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Açaí reduz o risco de cancro?

31 Mai 2024 - 09:58
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Açaí reduz o risco de cancro?

Em várias publicações do Facebook, enumeram-se os supostos benefícios do açaí. Um dos que mais se destaca é a alegada capacidade desta fruta na redução do risco de cancro. Segundo um dos posts, “os polifenóis do açaí mantêm a saúde das células e previnem o stress oxidativo”, o que, supostamente, permite diminuir o risco de cancro. Mas será mesmo assim?

É verdade que o açaí reduz o risco de cancro?

Em esclarecimentos ao Viral, Paula Ravasco, médica, nutricionista e diretora do Programa de Pós-graduação Internacional “Nutrição e Metabolismo em Oncologia” da Universidade Católica Portuguesa (UCP), adianta que não existe evidência científica que comprove que o açaí, por si só, reduz o risco de cancro.

Aliás, frisa, não há nenhum “fruto, alimento ou constituinte da alimentação” que tenha o poder de prevenir a doença oncológica.

“Quem nos dera que houvesse um alimento que, ao consumirmos todos os dias, conseguíssemos ter a garantia de que fosse contribuir a médio ou longo prazo para nós não termos cancro”, aponta Paula Ravasco.

No mesmo sentido, organizações de saúde, como o Cancer Council, o Breastcancer.org e o Cancer Research UK, assinalam, em textos publicados nos seus sites, que nenhuma dieta ou alimento específico vai impedir, por si só, o aparecimento de cancro, nem curar a doença.

Em relação ao açaí, em particular, Paula Ravasco admite que este “é um fruto interessante”, “com riqueza em algumas vitaminas, antioxidantes, flavonoides, tal como outros frutos” (ver também aqui).

Por isso, apesar de esta fruta não ter um poder milagroso na redução do risco de cancro, pode ser incluída numa alimentação saudável e equilibrada.

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Isto porque, justifica a nutricionista, “aquilo que efetivamente tem impacto na redução do risco de desenvolver cancro é uma alimentação adequada e variada, porque essa variedade acaba por nos trazer todos os nutrientes que precisamos”.

Aliás, prossegue, “os últimos números do World Cancer Research Fund mostram que cerca de 30% a 50% dos cancros podem realmente ser evitados por estilos de vida saudáveis”.

Num estilo de vida saudável inclui-se “a alimentação, a prática do exercício físico, a manutenção de um peso adequado e o não aumento de peso na idade adulta”, exemplifica a especialista (ver também aqui e aqui).

Assim sendo, “não podemos associar a redução de risco do desenvolvimento de cancro apenas a um fator”. 

Mas isso “não quer dizer que o consumo de açaí, tal como o consumo de outras frutas, dentro de uma alimentação equilibrada, não possa contribuir para essa redução do risco”.

Do ponto de vista de Paula Ravasco, “os flavonoides, os antioxidantes, as vitaminas e os minerais” são muito importantes para “o nosso organismo funcionar em pleno”.

Nesse sentido, avisa, “comer a fruta fresca, in natura, o mais próximo da colheita possível, é a forma ideal de a consumirmos”.

O mesmo serve para o açaí. Ou seja, comer açaí congelado, misturado com outros alimentos e, por vezes, com açúcares adicionados “não é a mesma coisa que consumir o mesmo fruto acabado de colher, sem ter sido processado dessa forma”, explica.

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Os alimentos, sobretudo frutas e vegetais, que sejam “congelados, macerados ou transformados de alguma maneira vão perder alguma riqueza nutricional”, acrescenta a investigadora.

“É uma doença tão complexa que é impossível ser prevenida apenas por uma coisa”

Na perspetiva de Paula Ravasco, é importante perceber que “o cancro é uma doença cujo desenvolvimento decorre e resulta da interação de múltiplos fatores”, isto é, de “várias alterações do nosso metabolismo e pela interação do nosso corpo com aquilo que nos rodeia”.

O desenvolvimento da doença oncológica deriva, por exemplo, “de fatores genéticos e ambientais (da poluição), do stress e das dietas erradas”.

Logo, esta “é uma doença tão complexa que é impossível ser prevenida apenas por uma coisa”, frisa. 

Paula Ravasco é da opinião de que vai sempre haver “informação nas redes sociais que diz que o cancro pode ser prevenido pela anona, pelos frutos vermelhos, pelas framboesas ou os mirtilos”, por exemplo.

Contudo, alerta, é essencial entender que “este tipo de informação está errada, porque, para este tipo de doença, é impossível um fator apenas ter a capacidade” de reduzir o seu risco.

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Da mesma forma que se tem de atribuir à doença oncológica várias causas, “para tratarmos o cancro, também utilizamos uma intervenção multidimensional”, sustenta.

“É uma guerra e temos de ir preparados com tudo, incluindo a alimentação, que também faz parte”, defende a médica.

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31 Mai 2024 - 09:58

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