PUB

Fact-Checks

Sono

“O sono é tão importante que não devemos prejudicá-lo, nem abusar dele”. Conheça os mitos do sono mais difundidos

27 Mai 2022 - 09:00

Sono

“O sono é tão importante que não devemos prejudicá-lo, nem abusar dele”. Conheça os mitos do sono mais difundidos

Devemos dormir cerca de oito horas diárias e o sono não deve ser interrompido, para podermos funcionar bem durante o dia. Isso são factos, mas já sabemos tudo sobre o sono? É verdade que não se deve acordar um sonâmbulo? Podemos compensar horas de sono? O álcool ajuda a dormir melhor? O Viral tirou todas as dúvidas com Miguel Meira e Cruz, médico especialista em perturbações do sono da Clínica São João de Deus.

1. Não se deve acordar um sonâmbulo? É um mito

Miguel Meira e Cruz aponta que não há um consenso científico sobre qual é a melhor abordagem a ter perante um sonâmbulo. Apesar de não ser perigoso e de não desencadear nenhum ataque cardíaco – como se pensa – acordar um sonâmbulo “é na maioria das vezes desencorajado por especialistas, porque nesse estado do sono (designado sono lento), o paciente ao acordar vai ficar provavelmente desorientado”.

“Contudo, indiretamente, o sonambulismo pode perigar a saúde e a vida pela interação com o ambiente dinâmico e pelo risco associado aos perigos no ambiente envolvente (escadas, rua, etc). Por este motivo, a tentativa de conduzir o sonâmbulo à sua cama é a sugestão mais indicada”, realça o médico.

2. Pode-se dormir menos hoje e compensar amanhã? Não é assim que funciona

Dizer-se que se pode compensar horas de sono é, de acordo com o especialista, “altamente inviável, pois o sono que perdemos hoje raramente recuperamos amanhã ou em qualquer dia, por mais tempo que durmamos na sequência ou por melhor que nos possa saber”.

Miguel Meira e Cruz faz a distinção entre o “sono de recuperação” e o sono fisiológico. O sono de recuperação é aquele que temos, por exemplo, após uma semana de trabalho e nos privamos do sono. As funções que o sono fisiológico tem são diferentes, e este ocorre também numa altura diferente (na maior parte das vezes à noite). “Estender o sono em demasia no fim de semana, pode ser efetivamente prejudicial, por exemplo em quem tem insónia frequente ou em quem tem queixas de sonhos frequentes e incomodativos, e até a indivíduos com traços depressivos e associação a pesadelos”. A estas pessoas, a adoção deste tipo de comportamento “vai fazer, muitas vezes, mais mal do que bem”, clarifica o médico.

PUB

Segundo Meira e Cruz, ainda há outra questão a ter em conta, que muitas vezes é desvalorizada: o nosso relógio biológico – que regula funções essenciais tais como o metabolismo, a temperatura do corpo, o sono e os níveis hormonais . Quando nos privamos ou deixamos o sono em más condições afetamos o nosso relógio biológico, que não está preparado para essas mudanças repentinas. Quando, por exemplo, tentamos compensar o sono no fim de semana, esticamos normalmente as horas que dormimos, deitamo-nos tarde e ficamos a dormir até às onze da manhã, meio-dia. “Mas dormir mais essas horas, em termos de relógio biológico – que tem uma grande influência no sono – não é exatamente igual a dormirmos das dez da noite até às seis da manhã”, aponta.

3. Não, beber álcool antes de ir para a cama não ajuda a dormir melhor

“Beber álcool antes de dormir nem mata a sede nem ajuda o sono. O que sucede é que, dependendo do teor alcoólico e da quantidade, aquilo a que chamamos de latência do sono – e que corresponde ao tempo que demoramos a iniciar o estado de dormência cerebral – pode de facto diminuir”, esclarece Miguel Meira e Cruz.

No entanto, é importante perceber que a “dormência não é igual a dormir”. Assim, o sono sob o efeito de álcool é, “como todos os que o experimentaram, sabem”, de fraca qualidade. O médico explica que o sono torna-se mais superficial e mais ruidoso – com ressonar frequente e pausas respiratórias e reduções na oxigenação, com múltiplos despertares e agitação.

4. Quanto mais horas de sono melhor? Não é verdade

O especialista da Clínica São João de Deus defende que há realmente a noção generalizada de que quanto mais se dorme melhor. “Mas os estudos mostram que não é assim: dormir de menos e dormir demais associa-se a um risco de doença e de mortalidade aumentada”. Por isso não se deve ficar “aquém das sete horas e para além das dez horas por noite”, sendo que, para os adultos, o sono ideal ficou estipulado entre as sete e as nove horas diárias.

PUB

Se uma pessoa está a dormir demais, tem de se perceber se isso acontece porque não dorme o suficiente ou se tem alguma doença. Miguel Meira e Cruz aponta que “há seis grupos de doenças principais de sono, que somam cerca de 90 doenças de sono, sendo que algumas são hipersónicas”. Nestes casos específicos, verifica-se uma hiper sonolência excessiva, mas não porque não se dorme adequadamente e sim porque o sono está “avariado”. “O sono é tão importante que não devemos prejudicá-lo nem abusar dele”, conclui.

5. Luzes de presença são inofensivas e não prejudicam o sono? Falso

Muitas pessoas têm o hábito de deixar luzes ligadas (na maior parte das vezes, luzes de presença) no quarto, enquanto dormem. Mesmo que sejam luzes muito fracas, isso danifica a qualidade do sono? Meira e Cruz diz que, em regra geral, sim. “Mesmo que pareçam inofensivas, ao longo da noite o nosso cérebro vai oscilando na capacidade de integrar o estímulo luminoso. É particularmente prejudicial “se esse estímulo for branco ou azul” pois podemos ter mais dificuldade em adormecer e manter o sono.

Além disso, o especialista em perturbações do sono refere que também se sucede o mesmo com os cegos, que mantêm o globo ocular. Isto verifica-se, porque “as células receptoras da luz são distintas daquelas que recebem a visão”.

6. É verdade que nos habituamos a dormir pouco? Claro que não

“É verdade que tudo na natureza tende para a habitabilidade e nós seres humanos adaptamos–nos muito bem. Mas existe, de facto, uma quantidade de sono que não nos podemos privar”, realça o especialista em perturbações do sono. Na opinião de Meira e Cruz, existem pessoas que realmente são mais tolerantes à falta de sono, por isso conseguem responder com aptidão às diversas tarefas a que são submetidas. Mas, mais uma vez, surge o problema do relógio biológico.

PUB

O trabalho por turnos, por exemplo, “é por norma uma agressão enorme ao relógio biológico, ao sono e, por esta influência, à vida. “Quem dorme menos de seis [horas] ou mais de dez aumenta o risco para morbidade e mortalidade cardiovascular. E não nos podemos esquecer de uma coisa importante: nós passámos milhares e milhares de anos a habituarmo-nos a uma vida que é dependente da atividade diurna e do sono noturno”, clarifica o médico.

Categorias:

Bem-estar | Sono

27 Mai 2022 - 09:00

Partilhar:

PUB