Chá de castanha da Índia trata varizes?
O chá de castanha da Índia é apresentado nas redes sociais como um tratamento supostamente eficaz a tratar varizes e outros problemas de saúde relacionados com as veias.
Numa publicação partilhada no Facebook, alega-se que esta infusão é conhecida como um “ativador natural da circulação sanguínea que poderá ajudá-lo no tratamento de problemas venosos”.
O mesmo post remete para um site de venda de produtos naturais em que se escreve que “ao atuar contra a insuficiência venosa, a castanha da Índia ajuda no alívio das dores provocadas por varizes e trata as hemorroidas”, sendo “ideal para quem tem as pernas inchadas, pesadas e cansadas”.
No mesmo texto defende-se que este “chá medicinal é também indicado para os seguintes casos: varicocele, varizes, celulite, dermatite ou cólicas menstruais”.
“As sementes da castanha da índia contêm escina, uma substância capaz de reduzir o inchaço das pernas e ajudar a aliviar a sensação de pernas pesadas, que são sintomas de má circulação”, lê-se noutra publicação publicada no Facebook. Mas será verdade que o chá de castanha da Índia trata as varizes? O que diz a evidência científica?
É verdade que o chá de castanha da Índia trata varizes?
Em declarações ao Viral, Joana de Carvalho, cirurgiã vascular e diretora da Leg Clinic by Allure, adianta que não há evidência científica que prove que o chá de castanha da Índia trata varizes.
Segundo a especialista, há evidência de que um dos compostos da castanha da Índia tem algum benefício nas varizes. Essa substância é a escina, “o princípio ativo da semente”.
Aliás, Joana de Carvalho sublinha que “há, inclusive, pelo menos um fármaco que é de uso habitual e receitado por cirurgiões vasculares que tem este princípio ativo”.
A cirurgiã vascular adianta que existem estudos “que comparam o efeito da escina da castanha da Índia com o placebo” e outros que “comparam o efeito da toma da escina com os sintomas de base” e que mostram uma “melhoria no edema (inchaço)”.
No entanto, a especialista reforça que esta evidência só existe em torno de “medicamentos orais, tomados de forma criteriosa e segundo o receituário”, e não em suplementos ou infusões vendidos em ervanárias, “que não têm qualquer estudo à volta, em termos de dosagem e formulação”, clarifica Joana de Carvalho.
Referindo-se ao chá de castanha da Índia e aos suplementos vendidos em lojas de produtos naturais, a médica esclarece que, “nestas formulações, não sabemos, por exemplo, como o seu componente vai ser absorvido e como vai ser metabolizado”. Por isso, “não há a noção do verdadeiro efeito que vai chegar ao organismo”.
Além disso, a cirurgiã vascular considera importante destacar que os fármacos compostos pelo princípio ativo da castanha da Índia atuam apenas no “alívio sintomático da doença venosa” e não na eliminação das varizes.
Claro que “cada prescrição tem de ser vista caso a caso e tem de ser prescrita pelo médico”, aponta.
Regra geral, acrescenta a médica, os fármacos que contêm escina são “habitualmente bem tolerados”. Os efeitos secundários da toma passam, sobretudo, por “alterações gastrointestinais, náusea e prurido (comichão)”, conclui.
O que são varizes? Quais as causas?
“As varizes, em si, são veias dilatadas e tortuosas”, ou seja, são veias salientes, informa Joana de Carvalho. Estas veias têm este aspeto, porque “não fazem uma drenagem adequada”, esclarece.
Quando se verifica esta condição, estas veias são chamadas de “incompetentes” ou “reflexivas”, “pelo facto de o sangue aí presente voltar para baixo”. Isto origina “a tal sensação de peso e cansaço”.
Questionada sobre as causas das varizes, Joana de Carvalho responde que, na sua perspetiva, “o principal fator é a parte genética”.
Além disso, continua, “há vários fatores adquiridos que podem concorrer para o aparecimento de varizes, principalmente: a obesidade e o excesso de peso; o sedentarismo; determinadas profissões – quem está muito tempo de pé ou quem está muito tempo sentado – e a gravidez”.
Por outro lado, apesar de “a pílula e os contracetivos hormonais poderem contribuir para o agravamento da doença e para o aparecimento de mais varizes, por si só, não condicionam o aparecimento de varizes”, sustenta.
Qual o tratamento eficaz para as varizes?
Em termos de “tratamento conservador”, são receitados “determinados fármacos para o alívio dos sintomas da doença (nomeadamente a castanha da Índia no seu princípio ativo), para a diminuição da inflamação vascular e o uso de meia elástica”, explica.
Em específico, o uso da meia elástica proporciona a “diminuição das veias, pelo controlo da pressão venosa” e “vai ajudar a diminuir o risco de complicações”, como: a “alteração da pele com pigmentação (tromboflebite)”; a “dermatoesclerose”, ou seja, a pele tornar-se “mais fibrótica e mais endurecida”; e o “desenvolvimento de úlceras”.
No entanto, isto não vai eliminar as varizes. Quando se fala na eliminação das veias doentes, o tratamento definitivo só é possível “através de algum tipo de intervenção”, frisa.
Apesar de, tradicionalmente, as veias serem removidas, hoje em dia há intervenções menos invasivas. Segundo a médica, “em vez de remover estas veias doentes, vamos fechá-las por dentro através de laser, radiofrequência ou injeção de espuma (escleroterapia)”.
Este tipo de tratamento “é muito mais confortável e com uma recuperação quase imediata”, aponta Joana de Carvalho.
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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.
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