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Dormir mal pode interferir no controlo da diabetes?

28 Fev 2024 - 10:05
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Dormir mal pode interferir no controlo da diabetes?

Ter um sono insuficiente, excessivo ou com pouca qualidade pode interferir negativamente no tratamento de vários problemas de saúde, tais como a obesidade, as doenças cardiovasculares e as dores crónicas. Mas será que dormir mal tem também interferência no controlo da diabetes mellitus tipo 2?

É verdade que dormir mal pode interferir no tratamento da diabetes mellitus tipo 2?

Sim, dormir mal pode interferir tanto no tratamento da diabetes mellitus, seja ela do tipo 1 ou 2. Quem o diz é Francisco Sousa Santos, médico especialista em endocrinologia e autor da página Hormonas em Bom Português.

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O endocrinologista explica que há uma ligação entre a qualidade do sono e o controlo da diabetes, visto que os níveis de glicemia no sangue podem ficar elevados através de vários mecanismos.

Isto é, em pessoas com má qualidade do sono verifica-se “pior controlo da doença”. Por outro lado, quem dorme mal mas não tem diabetes tem maior risco de vir a desenvolver a doença, acrescenta.

Em declarações ao Viral, Francisco Sousa Santos refere que o corpo interpreta a má qualidade do sono como “stress biológico” e produz “substâncias inflamatórias”, como hormonas do stress, cortisol e hormonas do crescimento.

Dormir mal interfere também no tratamento da diabetes devido a alterações de outras “hormonas que contribuem para o aumento de peso”. É o caso da diminuição de leptina, hormona produzida nas células adiposas, e aumento da produção de grelina, associada à fome, identifica o autor da página “Hormonas em Bom Português”.

Estas alterações hormonais fazem com que haja uma “maior tendência” para comer mais e para escolhas alimentares “menos boas”, o que leva ao aumento de peso e ao aumento da resistência à insulina, dificultando o controlo da diabetes.

Uma revisão sistemática e metanálise a 15 estudos sobre o impacto do sono no controlo glicémico na diabetes mellitus tipo 2 sugere que a quantidade e a qualidade do sono têm um papel “importante” na função metabólica desses pacientes. Os autores referem que a má duração e  qualidade do sono podem representar um “risco” para o controlo da doença.

Ao Viral, o autor da página “Hormonas em Bom Português” sinaliza ainda a “mútua influência” entre a doença e o sono: “Se, por um lado, a qualidade de sono influencia a diabetes, por outro, a diabetes pode também influenciar a qualidade do sono”.

Ou seja, uma pessoa com diabetes pode ter “baixas de açúcar” durante a noite, período em que há “maior risco” de hipoglicemia, e, por isso, dormir menos bem. 

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No caso das pessoas com diabetes tipo 1, que usam bombas de insulina, o facto de se sentirem desconfortáveis por terem as “bombas ligadas ao corpo” pode também, em alguns casos, interferir com a qualidade do sono.

Mas o que é dormir mal?

Francisco Sousa Santos explica que, ao contrário do que é comum pensar-se, dormir mal não significa apenas “dormir pouco”.

Dormir mal é ter “má qualidade do sono”, nomeadamente ter dificuldade em adormecer, em manter o sono, ter padrões alterados, não naturais, como as pessoas que trabalham por turnos.

O “padrão” define que dormir “poucas horas” é dormir menos de seis e dormir “demasiadas horas” é dormir mais de nove. Ou seja, a qualidade do sono é influenciada “tanto para mais como para menos”.

O que distingue a diabetes tipo 1 da diabetes tipo 2?

O endocrinologista consultado pelo Viral explica que há vários tipos de diabetes, mas lembra que, de forma geral, esta é uma doença em que existe “aumento da glicose” em circulação nas artérias e veias.

As pessoas com diabetes têm “maior risco” de outras doenças quando comparadas com a população em geral, indica. Por exemplo, há maior propensão para doenças vasculares por haver excesso de açúcar em circulação.

O médico explica que os órgãos, que têm veias e artérias, “precisam de receber sangue”, sendo que a diabetes “pode afetar esses vasos sanguíneos”.

Como? Por exemplo, a circulação pode ficar afetada nas pernas, pode haver aumento de feridas, maior sensibilidade nos nervos, doença renal crónica e maior risco de enfarte.

Os olhos são dos primeiros afetados em caso de diabetes, sinaliza Sousa Santos, acrescentando que, se os valores estiverem muito altos, o doente pode desenvolver problemas na retina.

Apesar de haver mais tipos de diabetes, como o gestacional, os principais são o “tipo 1 e tipo 2”.

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No tipo 1, o “problema” é a falta de produção de insulina pelo pâncreas. A insulina é como se fosse uma “chave para abrir as células”. Neste caso, “não há chave”, exemplifica o endocrinologista Francisco Sousa Santos.

Este tipo de diabetes aparece, sobretudo, em pessoas “mais jovens”, sem comportamentos de risco.

No tipo 2, que é o tipo de diabetes mais comum, o “principal problema” é a resistência à insulina. Ou seja, “existe chave para abrir, mas a porta está perra”.

A diabetes Mellitus tipo 2 ocorre “habitualmente em idade adulta” e está associada a “excesso de peso e vida sedentária”, refere o Hospital de Santa Maria num texto informativo.

De acordo com a Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM), este tipo representa 90% dos casos das pessoas com diabetes e ocorre, sobretudo, em pessoas com mais de 40 anos com excesso de peso ou obesidade.

A diabetes tipo 2, diz o relatório do Observatório Nacional de Diabetes sobre o ano de 2015, pode ser assintomática, ou seja, pode “passar despercebida por muitos anos”, sendo diagnosticada apenas depois da “manifestação de complicações associadas”.

Sede excessiva, sensação de fome exagerada, urinar frequentemente, visão desfocada, cansaço extremo, feridas que demoram a cicatrizar e dormência nos pés e mãos são alguns dos sintomas da diabetes apontados pela SPEDM.

Qualquer pessoa pode desenvolver diabetes tipo 2, mas, de acordo com o hospital de Santa Maria, há fatores de risco: pessoas com excesso de peso, mulheres que tenham tido diabetes na gravidez ou filhos com mais de quatro quilos, história familiar, pessoas com síndrome metabólica, idosos e ainda pessoas que tomam alguns medicamentos, como corticosteróides.

Este tipo é como um “pacote de doenças”, diz Francisco Sousa Santos: o excesso de peso e escolhas alimentares e de estilo de vida menos boas aumentam o risco da diabetes, acompanhada de outras doenças.

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No texto informativo, o Santa Maria explica que a insulina é uma hormona que controla a entrada de glicose (açúcar) para as células. Quando “não é usada como deveria”, acumula-se no sangue (hiperglicemia), em vez de entrar nas células, o que faz com que estas não consigam “funcionar corretamente”.

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O tratamento da diabetes é “muito diferente” consoante o tipo, diz o especialista consultado pelo Viral. O principal objetivo é conseguir o “controlo metabólico” para o doente ter uma “vida com qualidade”, “evitando ou atrasando complicações crónicas”, é dito no documento do Hospital de Santa Maria, já referido anteriormente.

No tipo 1, em que o corpo não produz insulina, esta tem que “ser dada” na dose certa.

Já no tipo 2, o tratamento varia de caso a caso, mas a “base” é a mudança na alimentação e no estilo de vida, aponta o médico especialista em endocrinologia. Depois, consoante o caso, pode ser necessário “medicação farmacológica”.

A alimentação das pessoas com diabetes deve ser, segundo a Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo, “pobre em gorduras saturadas”, pobre em açúcares de absorção rápida, que causam um rápido aumento dos níveis de glicose no sangue, rica em hortícolas, frutas e fibra e ajustada às “necessidades energéticas da pessoa”.

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28 Fev 2024 - 10:05

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