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Covid-19. O que é a “super imunidade”?

31 Jan 2022 - 10:00

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Covid-19. O que é a “super imunidade”?

O termo “super imunidade” surgiu na sequência da publicação de um artigo científico. Este conceito está a ser usado para designar uma resposta mais forte do sistema imunitário contra a Covid-19, que resulta da combinação da vacinação e da infeção pelo novo coronavírus. O Viral falou com um especialista em imunologia para perceber em que consiste a “super imunidade”.

“Não é algo muito diferente da imunidade”, responde Marc Veldhoen, imunologista no Instituto de Medicina Molecular e professor na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. “É chamada ‘super imunidade’ porque surge de uma repetida ativação do sistema imunitário. A imunidade aumenta, atinge maior maturidade e, como resultado, ficamos muito bem protegidos, não só contra a variante original – com que estamos a lidar desde 2020 –, mas contra todas as variantes.”

“Super imunidade” não é um termo científico e o conceito não aparecer referido no artigo original, publicado pela revista científica “Science Immunology”. O estudo foca-se na comparação entre a imunidade alcançada pela administração das duas doses da vacina e a imunidade híbrida – que resulta da combinação entre a vacina e a infeção pelo SARS-CoV-2.

Estudos anteriores tinham já determinado que uma pessoa que tinha sido infetada pelo novo coronavírus e, posteriormente, recebido a vacina, desenvolvia uma imunidade mais forte. Mas este novo estudo, desenvolvido pela Universidade de Medicina e Ciências de Oregon (OHSU, na sigla inglesa), coloca uma nova questão: e quem foi vacinado primeiro e ficou infetado depois?

Para responder a esta pergunta, os investigadores analisaram amostras de 104 pessoas, dividindo-as em três grupos: 42 que tinha recebido as duas vacinas, 31 que tinham sido infetados e depois vacinados e 31 que tinham sido vacinados e depois infetados. Concluíram que os elevados níveis de anticorpos são iguais para ambos os grupos que desenvolvem imunidade híbrida. Os dados foram também comparados com os do grupo que tinha recebido as duas doses da vacina: os investigadores descobriram que os anticorpos resultantes da imunidade híbrida são pelo menos 10 vezes mais potentes do que os induzidos pela vacinação. É esta diferença que dá azo ao termo “super imunidade”.

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Os anticorpos têm como função combater o vírus. Quando o organismo é atacado, o sistema imunológico ativa-se para reagir às proteínas que compõem o vírus, libertando anticorpos para a corrente sanguínea com o objetivo de atacar o intruso. “Não faz diferença se foram infetados e depois vacinados ou se foram vacinados e depois infetados”, explica Fikadu Tafesse, coautor do artigo científico e professor de microbiologia molecular e imunologia na Faculdade de Medicina da OHSU. “Em ambos os casos, iremos ter uma resposta imunitária muito muito robusta – surpreendentemente alta”, acrescenta em declarações à “Science Daily”.

Marc Veldhoen explica que o sistema imunitário atinge a maturidade através de dois fatores: tempo e ativação repetida. Por essa razão, ao juntar a vacinação e a infeção, o sistema imunitário foi repetidamente ativado, produzindo um maior número de anticorpos.

Neste estudo não foram analisados os níveis de anticorpos que resultam da administração da terceira dose da vacina, nem comparados com os níveis gerados pela imunidade híbrida. Mas, poucos dias depois, um outro estudo, publicado na revista “Nature Medicine”, conclui que os níveis de anticorpos produzido na sequência da terceira dose da vacina são semelhantes aos da imunidade híbrida.

No entanto, o imunologista deixa um alerta: “Não devemos cair no erro de dizer que a imunidade da vacina é mais fraca ou só funciona um bocadinho, as duas doses são muito boas. Se já levaram as duas doses, estão realmente protegidos. Há exceções: algumas pessoas com comorbilidades devem falar com os seus médicos sobre levar a terceira dose e poderão ter de levar uma quarta eventualmente. Essas pessoas têm de ter cuidado. Mas os indivíduos comuns estão protegidos.”

É importante também frisar que, mesmo tendo levado as vacinas contra a Covid-19, não deve procurar infetar-se para conseguir atingir a tal “super imunidade”. “O SARS-CoV-2 ainda é perigoso, até a Ómicron. Não vão procurar ficar infetado de propósito”, sublinha o imunologista.

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“A pandemia ainda não acabou, temos de continuar a ter cuidado, mas definitivamente é o início do fim. Não devemos ter medo do vírus, devemos ter cuidado se tivermos familiares que precisam de maior assistência”, acrescenta.

31 Jan 2022 - 10:00

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