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Sexo oral é o “fator de risco número um” para o cancro da garganta?

24 Out 2023 - 10:24
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Sexo oral é o “fator de risco número um” para o cancro da garganta?

Num vídeo publicado no TikTok sugere-se que “o sexo oral é agora o fator risco número um para o cancro da garganta”. Segundo o autor da publicação, o cancro da garganta pode ser causado por diversos fatores, “sendo a infeção pelo Vírus do Papiloma Humano (VPH) uma das principais causas associadas a este tipo de cancro”.

Além disso, acrescenta, “o risco de se ter cancro da garganta é de 0.7% para os homens e 0.2% para as mulheres, mas ter sexo oral com 5 ou mais parceiros aumenta esse risco”. Segundo o criador de conteúdo, “a questão não é quantas vezes se tem sexo oral, mas com quantos parceiros diferentes”. Mas será mesmo o sexo oral o fator de risco número um para o cancro da garganta?

É verdade que o sexo oral é o principal fator de risco para o cancro da garganta?

Em declarações ao Viral, a oncologista do Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto Cláudia Vieira adianta que, “na Europa e nos Estados Unidos, o fator de risco número um para o cancro da orofaringe [vulgo, garganta] é o tabagismo”, principalmente quando está associado a “alcoolismo”.

De facto, admite a médica, existem casos associados à “infeção pelo Vírus do Papiloma Humano” (VPH ou HPV, em inglês). Esta é uma infeção sexualmente transmissível, mas, ao contrário da informação que se passa no vídeo em análise, não é transmitida apenas via sexo oral (ver aqui). 

Além disso, frisa Cláudia Vieira, “mesmo os casos [de cancro da garganta] associados à infeção pelo HPV” muitas vezes são detetados em pessoas fumadoras, “daí que seja tão difícil haver uma estatística nacional e internacional concreta”.

Segundo a oncologista, “pensa-se que, nos Estados Unidos e nos países com melhores campanhas antitabágicas, a percentagem de tumores associados ao HPV possa estar na ordem dos 30% e tem vindo a aumentar na última década”. 

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No entanto, salienta, “em Portugal, continua-se a ter estimativas mais baixas, na ordem dos 15%”, sendo que existem mais tumores relacionados com o HPV além do cancro da orofaringe (ver aqui e aqui), como o cancro do colo do útero (o mais comum).

Concluindo, mesmo que o HPV tenha alguma importância neste âmbito, a comunidade científica, até à data, determina que o tabagismo é o fator de risco número um para o cancro da garganta e as pessoas que fumam e bebem álcool correm um risco agravado (ver aqui, aqui, aqui e aqui).

Qual a importância da prevenção do cancro da garganta?

Cláudia Vieira explica que “o cancro da orofaringe é muito doloroso, causa grande sofrimento e impacta a deglutição e a fonação”. Portanto, destaca, “a longo prazo e, mesmo os tratamentos, seja a cirurgia, seja a radioterapia associada à quimioterapia (mais frequente), deixam sequelas”.

Como esclarece a oncologista do IPO do Porto, existem duas grandes razões que tornam a prevenção deste tipo de cancro fundamental. Em primeiro lugar, há “poucos fármacos” e “poucas armas terapêuticas”, refere.

Para mais, o cancro da orofaringe “é de muito difícil diagnóstico”. Uma pessoa com a doença tem “uma dor de garganta e uma rouquidão e é muito frequente deixar andar”.

Mesmo quando o doente já tem nódulos no pescoço, estes também podem ser “sinais de infeção, da Covid-19 ou da gripe, por exemplo, e passam despercebidos”, acrescenta.

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Assim, admite Cláudia Vieira, “é difícil obter junto do médico de família o correto apoio, porque é interpretado, muitas vezes, como uma situação simples e benigna”.

“[O diagnóstico] obriga quase sempre um exame de otorrinolaringologia, com equipamento que eu nem tenho, muitas vezes, disponível no meu consultório, sendo oncologista médica. Quanto mais um médico de família”, lamenta.

Por isso, na visão da especialista, sendo um tumor que “não tem um bom plano de rastreio instituído a nível nacional, a prevenção acaba por ser muito importante para diminuir o número de casos e poupar recursos”.

Essa prevenção passa, por um lado, pelo combate ao tabagismo e ao alcoolismo. Além disso, de modo a reduzir os casos de cancro da orofaringe associados ao HPV, foi implementada “uma vacinação massiva, que se iniciou em 2010, para raparigas” e que, “mais tarde, se estendeu aos rapazes”. 

A médica considera importante reforçar que esta vacina não é só relevante no “carcinoma da orofaringe”, mas “numa série de outros tumores, como o cancro do colo do útero e o cancro do canal anal”.

Mesmo “as pessoas que não foram alvo da vacinação HPV podem também equacionar fazê-la”. Segundo Cláudia Vieira, “há cada vez mais autores médicos a nível internacional a defenderem que vale sempre a pena fazer a vacinação”, mesmo que a pessoa já tenha “estado em contacto com o vírus” e já tenha tido “vários parceiros sexuais”. 

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Isto porque, ao tomar a vacina, “previne a infeção por outras estirpes do vírus com as quais a pessoa ainda não contactou, dá um reforço ao sistema imunitário”, sustenta. 

Por fim, a oncologista considera fundamental que “as pessoas percebam que devem usar preservativo e devem fazer exames regulares de saúde”, pois tudo isso “previne outras infeções”.

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24 Out 2023 - 10:24

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