Urinar após as relações sexuais previne infeções urinárias? O que dizem os especialistas
Urinar após as relações sexuais é uma das recomendações mais partilhadas quando o objetivo é prevenir infeções urinárias. Esta é uma dica seguida, sobretudo, por mulheres, por serem mais suscetíveis a este tipo de infeções do que os homens. Mas será que este conselho tem validação científica?
Urinar após as relações sexuais é benéfico na prevenção de infeções urinárias?
Apesar de algumas associações e autoridades de saúde recomendarem urinar após as relações sexuais (ver aqui, aqui e aqui), o benefício desta prática não está claramente demonstrado cientificamente.
Ainda assim, em declarações ao Viral, Anabela Rodrigues, nefrologista e professora no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto (ICBAS), considera que esta é uma “recomendação válida”.
Segundo a médica, “algumas mulheres sentem que há uma relação entre a atividade sexual e a infeção urinária”. Por isso, urinar após as relações sexuais “é um procedimento preventivo” que “favorece um flush e minimiza o risco”.
No entanto, uma investigação sugere que urinar após o sexo “parece ter pouco efeito protetor”, apesar de ser “uma prática razoável e segura”.
No mesmo plano, a médica especialista em Ginecologia e Obstetrícia Rosália Cubal adianta, em declarações ao Viral, que não existe evidência científica que permita garantir que urinar após as relações sexuais previne infeções urinárias.
A médica refere que o benefício desta prática tem que ver com o ato de urinar em si mesmo e não com a prática de urinar, especificamente, após o sexo. Isto porque “ter a bexiga muito cheia” pode favorecer o desenvolvimento de “infeções urinárias”, salienta.
No fundo, não há garantias de que urinar depois das relações sexuais previna infeções urinárias, mas esta prática não é prejudicial, dado que urinar de forma regular é benéfico.
Por que razão as mulheres são mais suscetíveis a infeções urinárias?
As duas médicas explicam que as mulheres têm mais infeções urinárias devido à sua anatomia.
“A distância entre o orifício externo da uretra e a bexiga é menor na mulher, pelo que as bactérias podem ascender e provocar a cistite (infeção da bexiga) mais facilmente”, refere Anabela Rodrigues.
Além disso, acrescenta Rosália Cubal, tendo em conta que a região anal é “muito próxima do meato ureteral” (orifício externo da uretra), se não houver “uma lavagem ou limpeza tão cuidada a nível da região anal”, “a mulher tem mais possibilidades de ter infeções urinárias que o homem”.
Por outro lado, conclui Anabela Rodrigues, “a menopausa, com a redução de estrogénios, também se associa a risco de cistites”.
Que outras medidas podem ajudar na prevenção de infeções urinárias?
Segundo Rosália Cubal, uma das recomendações é a ingestão de “cerca de litro e meio de água todos os dias”.
Anabela Rodrigues esclarece que “beber água dilui a urina e a concentração de bactérias contaminantes e promove fluxos de urina para minimizar o risco das bactérias ascenderem na uretra até à bexiga”.
Desse modo, aconselha-se a “não reter urina por períodos prolongados”, acrescenta.
Para mais, na visão da nefrologista, deve-se “fazer a limpeza perineal pós-defecação de frente para trás” e “não usar produtos de higiene perineal irritantes”.
Rosália Cubal destaca ainda a importância de se consumir apenas de forma esporádica os “alimentos ácidos e condimentados”. Isto porque, sustenta, “tudo o que é ácido, condimentado e com falta de água, predispõe uma infeção urinária”. Logo, “deve ser evitado”.
Por último, Anabela Rodrigues, frisa que mulheres com infeções urinárias frequentes devem “evitar métodos contracetivos como o diafragma ou o espermicida”.
Como se tratam as infeções urinárias?
Anabela Rodrigues aponta que o tratamento das infeções urinárias é feito consoante os resultados do “exame microbiológico de urina que permite identificar o agente infetante” (por norma, é uma bactéria).
A necessidade de análises parte das queixas da pessoa. Segundo Rosário Cubal, “ainda na fase pré-infeção urinária, durante a inflamação da bexiga, as mulheres começam a sentir um peso pélvico – na zona da bexiga, no fundo do abdómen”.
Numa segunda fase, destaca, “começam a ter as ardências ao urinar, urinam muito mais frequentemente”, e, completa Anabela Rodrigues, “a urina pode ficar turva e com mau cheiro” .
Nos casos mais graves, frisa Rosário Cubal, “urinam, inclusive, sangue”. E, conclui Anabela Rodrigues, podem ter “febre, no caso da infeção atingir os rins”.
Contudo, frisa a nefrologista, “se a pessoa não tiver sintomas, não se deve fazer este exame, porque pode levar a identificação de bactérias presentes na urina” que não precisam de ser tratadas com antibióticos.
E, acrescenta, “se usarmos medicação sem necessidade clínica, podemos induzir resistência das bactérias aos antibióticos”. Este é considerado um problema “grave de saúde pública”, salienta.