PUB

Homeopatia trata o alcoolismo? Quais os riscos de adotar este tipo de estratégias?

24 Jan 2023 - 09:08
falso

Homeopatia trata o alcoolismo? Quais os riscos de adotar este tipo de estratégias?

Entre grupos de adeptos da homeopatia e páginas de venda de produtos homeopáticos, circulam nas redes sociais diversas alegações (sem fundamentação científica) sobre os supostos benefícios desta prática. Uma dessas ideias amplamente partilhadas assenta na tese de que a homeopatia trata o alcoolismo. Num destes posts chega-se mesmo a afirmar que os remédios homeopáticos são “uma cura completa para o alcoolismo”. Mas será mesmo assim?

É verdade que a homeopatia trata o alcoolismo?

homeopatia trata o alcoolismo

Em declarações ao Viral, João Marques, psiquiatra e presidente da Sociedade Portuguesa de Alcoologia, adianta que “não existe evidência científica robusta que permita confirmar” que a homeopatia trata o alcoolismo. Além disso, sublinha, “existe um risco em pôr em prática a utilização desta estratégia no tratamento de uma privação alcoólica”.

O psiquiatra começa por explicar que “o álcool é uma substância com alto poder aditivo com a qual nos relacionamos de uma forma bastante ambivalente”. Isto porque, apesar de dar prazer, pode tornar-nos “reféns biologicamente” e “criar uma dependência tão intensa” que dificulta o abandono do seu consumo.

Nesses casos, acrescenta, a ausência de consumo dá origem a “sintomas de privação que têm mesmo de ser tratados farmacologicamente com medicações que nos resolvam esta situação da forma correta, porque existe um risco de vida na ausência de tratamento ou no tratamento inadequado da síndrome de privação alcoólica”.

Assim sendo, conclui, “é muito complicado olharmos para a privação do álcool e dizermos que pode ser tratada com homeopatia ou com outros tratamentos que não aqueles que são convencionais, porque acarreta risco de vida”. Ou seja, reitera, “eu posso morrer numa privação alcoólica se não a tratar corretamente”.

Em conclusão, além de não existir comprovação científica para a ideia de que a homeopatia trata o alcoolismo, substituir os tratamentos reconhecidos cientificamente por remédios homeopáticos traz sérios riscos para a pessoa com dependência alcoólica.

PUB

Qual o tratamento adequado para o alcoolismo?

Quanto ao tratamento adequado para a dependência de álcool, João Marques refere que, em Portugal, existem “equipas especializadas no tratamento das dependências, inclusivamente no álcool”, que trabalham em “Centro de Respostas Integradas” espalhados por todo o país (como, por exemplo, este).

Nestas equipas “há o médico, há o enfermeiro, há o psicólogo, há o assistente social e a abordagem é sempre multidisciplinar” dado que as dependências têm “várias fases e várias consequências que exigem este tratamento por várias áreas”.

No mesmo sentido, adianta, um dos focos fundamentais do tratamento “é o acompanhamento psicoterapêutico”.

“Numa dependência, temos de trabalhar a motivação e temos de trabalhar a vontade da pessoa que sofre da dependência de reconhecer o problema e querer melhorá-lo ou querer reorganizar ou dominar esta dependência. Aqui a intervenção psicoterapêutica é mesmo muito importante”, sustenta.

Em paralelo, continua, “o apoio médico visa também este acompanhamento motivacional, e depois temos a parte farmacológica que nós dividimos em dois ramos: a desabituação e a desintoxicação”.

No tratamento da desabituação, tenta-se “promover a menor motivação e o menor desejo para beber”. Já no tratamento por desintoxicação, “em que existe uma dependência física, eu tenho de internar esta pessoa, tirando-lhe o álcool e devolvendo-lhe um medicamento que engane o cérebro para ele não sofrer de privação” até ser possível “reduzir progressivamente este medicamento”.

Nesse plano, “a desintoxicação alcoólica tem de ser feita sempre num ambiente controlado, porque acarreta risco de vida”, sendo que “os tratamentos são, essencialmente, benzodiazepinas que atuam no mesmo recetor cerebral que atua o álcool”.

“Então, o que eu faço é tirar o álcool, dou um medicamento numa dose equivalente à que a pessoa estava a beber e depois, progressivamente, vou reduzindo esse fármaco, prevenindo assim aquela privação com risco biológico ou risco de vida”, explana.

PUB

Por fim, depois desta fase, a pessoa continua a ser “acompanhada em consulta mantendo o trabalho de promover a abstinência, ou seja, fazer com que não volte a beber”.

falso

Categorias:

Dependências

Etiquetas:

Alcoolismo | Homeopatia

24 Jan 2023 - 09:08

Partilhar:

PUB