Non-alcoholic fatty liver disease (NAFLD)”, publicada em 2022 na revista médica BMC Endocrine Disorders, nomeadamente o aumento da atividade física, a adoção de uma dieta mediterrânica e o fim de hábitos como fumar e beber álcool.

Os autores da revisão consideram, no entanto, que faltam “estudos de qualidade” que comparem métodos de tratamento.

Quanto a medicamentos, há vários em investigação. No entanto, “ainda nenhum foi aprovado” para tratamento, indica o hepatologista consultado pelo Viral.

Mas o que é um fígado gordo? E como é feito o diagnóstico?

chá de cardo-mariano

Filipe Nery explica ao Viral que o fígado gordo corresponde à “existência de gordura dentro das células constituintes do fígado”, isto é, quando essa gordura ocupa “mais  de 5% das células”.

As causas de fígado gordo são “inúmeras”, mas o médico aponta a “obesidade, diabetes, hipertensão e colesterol” como as principais. O consumo de álcool também pode provocar a patologia.

De acordo com Filipe Nery, estima-se que, em Portugal, até 2030, mais de um terço da população tenha fígado gordo. A incidência é “claramente crescente”, refere. 

Na prática, o fígado gordo “pode avançar para fibrose” e, “se não houver perda de peso”, para cirrose. 

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Em todo o mundo, morrem por ano cerca de dois milhões de pessoas com doenças hepáticas, de acordo com um artigo do “Journal of hepatology”, de 2018. A cirrose é a 11.ª causa mais comum de mortalidade. O artigo refere ainda que dois mil milhões de adultos são obesos ou têm excesso de peso, fatores de risco para o fígado gordo.

Como saber se tenho fígado gordo?

chá de cardo-mariano

Em declarações ao Viral, o diretor clínico da Clínica do Fígado explica que, por norma, os doentes são “assintomáticos na maior parte do tempo”.

“Tal como em caso de hipertensão arterial, em que o doente só vai descobrir no seguimento regular médico ou quando tiver, por exemplo, determinadas dores de cabeça ou o primeiro AVC, o fígado gordo também se mantém assintomático”, indica.

Os sintomas são mais frequentes em casos de “fibrose avançada e cirrose”, em que o doente pode apresentar, por exemplo, “alteração do estado de consciência, aumento da barriga, fadiga”.

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Costuma ser diagnosticado através de análises ao fígadopor outro motivo qualquer” ou porque a pessoa “fez uma ecografia abdominal”. 

É ainda necessário uma “investigação à história clínica”, que implica verificar, por exemplo, outras possíveis doenças de fígado ou até a toma de alguns medicamentos. 

O “diagnóstico definitivo” é sempre feito através da biópsia hepática que permite perceber e o “real nível” de fígado gordo.

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29 Mai 2023 - 09:42

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